Triste Realidade

Por: Luciano Guimarães
22 Fevereiro 2018 - 00h00

Fundada em 1990 para defender os direitos de crianças e adolescentes, a Fundação Abrinq atua no combate a situações ainda comuns em todo o Brasil, como o turismo sexual, o trabalho infantil, a violência doméstica e a evasão escolar

3030-internaA organização sem fins lucrativos já beneficiou mais de 8,5 milhões de crianças e adolescentes no país, por meio de ações e projetos nos eixos de saúde, educação e proteção.

Tamanha experiência no assunto legitima posicionamentos a respeito da divulgação de dados oficiais, inclusive para contestá-los. Foi o caso da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD) Contínua, divulgada em novembro pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), segundo a qual o trabalho infantil atingia 1,8 milhão de crianças e adolescentes de cinco a 17 anos no Brasil em 2016, sendo que 998 mil atuavam em situação irregular.

"Estes dados apresentados, incluindo as 30 mil crianças e adolescentes na faixa de cinco a nove anos, mascaram a realidade do trabalho infantil no Brasil. As informações precisam ser avaliadas e compreendidas a partir da seguinte mudança metodológica: foram excluídas da coleta de dados sobre trabalho infantil as crianças e os adolescentes que trabalham nas ocupações "produção para o próprio consumo" e "na construção para próprio uso". Nessas ocupações, há uma maior incidência de trabalho infantil abaixo de 13 anos", argumenta a socióloga Denise Maria Cesario, gerente-executiva da Fundação Abrinq, onde atua há 16 anos.

De acordo com a gestora, "a partir dessa mudança metodológica, crianças e adolescentes que trabalham na produção para o próprio consumo e na construção para o próprio uso ficarão excluídas das ações e dos programas de prevenção e erradicação do trabalho infantil, que não consideram trabalhadores infantis crianças e adolescentes nessas ocupações".

Sediada na Vila Nova Conceição, zona sul da Capital paulista, a entidade sempre atuou pautando-se por três documentos fundamentais para guiar este trabalho: Constituição Federal (1988), Declaração Universal dos Direitos das Crianças da ONU (1989) e Estatuto da Criança e do Adolescente (1990).

De lá para cá, a Fundação Abrinq mantém-se com recursos oriundos de fundações nacionais e internacionais, de empresas e indivíduos, e por meio de parcerias estratégicas firmadas com organizações sociais, empresas, voluntários, escolas, poder público e imprensa. Para dar conta de todo o trabalho realizado, a organização conta com orçamento anual girando em torno de R$ 25 milhões e um quadro funcional com 73 profissionais em regime de CLT e 26 estagiários.

Revista Filantropia: Parte das crianças e dos adolescentes acaba indo trabalhar por necessidade e abandona os estudos. Como este problema poderia ser resolvido, embora já tenhamos, por exemplo, programas sociais como o Bolsa Família?

Denise Maria Cesario: Os programas sociais são parte da resolução deste problema, mas ainda é preciso avançar muito em política públicas destinadas às crianças, adolescentes e suas famílias. É necessário que haja investimento em educação de qualidade, criação de espaços onde as crianças possam usufruir atividades que promovam seu desenvolvimento e, principalmente, o proteja. Programas de geração e transferência de renda, escolarização e acompanhamento para as famílias dessas crianças são ações primordiais. Diagnóstico local e implementação de políticas relativas com maior investimento orçamentário, monitoramento e controle social.

Também, que a Lei da Aprendizagem seja efetivada para que adolescentes e jovens ingressem no mercado de trabalho de forma protegida e segura. É imprescindível que os adolescentes e os jovens tenham oportunidades de estudo e profissionalização para que sua inserção ocorra de forma qualificada alcançando seu crescimento profissional, social e econômico.

Filantropia: Outros problemas ainda comuns no país são a ida de crianças para o tráfico de drogas e a exploração sexual de menores de idade, já que aqui é um dos destinos preferidos para o turismo sexual. Como a Fundação Abrinq tem agido para combater essas situações e como vê a atuação do poder público e dos órgãos de Justiça?

Denise: No enfrentamento à exploração sexual de crianças e adolescentes, a Fundação Abrinq trabalha alertando a população para os indicadores e principalmente divulgando os canais de denúncias por meio de campanhas e mobilizações em parcerias com organizações e institutos, empresas e municípios. Também apoiamos as ações realizadas pelas organizações que compõem a Rede Nossas Crianças, que agrega aproximadamente 250 organizações sociais.

Filantropia: Por que o Brasil não consegue garantir os direitos de crianças e adolescentes, se há legislações como o ECA para isso? Quais direitos são mais desrespeitados? O que estaria faltando para se chegar a uma situação positiva?

