Simpósio debate funk como patrimônio imaterial tombado do Rio
O funk como patrimônio imaterial tombado do Rio de Janeiro e fenômeno expressivo da sociedade é tema do 2º Simpósio de Pesquisadores do Funk Carioca – Música, Território, Juventude e Identidade, que começou hoje (12) e vai até quinta-feira na Faculdade de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e no Centro de Artes da Maré. A professora Heloísa Buarque de Holanda abriu o evento e destacou o papel irradiador da periferia no contexto contemporâneo
Para o pesquisador Paulo Roberto Tonani do Patrocínio, da Faculdade de Letras da universidade, os estudos sobre o gênero musical já ultrapassaram o entendimento do fenômeno antropológico e alcançaram a análise estética da expressão artística. Ele considera que a mudança de área do conhecimento dos estudos mostra a evolução da abordagem sobre o tema.
Assim como o funk, diz o professor, o samba também começou marginalizado por ser uma expressão de negros e da favela. “O samba foi questionado e combatido e o funk vivencia um processo semelhante. É um processo histórico, ainda há a permanência desse sentido pejorativo que tem uma leitura crítica, no primeiro momento, dessas manifestações oriundas das favelas e ligadas ao negro. Não é só a academia que diz isso, os próprios produtores têm uma consciência muito grande dessa relação de perseguição e também de crítica a esse discurso que se origina nas favelas”, afirma o pesquisador.
Para o fotógrafo Bira Carvalho, morador do Complexo da Maré, que apresentou um projeto sobre os trabalhadores nos bailes, o funk movimenta a economia da favela. “O funk gera uma renda para a comunidade, gera para o gelo, para o rapaz que vende a bebida, que vende a água, gera renda para o salão de beleza, a questão da unha, do cabelo, o barbeiro, ele gera renda na questão da roupa”.
Bira afirma que o baile funk é a única opção de lazer para o jovem da favela e, como patrimônio, está legalizado, e continua ocorrendo nas comunidades de Nova Holanda e Parque União. Para ele, a quantidade de estudos desenvolvidos ajudam a reforçar a importância do ritmo e dá legitimidade enquanto expressão social e artística.
“O simpósio é importante, porque não está só na fala de antropólogo e de estudioso da academia, mas abre espaço para o morador falar, com a visão peculiar do morador. Então, a soma desses conhecimentos é que faz com que esses estudos tenham relevância. E o estudo, por si só, fortalece o movimento que é discriminado pela sociedade, pela polícia. Quando entra na academia aquilo se torna relevante, não é mais um “achismo”, não é uma questão de frequentar o evento. É uma questão de estudo”.
O encerramento do encontro ficará a cargo da pesquisadora Ivana Bentes, da Escola de Comunicação da UFRJ, e atual secretária de Cidadania e Diversidade Cultural do Ministério da Cultura. A programação completa está disponível no sitehttp://www.metaeventos.net/funk2015/
Fonte: Agência Brasil
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