Marco lógico: um amigo com muitas caras

Por: Edson Marinho
31 Maio 2021 - 00h00

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Uma das principais diferenças entre um projeto social ou humanitário e um projeto de outros setores (engenharia, tecnologia da informação, infraestrutura, empresarial) é a sua razão de existir, como apresentamos na matéria “Estamos Desenvolvendo o Projeto Certo?” (Revista Filantropia Edição 86). No caso dos projetos comerciais e empresariais, esta razão de existir é traduzida em um Business Case, a visão e justificativa do projeto de uma perspectiva do negócio.

Nos setores de desenvolvimento social e humanitário, a razão de existir do projeto surge a partir da identificação das necessidades e prioridades do público beneficiário, permitindo desenhar qual transformação positiva será buscada com o projeto e como a intervenção pretende atender estas necessidades. Estas informações são sistematizadas no Marco Lógico.

O Marco Lógico se tornou uma ferramenta universalmente utilizada pelas organizações sem fins lucrativos, é exigida pela grande maioria dos doadores e é o primeiro documento solicitado no momento de realizar a avaliação de um projeto.

O propósito do Marco Lógico é descrever as atividades de um projeto, os resultados de curto prazo, o objetivo de médio prazo – normalmente a mudança que se espera alcançar no público-alvo com a sua conclusão, e os impactos de longo prazo – para os quais o projeto apenas contribui mas não alcança totalmente, sendo necessário um conjunto de iniciativas para alcançá-los.

A abordagem do Marco Lógico foi elaborada em 1969 para a U.S. Agency for International Development (USAID) , baseada em um estudo global realizado por Leon J. Rosenberg. O Project DPro (PMD Pro 2ª edição) define o Marco Lógico como a ferramenta que identifica e comunica as relações lógicas em um projeto, mapeando a lógica vertical e horizontal que conecta os níveis da matriz.

De uma forma mais simples, o Marco Lógico é um retrato ou visão geral do projeto. É uma ferramenta capaz de apresentar em uma única folha de papel seu objetivo e impactos, quais atividades e resultados serão desenvolvidos, quais são os indicadores (metas) e como serão mensurados, e que hipóteses e potenciais riscos devem ser observados.

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Lógicas, lógicas, lógicas

As relações entre os elementos em cada nível do Marco Lógico ilustram as lógicas vertical e horizontal que resultarão em alcançar o objetivo do projeto. Em outras palavras, se as atividades receberem os recursos apropriados e forem realizadas, elas produzirão os resultados. Estes, por sua vez, se produzidos corretamente, alcançarão o objetivo. E por fim, o objetivo alcançado contribuirá para o impacto do projeto.

Por exemplo, atividades de treinamento em gestão de projetos terão como resultado profissionais mais capacitados e uma equipe que adota boas práticas no gerenciamento dos projetos. Através dessas atividades e resultados, pode-se alcançar o objetivo: projetos mais estruturados e com documentação e ferramentas padronizadas. Este objetivo contribuirá para maiores chances de sucesso dos projetos (impacto). Essa é a lógica vertical.

A lógica horizontal prevê que, para que os resultados sejam alcançados, não basta realizar as atividades: algumas condições devem estar presentes – as hipóteses descritas nos pressupostos. Essa relação se repete entre resultados e objetivo, e entre objetivo e impacto.

No exemplo anterior, para que o objetivo seja alcançado (projetos mais estruturados e padronizados), devemos pressupor que a organização adotará as boas práticas nas quais os profissionais foram treinados, e que toda a equipe da organização será treinada.

As muitas “caras” do Marco Lógico

O marco lógico pode parecer algo difícil de entender, principalmente porque parece que todo doador e organização usa uma versão diferente. Porém, as diferenças entre o marco lógico de organização para organização geralmente são apenas terminológicas. A lógica vertical e horizontal permanece a mesma, independentemente dos termos usados para descrever cada nível.

A tabela na página seguinte mostra os termos utilizados por diferentes organizações para cada nível do Marco Lógico:

Porém, mesmo com tantas “caras”, a grande maioria das organizações compreende o Marco Lógico segundo as mesmas lógicas vertical e horizontal. A USAID descreve sua lógica como “Se-Então”, em que cada componente gerenciado de forma correta (se) levará a alcançar o componente imediatamente superior (então). A União Europeia e FAO seguem uma definição semelhante à da USAID, enquanto o Banco Mundial denomina a lógica vertical de pensamento sequencial e a lógica horizontal de pensamento causal.

Por fim, apesar da quantidade de níveis variar entre 4 e 6 em outros modelos de Marco Lógico, eles podem ser “traduzidos” e conectados. Algumas organizações adicionam um nível anterior à atividade (entrada ou recursos), enquanto outras dividem um nível em dois componentes, que podem ser agregados para efeito de comparação ao modelo do Project DPro (PMD Pro).

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Erros mais comuns

Independentemente de qual modelo seja utilizado, atividades devem levar a resultados, que levam ao objetivo, que contribuem para o impacto. Um erro comum é inserir atividades (e resultados) em um Marco Lógico que não se relacionam com os níveis superiores – simplesmente porque precisam-se de recursos para implementá-las.

Por exemplo: em um projeto com foco no desenvolvimento de empreendedorismo em jovens e adolescentes, esperam-se atividades de capacitação em educação financeira, planos de negócio, cooperativismo, entre outras. Porém, durante a elaboração de uma proposta, pode-se cometer o equívoco de incluir atividades de esporte porque o proponente precisa de recursos para estas atividades – que estão completamente fora da lógica de intervenção, mesmo que desenvolvidas para o mesmo público-alvo.

Outro erro cometido com frequência é assumir que os componentes de todos os modelos requerem o mesmo formato de escrita ou nível de detalhamento. Uma organização pode exigir que um componente seja escrito na forma de ação (elaborar, treinar, capacitar, desenvolver) enquanto outra organização exige que o mesmo componente seja escrito na forma de entrega (elaborado, treinados, capacitados, desenvolvido).

O detalhamento exigido por cada organização também pode variar. Há desde aquelas que solicitam definições concisas e simples até as que solicitam quantidade, datas, e características detalhadas, sejam na descrição do nível ou em outros itens, como indicadores e fontes de verificação.

Qual modelo adotar?

Assim como em qualquer ferramenta ou técnica de gerenciamento de projetos, devem-se adotar terminologia, formato, quantidade de componentes e detalhes que melhor se adequam à sua organização e equipe. Pode-se tomar como base boas práticas amplamente utilizadas, como o Project DPro (PMD Pro), ou mesmo elaborar um modelo próprio a partir de uma organização como USAID ou Nações Unidas. O mais importante é que todos na equipe e na organização tenham o mesmo entendimento de cada componente do Marco Lógico.

Uma vez desenvolvido o modelo de Marco Lógico de sua organização e equipe, pode-se elaborar um “dicionário de Marcos Lógicos”, como no exemplo apresentado neste artigo que compara o Project DPro, USAID, União Europeia, Banco Mundial e FAO. Esse dicionário apontará a correspondência de cada componente utilizado pela sua organização e por aquelas com a qual se relaciona através do envio de propostas ou troca de conhecimento.

Desta forma, o Marco Lógico de cada projeto de sua organização apresentará a mesma linguagem, sendo “traduzido” quando for necessário enviar uma proposta ou um relatório para um doador ou outra organização. Esta linguagem padrão fará com que a documentação do projeto seja coerente com todos os outros projetos da organização e facilmente compreendida por membros de qualquer equipe, tenham eles participado ou não de sua elaboração.

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