Denise: Com a promulgação do Estatuto da Criança e do Adolescente, o Brasil avançou em muitos aspectos, como no combate à mortalidade e ao trabalho infantil, na inclusão das crianças na escola, na criação de conselhos de direitos e tutelares e na redução da mortalidade materna.

Mas há ainda muitos desafios para a plena garantia de direitos de crianças e adolescentes: assegurar escola em tempo integral e de qualidade, combater a violência, erradicar o trabalho infantil, fortalecer o sistema de garantia de direitos, entre outros, que requerem a soma de esforços entre governos nas três esferas administrativas, empresas e sociedade civil.

Filantropia: Que projetos atualmente são mantidos pela Fundação Abrinq e como eles têm se refletido na luta pelos direitos de crianças e adolescentes?

Denise: A Fundação Abrinq desenvolve programas e projetos nos eixos da educação, saúde e proteção; está presente em mais de 2.300 municípios e ao longo de 27 anos de atuação já beneficiou 8,5 milhões de crianças e adolescentes.

Os programas e projetos no eixo de direito à educação estão focados no acesso com qualidade das ações de creche e pré-escola e qualidade na etapa do ensino fundamental. No eixo de direito à saúde estamos focados na sobrevivência infantil com ações de formação e sensibilização de profissionais para o acompanhamento pré-natal, redução da mortalidade infantil e na infância, além da segurança alimentar, ações com foco no aleitamento materno, nutrição infantil e alimentação escolar. E no eixo de direito à proteção são desenvolvidos os programa e projetos, com foco no combate ao trabalho infantil e violência, além do fortalecimento da gestão pública (federal e municipal).

Filantropia: Como funciona o Observatório da Criança e do Adolescente, quando foi criado e que resultados práticos têm obtido?

Denise: Criado em 2015, o Observatório da Criança e do Adolescente é um espaço virtual que possibilita a consulta, em um mesmo lugar, dos principais indicadores sociais relacionados direta e indiretamente à infância e adolescência no Brasil. Seu objetivo é organizar as informações e facilitar o acesso a bases de dados de diversas fontes púbicas e privadas sobre população, qualidade de vida e bem-estar de crianças e adolescentes com idades entre zero e 18 anos, permitindo uma análise da evolução das principais políticas, dos desafios e das desigualdades regionais. Destina-se a formadores de opinião, representantes da sociedade civil, pesquisadores, gestores públicos e quaisquer pessoas que queiram, a partir de um simples mecanismo de busca on-line, conhecer a realidade e os problemas sociais que mais afetam as crianças e os adolescentes no país.

Como parte das ações estratégicas da Fundação Abrinq, o Observatório da Criança e do Adolescente constitui um importante instrumento de estímulo e pressão para implementação de políticas públicas e ações que possam responder aos desafios ainda existentes para a consolidação dos direitos assegurados às nossas crianças e adolescentes.

Alguns resultados obtidos são: disseminação dos indicadores sociais monitorados pela Fundação; disseminação da agenda legislativa prioritária da infância e o monitoramento legislativo que a Fundação realiza; publicação da série A Criança e o Adolescente nos ODS – Marco Zero dos Principais Indicadores Brasileiros; publicação anual do Cenário da Infância e Adolescência no Brasil e publicação anual do Caderno Legislativo da Criança e do Adolescente.

Filantropia: Que dificuldades a entidade encontra ao buscar apoio com prefeitos e outros entes do poder público?

Denise: Não buscamos apoio diretamente dos prefeitos, nem de órgãos da administração pública para que nossas ações sejam realizadas. Sensibilizamos e engajamos por meio do Programa Prefeito Amigo da Criança, e após o ingresso dos prefeitos, monitoramos o cumprimento de uma agenda de trabalho que potencialmente pode impulsionar a melhoria dos indicadores sociais que medem a qualidade de vida de crianças e adolescentes e dos processos de gestão local. Os prefeitos, então, passam a ser os responsáveis por exigir de suas equipes o cumprimento dessa agenda, a fim de que ao final do mandato possam ser reconhecidos como Prefeito Amigo da Criança. Dificuldades mais recorrentes: criar processos de planejamento participativos, intersetoriais e de longo prazo. Os gestores querem resultados rápidos para se beneficiarem politicamente e em geral os problemas que afetam o cotidiano das crianças são complexos e dependem de soluções integradas e de longo prazo.

Filantropia: E quanto às empresas, como elas recebem os projetos e como dão seu apoio?

Denise: As empresas podem ser parceiras da Fundação por meio do financiamento de programas e projetos e também participando do Programa Empresa Amiga da Criança, que engaja o empresariado na defesa dos direitos da criança e do adolescente, mobilizando e reconhecendo empresas que realizam ações sociais, combatem o trabalho infantil e promovem ações de estímulo à aprendizagem e inserção ao primeiro emprego.

