Voluntariado Empresarial e Programas de Mentoria On-Line

De acordo com o Fundo das Nações Unidas para a População (UNFPA), cerca de 1,8 bilhão dos mais de 7 bilhões de habitantes do planeta têm entre 10 e 24 anos. Calcula-se que, em regiões em desenvolvimento, cerca de 60% dos jovens no mundo não estudam nem trabalham no mercado formal. No Brasil, segundo dados do IBGE, cerca de 14 milhões de brasileiros estão sem emprego sendo que os jovens são os mais impactados, com uma taxa de desocupação de 18,2%.
Diante desse cenário difícil, muitos jovens têm encontrado no Programa Aprendiz a grande oportunidade para ingressar no mundo do trabalho. A Lei de Aprendizagem nº 10.097/2000, ampliada pelo Decreto Federal nº 5.598/2005, estipula que as empresas devem contratar jovens efetivos na condição de aprendizes, com idade entre 14 e 24 anos incompletos, do ensino fundamental, ensino médio ou ensino técnico completo ou cursando. O programa exige que esses jovens façam a complementação educacional em uma entidade de aprendizagem; já as aulas práticas acontecem no ambiente da empresa contratante, que também deve indicar um funcionário qualificado para acompanhar as atividades do jovem, a fim de garantir a melhor formação e desenvolvimento do aprendiz.

Embora represente uma oportunidade gigantesca de inserção de jovens no mercado de trabalho, apenas cerca de um terço do total de vagas possibilitadas pela Lei é cumprido pelas empresas. Isso por conta da dificuldade enfrentada pelas instituições de aprendizagem, especialmente as de pequeno e médio porte, para oferecer uma formação de qualidade aos jovens; do distanciamento entre essas organizações e as empresas contratantes; e da inserção dos jovens em funções e atividades que pouco oferecem em termos de desenvolvimento profissional e comportamental.

Os Programas de Voluntariado Empresariais podem contribuir não apenas com a diminuição da evasão, mas com a melhoria da autoestima e a inserção dos jovens no mercado de trabalho. Uma das estratégias que vem sendo utilizada para encarar esse desafio é a mentoria, tutoria, orientação e/ou aconselhamento. Construída a ponte e a parceria com empresas e organizações da sociedade civil que atuam com programas de profissionalização e de aprendizagem, voluntários passam a ser mentores dos jovens. Essa atividade inicialmente acontecia de maneira presencial, mas para solucionar o baixo engajamento de voluntários, veio a possibilidade de realizar o voluntariado em formato on-line: a mentoria on-line, que vem ganhando espaço e fazendo a diferença nas vidas e carreiras de muitos jovens aprendizes.

Além disso, proporciona aos programas de Voluntariado Empresarial uma possibilidade de atuação diferente, engajadora e inovadora.

Nela, os jovens são orientados por mentores voluntários durante dois ou três meses, em sessões virtuais semanais e em um ou dois encontros presenciais ao longo do processo. O papel do mentor é o de orientar, impulsionar e motivar. Ele compartilha suas experiências e sua trajetória, servindo de inspiração para o jovem. Com os exemplos trazidos, o mentorando é estimulado a assumir o protagonismo na sua vida, aprimora seu autoconhecimento, abre-se a novas possibilidades, expande seus horizontes e diversifica suas redes de interação profissional e social. Durante esse processo, o mentor voluntário ainda tem a oportunidade de desenvolver novas competências e habilidades, além de contribuir de maneira estruturada com o desenvolvimento da comunidade.

Assim como representa uma série de ganhos para mentores e mentorandos, o programa traz também transformações positivas para a OSC ao ampliar consideravelmente a qualidade do seu relacionamento com as empresas, favorecendo assim a absorção desses jovens pelo mercado de trabalho. Por outro lado, as empresas também ganham, tendo a oportunidade de aprimorar a preparação de seus aprendizes, engajar seus profissionais em uma atividade voluntária transformadora, aproximar a empresa da comunidade e contribuir com a melhora do seu clima organizacional.

Muitos programas de voluntariado utilizam mídias sociais e até aplicativos para realizar a tutoria, mas a empresa Ponto Social desenvolveu uma plataforma facilitadora da mentoria on-line. Alguns aspectos que contribuem para o sucesso desse formato é sua característica modular, o trabalho em formação e monitoramento dos resultados. A cada ciclo, uma série de levantamentos é realizada junto aos públicos envolvidos e novas adaptações são feitas em conjunto. É um trabalho importante de cocriação, que visa o engajamento e a apropriação efetiva dos parceiros no processo, para que os resultados sejam de fato alcançados. A evolução do trabalho das duplas ao longo do processo é mensurada em pesquisas qualitativas feitas junto aos participantes no início e no encerramento de cada ciclo.

Com um modelo de voluntariado que une o virtual ao presencial, uma metodologia estruturada e um estilo de parceria de cocriação, os projetos de mentoria social on-line têm gerado valor para todos os envolvidos. Isso é comprovado pelo crescente número de empresas e organizações que os realizam e de jovens que se candidatam ao processo, bem como o alto nível de engajamento dos voluntários, que compreenderam a relevância da iniciativa e sua capacidade de gerar aprendizado e transformação. Assim, é possível aumentar a possibilidade de jovens conseguirem boas colocações no trabalho e reduzir as taxas de desemprego na juventude.