Tecendo o futuro com linhas presentes

Por: Felipe Mello, Roberto Ravagnani
01 Julho 2004 - 00h00

Em 1993, um grupo de casais recebeu um convite muito especial do Padre Júlio Lancellotti, notório líder social, voltado principalmente a causas ligadas às crianças HIV positivo. O desafio era construir e mobiliar uma nova unidade da Casa Vida, a fim de que os adolescentes pudessem ter espaço diferenciado, em ambiente separado das crianças menores. Dessa forma nasceu o projeto Reviver, composto inicialmente por

17 sócios e registrado como Associação de Apoio à Criança HIV Positivo. “O respeito à causa e a vontade de fazer a diferença nortearam o empreendimento social desde o princípio. Assistimos a diversas palestras e reuniões científicas, com temas relacionados à Sida (síndrome de imunodeficiência adquirida, tradução da sigla Aids, em inglês), para tornar o grupo de sócios homogêneo com relação à realidade da missão a ser cumprida”, informa Pedro Fazio, atual presidente do Reviver.

Nos 11 anos de atuação recém-completados, a organização não só concluiu a construção da Casa Vida II, como também empreendeu outros projetos, sempre com o objetivo de dar apoio à criança e ao adolescente soropositivos, por meio da sustentação, abrigo, qualidade de vida para seu adequado desenvolvimento, sem distinção de raça, cor, sexo, condição social, credo ou situação política.

Desde 1995, a entidade mantém um ambulatório interdisciplinar, que atende atualmente 60 crianças e jovens nas áreas de psicologia, fonoaudiologia, odontologia, ortodontia e nutrição. “Além disso, participamos de campanhas, doações e atendimentos a projetos especiais em benefício de diversas entidades, como a Casa Vida I, Casa Vida II, Sítio Agar, Amigos da Vida, Tenda de Cristo, Pequeno Príncipe, Associação Esperança e Vida, Projeto Incentivo à Vida, Lalec, Centro de Convivência Infantil, Aldeia Líber Vida, Cefran, Associação Boa Esperança e Praids”, lembra Fazio. O rol de atividades do Reviver explicita o compromisso de trabalhar com o atendimento direto ao público-alvo, assim como o fortalecimento de uma rede de organizações que atuam com a mesma causa, potencializando resultados.

Tecer o futuro

Uma iniciativa de destaque dentro do Reviver é o projeto Tecer o Futuro, viabilizado em função de uma parceria entre a organização e o Unicef. O programa busca melhorar a qualidade de vida das crianças e adolescentes soropositivos por meio de sua inclusão na sociedade. “O objetivo geral é promover a forma-

ção de uma rede de profissionais que os inclua na sociedade, priorizando sua permanência na família e garantindo seus direitos fundamentais”, ressalta o presidente da entidade.

A formação da rede pretende convidar atores sociais estratégicos – profissionais das áreas de educação, justiça, saúde e assistência social – para uma reflexão sobre a inclusão social dos jovens que vivem com HIV. “É a procura por um ‘novo olhar’, essencial para a transformação na forma de lidar com nosso público atendido”, informa Pedro.

Já o fortalecimento dos laços familiares é importante para gerar condições de sustento e segurança, evitando a institucionalização, ou seja, a dependência contínua de uma organização social, além de ser determinante para a inclusão social desses jovens como cidadãos, protagonistas no exercício pleno da própria cidadania.

A parte educacional do projeto Tecer o Futuro apresenta uma iniciativa denominada Fala Sério!, cujo cenário são escolas de ensino médio da cidade de São Paulo que possuam em seu corpo estudantil alunos soropositivos. O Fala Sério! trabalha de maneira interativa para conscientizar educadores e educandos sobre a questão do preconceito e informar adolescentes sobre a prevenção e temas relacionados à sexualidade: a partir do teatro de bonecos tenta-se provocar reflexão e mudança de atitude no que diz respeito às doenças sexualmente transmissíveis e a Aids. “Em 2003, a iniciativa atingiu 2.676 jovens entre 14 e 21 anos”, comemora Fazio.

Jovem protagonista

Também ligado ao Tecer o Futuro, o programa Jovem Protagonista, fruto de parceria entre o Reviver e a Associação de Apoio ao Programa de Capacitação Solidária (AAPCS), visa educar para o trabalho, com módulos que possibilitem ao jovem a reflexão sobre o empreendedorismo juvenil, a cidadania e a participação social. “Ele também possibilita o conhecimento e aprendizado nas competências básicas relacionadas às práticas administrativas, especialmente para o promissor mercado do Terceiro Setor”, esclarece Pedro Fazio.

No início de 2004 foram selecionados 30 jovens com idades entre 16 e 21 anos, oriundos do projeto Tecer o Futuro, bem como adolescentes vinculados a casas de apoio e centros de referência, uma vez que os jovens que participam do programa encontram-se na condição de portadores do vírus HIV ou vivenciam tal realidade com familiares ou amigos.

Conhecendo por dentro

O Reviver investe no voluntariado como forma de agregar competências aos trabalhos que realiza. “Uma vez que somos uma organização pequena, os voluntários são recebidos pelas próprias coordenadoras dos programas, especialmente do ambulatório e do Tecer o Futuro”, denota Pedro. Essas profissionais apresentam a missão da entidade, assim como suas atividades e objetivos, e explicam o que é ser um voluntário em iniciativas relacionadas à causa. Além disso, o voluntário preenche um cadastro, conhece a Lei do Voluntariado e assina o termo de adesão ao trabalho voluntário, instrumento indispensável para uma relação sadia e transparente entre as partes. “Após o início do trabalho, o voluntário continua tendo um acompanhamento dentro da organização. Isso é decisivo para a motivação e o aprendizado contínuo”, completa o presidente.

Quando o assunto é sobre os funcionários do Reviver, Pedro afirma que existe “uma preocupação constante com o processo de capacitação, seja pela participação em eventos, palestras e seminários, ou com o comparecimento em cursos que envolvam temas atuais relacionados à causa”. Não restam dúvidas de que o profissionalismo e o conhecimento são caminhos para a evolução do Terceiro Setor, pilares para a construção de ações sociais eficientes, transformadoras e sustentáveis.

A captação de recursos da organização se dá por meio de eventos, jantares, bazares e doações de pessoas físicas e jurídicas. A entidade passa, hoje, por certas necessidades urgentes: “Precisamos de equipamentos de informática, como computadores e impressoras, e alimentos, especialmente não-perecíveis”.

Dentre os maiores desafios da organização, o destaque ainda é o preconceito, assim como a empregabilidade dos jovens soropositivos. “Dentro dos nossos programas, especialmente o Fala Sério!, percebemos que ainda existe muito a ser feito, já que o preconceito existe e é latente”.

Na busca pelo sucesso em suas atividades, o compromisso, a transparência e a credibilidade dão o tom dos trabalhos do Reviver. “É a forma que conhecemos para atingir nossas metas. Só assim podemos satisfazer nosso público interno e externo”, ressalta o presidente da organização.

Dentre os maiores desafios da organização, o destaque ainda é o preconceito, assim como a empregabilidade dos jovens soropositivos

NÚMEROS DO REVIVER
  • 11 anos de existência
  • 2676 jovens atendidos pelo Fala Sério! em 2003
  • 70 professores participaram das reuniões de rede do Tecer o Futuro
  • 39 famílias atendidas atualmente pelo Tecer o Futuro
  • 350 atendimentos por mês no ambulatório

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