Nas ações e campanhas de combate ao trabalho infantil e enfrentamento da exploração sexual contra crianças e adolescentes, as empresas são parceiras na divulgação dos materiais aos seus colaboradores, fornecedores e clientes.

Filantropia: A crise econômica do país refletiu negativamente na arrecadação da entidade?

Denise: Afetou todos os setores da economia, inclusive as organizações sociais que vivem de doações de pessoas físicas ou de empresas. Sentimos este impacto na nossa arrecadação e nas organizações sociais parceiras que realizam atendimento direto às crianças, impacto que alcançou todos os setores do país e trouxe desafios no fazer e na necessidade de otimização de recursos.

Filantropia: A Fundação atua diretamente com o público final, ou seja, crianças e adolescentes? Se sim, quais os números desse atendimento? A entidade costuma receber denúncias? Se sim, como age?

Denise: A Fundação Abrinq não realiza o atendimento direto, mas atua com organizações sociais que realizam este atendimento. Alguns dos nossos programas e projetos têm como objetivo apoiar técnica e financeiramente organizações sociais para que possam fortalecer e qualificar o atendimento oferecido. Além disso, por meio do engajamento de profissionais de saúde para atuação de forma voluntária, ampliamos a possibilidade de promoção de vidas saudáveis. Já beneficiamos, com nossas ações ao longo de 27 anos, mais de 8,5 milhões de crianças e adolescentes.

Não somos um órgão de denúncia, mas as pessoas que nos procuram são orientadas a buscar os órgãos competentes para que sejam apuradas e encaminhadas de forma adequada, como os conselhos tutelares, os disque-denúncias etc.

LINK: http://www.fadc.org.br

 

Tudo o que você precisa saber sobre Terceiro setor a UM CLIQUE de distância!

Imagine como seria maravilhoso acessar uma infinidade de informações e capacitações - SUPER ATUALIZADAS - com TUDO - eu disse TUDO! - o que você precisa saber para melhorar a gestão da sua ONG?

Imaginou? Então... esse cenário já é realidade na Rede Filantropia. Aqui você encontra materiais sobre:

Contabilidade

(certificações, prestação de contas, atendimento às normas contábeis, dentre outros)

Legislação

(remuneração de dirigentes, imunidade tributária, revisão estatutária, dentre outros)

Captação de Recursos

(principais fontes, ferramentas possíveis, geração de renda própria, dentre outros)

Voluntariado

(Gestão de voluntários, programas de voluntariado empresarial, dentre outros)

Tecnologia

(Softwares de gestão, CRM, armazenamento em nuvem, captação de recursos via internet, redes sociais, dentre outros)

RH

(Legislação trabalhista, formas de contratação em ONGs etc.)

E muito mais! Pois é... a Rede Filantropia tem tudo isso pra você, no plano de adesão PRATA!

E COMO FUNCIONA?

Isso tudo fica disponível pra você nos seguintes formatos:

  • Mais de 100 horas de videoaulas exclusivas gratuitas (faça seu login e acesse quando quiser)
  • Todo o conteúdo da Revista Filantropia enviado no formato digital, e com acesso completo no site da Rede Filantropia
  • Conteúdo on-line sem limites de acesso no www.filantropia.ong
  • Acesso a ambiente exclusivo para download de e-books e outros materiais
  • Participação mensal e gratuita nos eventos Filantropia Responde, sessões virtuais de perguntas e respostas sobre temas de gestão
  • Listagem de editais atualizada diariamente
  • Descontos especiais no FIFE (Fórum Interamericano de Filantropia Estratégica) e em eventos parceiros (Festival ABCR e Congresso Brasileiro do Terceiro Setor)

Saiba mais e faça parte da principal rede do Terceiro Setor do Brasil:

Acesse: filantropia.ong/beneficios

PARCEIROS

Incentivadores
AudisaDoação SolutionsDoritos PepsicoFundação Itaú SocialFundação TelefônicaInstituto Algar de Responsabilidade Social INSTITUTO BANCORBRÁSLima & Reis Sociedade de AdvogadosQuality AssociadosR&R
Apoio Institucional
ABCRAbraleAPAECriandoGIFEHYBInstituto DoarInstituto EthosSocial Profit
Parceiros Estratégicos
Ballet BolshoiBee The ChangeBHBIT SISTEMASCarol ZanotiCURTA A CAUSAEconômicaEditora ZeppeliniEverest Fundraising ÊxitosHumentumJungers ConsultoriaLatamMBiasioli AdvogadosPM4NGOsQuantusS&C ASSESSORIA CONTÁBILSeteco Servs Tecnicos Contabeis S/STechsoup