Um longo caminho pela frente

Por: Paula Craveiro
19 Fevereiro 2013 - 23h25

Estudos apontam que o analfabetismo está sendo reduzido no país. No entanto, ainda há muito a se fazer para que o problema seja totalmente solucionado.

Os índices de analfabetismo vêm decrescendo no Brasil nos últimos dez anos, mas ainda são elevados na camada da população com mais de 60 anos, que registra 24,8% de analfabetos. O dado faz parte da pesquisa “Síntese de Indicadores Sociais 2012”, divulgada em novembro pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
De acordo com o estudo, a proporção de pessoas com 15 anos ou mais que não sabem ler e escrever caiu de 9,7%, em 2009, para 8,6%, em 2011. Em 2011, 8,8% dos homens nessa faixa etária eram analfabetos. Entre as pessoas de cores preta ou parda, 11,8% não sabiam ler e escrever, enquanto entre as de cor branca, tal percentual decresceu para menos da metade: 5,3%.
Para o educador Mozart Neves Ramos, conselheiro do movimento “Todos pela Educação”, a queda nas taxas de analfabetismo precisa ser mais expressiva. “De fato, o analfabetismo vem sendo reduzido, mas não na velocidade que o país precisa para alcançar a meta de chegar a 6,7% na faixa de 15 anos ou mais em 2015. Na proporção que vem caindo, na base de 0,3 a 0,4% nos últimos anos, observamos que o esforço tem sido grande, mas ainda é insuficiente”.
Para atingir a meta, é necessário que haja mais investimento em professores especializados em alfabetização, principalmente para ensinar o público adulto, que não tem a mesma facilidade de aprendizado de um estudante jovem. “No percentual de 15 anos ou menos, o país vem atingindo resultados expressivos. As crianças de hoje estão muito mais alfabetizadas do que as de 20 ou 30 anos atrás”, afirma Ramos.
O levantamento do IBGE aponta ainda que, de 2009 para 2011, a taxa de escolarização (percentual de estudantes de um grupo etário em relação ao total do grupo) das crianças entre 6 e 14 anos de idade aumentou em 0,6%, chegando a 98,2%. Já para os jovens entre 15 e 17 anos, o mesmo caiu de 85,2 para 83,7% no mesmo período.
O problema, segundo Ramos, está no grupo de pessoas com 45 anos ou mais, especialmente nas regiões Norte e Nordeste. “É um grande desafio alfabetizar adultos. Qualquer que seja o método, é preciso ter um professor bem formado. Mas é difícil recrutar bons alfabetizadores, porque o salário pago é muito baixo”.
Analfabetismo funcional
O índice de analfabetismo no Brasil vem caindo nos últimos anos graças ao esforço conjunto entre governo, entidades do Terceiro Setor e sociedade civil. No entanto, ainda há muito que se fazer.
Os avanços verificados na população de 15 a 60 anos localizam-se principalmente na transição do analfabetismo absoluto ou da alfabetização rudimentar para um nível básico de habilidades de leitura e matemática. A proporção de brasileiros com essas competências foi a que mais cresceu, passando de 34 para 47% da população no decorrer da década. Entretanto, a alfabetização plena, que supostamente deveria ser atingida ao se completar o ensino fundamental, permaneceu em torno dos 25% no mesmo período.
“Tivemos evolução na escolaridade, há mais pessoas nos ensinos médio e superior, mas isso não garante uma aprendizagem adequada em todos os níveis”, diz Ana Lúcia Lima, diretora executiva do Instituto Paulo Montenegro.
O ganho em anos de estudo não tem correspondido, na mesma proporção, à melhora no domínio das habilidades de leitura, escrita e matemática da população. Mesmo entre as pessoas com ensino superior, o nível pleno de alfabetização fica longe de corresponder à totalidade, abarcando 62% do grupo.
Governo
Nos próximos dois anos, o governo federal investirá R$ 2,7 bilhões para que as crianças sejam plenamente alfabetizadas em língua portuguesa e em matemática até os oito anos, ao final do terceiro ano do ensino fundamental. O investimento faz parte do Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa, lançado em novembro pela presidenta Dilma Rousseff.
De acordo com o Ministério da Educação (MEC), a média nacional de crianças não alfabetizadas aos oito anos chega a 15,2%. Essa taxa alcança índices ainda maiores e, em alguns casos, chega a dobrar, em Estados como Maranhão (34%) e Alagoas (35%). A menor taxa é registrada na região Sul, com 4,9% crianças não alfabetizadas. Para o MEC, o programa é uma prioridade.
Entre os objetivos da pasta está o de garantir a alfabetização e, assim, evitar a futura reprovação de alunos. Segundo o MEC, o impacto da reprovação de alunos, em toda a educação básica, irá de R$ 7 bilhões a R$ 9 bilhões.
Com o pacto, o MEC distribuirá 26,5 milhões de livros didáticos nas escolas de ensino regular e do campo, além de 4,6 milhões de dicionários, 10,7 milhões de obras de literatura e 17,3 milhões de livros paradidáticos.
Ações
Para Isabel Santana, gerente da Fundação Itaú Social, o investimento social privado no Brasil concentra grande parte de seus recursos na área da educação. “Entre as ações que podem ser feitas para melhorar este cenário de analfabetismo no Brasil, podemos citar a possibilidade de sinergia entre institutos e demais entidades focadas na educação de jovens e adultos; a realização de ações estruturadas na mobilização da sociedade para tornar este tema prioridade nos âmbitos públicos; e trabalhar de modo vinculado às políticas educacionais que a Secretaria de Educação vem fazendo”, destaca.
Ela aponta ainda duas questões para refletir sobre este panorama. “Estamos em plena discussão sobre o Plano Nacional de Educação (PNE), que estabelece várias metas, e uma maneira de aprofundar este estudo é observando os dados do Indicador de Alfabetismo Funcional (Inaf).
Segundo o Inaf, os avanços no nível de escolaridade não têm correspondido a ganhos equivalentes no domínio das habilidades de leitura, escrita e matemática. Isso é reflexo da má formação que os estudantes têm no ensino médio, que dificilmente conseguirão recuperar no nível superior”.
A coordenadora do Instituto Ayrton Senna, Inês Kisil Miskalo, afirma que apesar de institutos, fundações e empresas terem ampliado continuamente os investimentos na educação brasileira, é preciso que essas instituições realizem um papel mais importante: expor o quanto o fracasso educacional compromete o desenvolvimento do país, mobilizar vontades e influenciar políticas públicas efetivas e eficazes, capazes de romper o fracasso educacional, notadamente no quesito alfabetização.
“Saber ler, escrever, contar e entender a natureza e seus fenômenos deve fazer parte da formação de crianças e jovens, tanto quanto saber relacionar-se, resolver problemas cotidianos, acessar e selecionar informações e posicionar-se criticamente. É uma tarefa educacional gigantesca e estratégica para o desenvolvimento do país, que vai muito além das habilidades de leitura, escrita e matemática, e que não pode ser responsabilidade apenas dos profissionais da educação ou do setor governamental, mas sim de todos os setores da sociedade. Daí a importância da participação dos institutos, das fundações e das empresas em uma ação de corresponsabilidade social”.
“Tornar o poder público responsável pelo desenvolvimento e resultados é a forma de se garantir prioridades, pois ele deixará de sê-lo no momento em que o ‘problema’ for solucionado”, conclui Inês Santana.

O analfabetismo no Brasil

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