Todos mobilizados para um legado do bem
O Brasil, país sede da 20ª Copa do Mundo da FIFA, não somente sediará este grande evento esportivo. Também existe o desafio de mobilizar a população para se engajar e participar dos programas de voluntariado organizados pela FIFA e pelo Ministério dos Esportes, experiência que já foi vivenciada na Copa das Confederações.
O mundial terá 12 cidades-sede: Belo Horizonte, Brasília, Cuiabá, Curitiba, Fortaleza, Manaus, Natal, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo, e a expectativa de quase 4 milhões de turistas vindos de todas as partes do mundo vai além da participação nos jogos e ultrapassa esses 12 municípios. A Copa do Mundo vai trazer um movimento enorme de turistas, e funcionará como um aprendizado para os brasileiros em termos de melhoria na recepção e atendimento, com consequências positivas à imagem do país.
Isso é percebido com otimismo pela população em geral. Segundo pesquisa apresentada pelo Ibope, 83% dos entrevistados concordam com a assertiva de que, após a Copa, os brasileiros terão ainda mais orgulho do país. A expansão do fluxo turístico, entretanto, depende de fatores condicionantes, entre eles a ampliação e a manutenção das políticas de formação para profissionais do setor de turismo. Nesse sentido, o voluntariado antes e durante o evento esportivo pode funcionar como uma grande escola, que promoverá a qualificação profissional, ganhos culturais e efeitos sobre a renda futura dos envolvidos.
Uma divisão dos voluntários já foi estabelecida e vivenciada: o governo federal será responsável pelo voluntariado visando ao melhor atendimento em aeroportos, pontos turísticos, locais de festas e de transição de espectadores, torcedores e viajantes, enquanto a FIFA cuidará do trabalho voluntário nas áreas oficiais das competições, dentro dos estádios e deslocamentos.
Enquanto na Alemanha, em 2006, 48 mil pessoas se inscreveram como voluntárias (15 mil foram selecionadas para trabalhar) e na África do Sul, em 2010, 70 mil pessoas se inscreveram (18 mil selecionados), na Copa das Confederações, em 2013, a FIFA recebeu mais de 130 mil inscrições de candidatos que desejavam trabalhar voluntariamente. O Ministério dos Esportes, por sua vez, com o Programa Brasil Voluntário, teve cerca de 20 mil inscritos em pouco mais de 24 horas de divulgação nas redes sociais.
Nos últimos dois anos, o Brasil aparece em uma pesquisa mundial realizada pela Charities Aid Foundation (World Giving Index) como um dos 10 países com o maior numero de voluntários. Assim, o interesse dos cidadãos brasileiros em doar tempo, trabalho e talento como voluntário fica evidente. A Copa será mais uma oportunidade de engajamento e de colaboração de cada cidadão sobre sua participação na construção de um evento mais solidário. O voluntário deverá refletir sobre a sua disponibilidade de tempo, bem como suas aptidões, formação, conhecimentos de línguas, experiências profissionais anteriores, para assim melhor aproveitar seus talentos durante o mundial e depois dele. O programa de voluntários é um dos temas fundamentais da área de recursos humanos do torneio. Na Copa do Mundo FIFA África do Sul 2010, os custos para manutenção dos voluntários (envolvendo alimentação, transporte, uniformes etc.) chegou a US$ 14 milhões. Os resultados desse investimento certamente inspirarão projetos e programas futuros, tanto do governo federal quanto da iniciativa privada. E, ainda, esse engajamento e participação são importantes na zeladoria de cada cidade, de seus munícipes, de suas crianças e espaços, para que o legado social deixado por um evento esportivo dessas proporções seja positivo, um “legado do bem”
Os jovens também estão muito interessados nessa participação. A prática do voluntariado deve ser considerada como um elemento facilitador da entrada no mercado de trabalho. De acordo com o Institute for Volunteering Research, do Reino Unido, há evidências crescentes de que o voluntariado pode aperfeiçoar a empregabilidade pelo aumento da autoestima, pela melhora da capacidade de comunicação e trabalho em equipe, pelo aprendizado de línguas, tecnologia da informação, gerenciamento de projetos, entre outros.
A Copa do Mundo de 2014 exercerá, portanto, um papel também formativo para voluntários que desejem entrar no mundo do trabalho. A pesquisa do Centro de Voluntariado de São Paulo (CVSP) e da Rede Brasil Voluntário (RBV), realizada pelo Ibope, apontou que 1 em cada 4 brasileiros com mais de 16 anos faz ou já fez trabalho voluntário, e ainda, que o voluntariado brasileiro é composto por 53% de mulheres e 47% de homens, com idade média de 39 anos. A maioria trabalha (67%), 20% tem ensino superior completo e 38%, ensino médio completo (e/ou superior incompleto). Esses dados são indicativos da formação e do preparo do brasileiro para a Copa do Mundo da FIFA 2014. Em média, os voluntários brasileiros doam seu tempo 3,5 vezes por mês; a maioria realiza atividades apenas uma vez por mês (24%); e 21% declaram realizar trabalho voluntário eventualmente, sem frequência definida. Assim, a Copa do Mundo de 2014 será um espaço para estímulo da atividade voluntária com periodicidade definida e maior frequência.
A vivência durante a Copa das Confederações trouxe a possibilidade de desenvolver todo o processo de escolha das melhores práticas e capacitação de voluntários. No caso da mobilização e gestão do Ministério dos Esportes, em parceria com a Universidade federal de Brasília, foi criado um modelo de programa público de formação de voluntariado com grande alcance popular, que nasceu da integração entre pesquisa, ensino e extensão. O projeto configurou uma ação governamental de grande porte para a implementação de política pública de voluntariado e integrou diferentes conhecimentos para a formação do perfil de voluntário, entre eles: Esporte, Segurança e Primeiros Socorros; Línguas Estrangeiras; Turismo e Hospitalidade. Para a Copa de 2014 entram ainda os conceitos, direitos e deveres do voluntário.
Os cidadãos brasileiros dispostos a doar seu trabalho na Copa de 2014 provavelmente terão de estar bem formados para atuar em harmonia com voluntários estrangeiros. O turismo voluntário vai além das viagens a passeio, e alia a prestação de serviços dirigidos às causas sociais com o desejo de conhecer outras culturas e lugares. Um campo para pesquisas será o empenho desses voluntários estrangeiros e os resultados de seu trabalho, uma vez que a temática é estudada há pouco tempo, embora seja de bastante interesse.
O CVSP também traz a reflexão muito relevante de que todo programa de voluntariado é implantado para criar, melhorar ou ampliar os serviços prestados pela organização, portanto, é necessário realizar um planejamento criterioso. Isso também está sendo levado em conta, e muitas formações e capacitações estão acontecendo para a formação dos gestores dos programas de voluntariado nas cidades-sede. No Brasil, um instrumento de gestão do trabalho voluntário é a Lei 9.608, de 18 de fevereiro de 1998, que caracteriza o voluntariado como a atividade não remunerada prestada por pessoa física à entidade pública, de qualquer natureza, ou à instituição privada de fins não-lucrativos que tenha objetivos cívicos, culturais, educacionais, científicos, recreativos ou de assistência social. Com informações precisas sobre o perfil dos pretendentes a voluntários na Copa, o governo federal poderá tomar decisões acertadas quanto à formação e ao treinamento para o evento.
Segundo pesquisa realizada em 2011, é possível imaginar que a satisfação dos voluntários participantes na Copa será alta, posto que 77% dos que praticam atividades dessa natureza declararam-se totalmente satisfeitos. Existe uma expectativa de fidelização dos voluntários do evento, já que, atualmente, no Brasil, quem exerce atividades voluntárias o faz, em média, há 5,5 anos.
O trabalho voluntário se baseia em relações profundas de compromissos pessoais e, no nível individual, torna-se uma oportunidade para fazer amigos, viver novas experiências e conhecer outras realidades.
Todos podem contribuir para um ambiente festivo e saudável dentro e fora dos estádios. Socialmente, o voluntariado deverá contribuir de maneira decisiva para o legado da Copa do Mundo 2014, seja em termos de imagem do país no exterior, seja na captação de turistas ou no incremento de uma cultura e prática de trabalho voluntário no nosso país, ou seja, no exercício da cidadania da população engajada em garantir a realização de um mundial memorável.