Ruth Cardoso

Por: Daniela Tcherniacowski
01 Julho 2004 - 00h00

Presidente do Conselho do Programa Comunidade Solidária entre 1995 e 2002, Dona Ruth Cardoso conseguiu uma façanha que muitos que lutam pela melhoria das condições sociais de um país ainda sonham ver concretizada: a união de governo, sociedade civil, universidades e empresas no combate à pobreza e exclusão social.

Com base em programas de educação como fatores-chave da transformação social de populações carentes, a antropóloga foi responsável pela alfabetização de mais de 3 milhões de pessoas em todo o Brasil e por levar educação de qualidade a locais mais longínquos e isolados do país.

Para garantir a continuidade das estratégias de fortalecimento da sociedade civil e de desenvolvimento social promovidas pelo Comunidade Solidária, criou, em 2001, a Comunitas.

Difundir a metodologia dos programas existentes, promover novos projetos, oferecer consultoria a empresas na área da responsabilidade social, produzir conhecimento e participar do debate sobre políticas sociais são as principais metas da ONG presidida por Dona Ruth. Com trabalho reconhecido internacionalmente e know-how de sobra na área social, ela prevê um futuro mais promissor para as entidades do Terceiro Setor, como mostra a entrevista a seguir.

Revista Filantropia: Como a senhora vê as entidades de Terceiro Setor no Brasil? Quais as maiores conquistas e também desafios?

Ruth Cardoso: Houve não só uma expansão, mas també m um amadurecimento do Terceiro Setor no Brasil nos últimos dez anos. Com isso as entidades estão muito mais estruturadas, determinadas e focadas em seus objetivos. Elas cresceram, se profissionalizaram e seguem rotinas muito parecidas com as estruturas de empresas, o que possibilita um atendimento ainda maior do que se supunha há muito pouco tempo. Uma das maiores conquistas foi a mobilização do setor para discutir e demandar uma legislação mais adequada e uma participação importante em apoio à lei que criou as OSCIPs. Esta ação permitiu formas novas de parceria entre o Estado e o Terceiro Setor, criando o Termo de Parceria. Além disso, o reconhecimento legal do trabalho voluntário ampliou o espaço para a atuação do setor social e garantiu um grande instrumento de participação.

Já os desafios são vários. Os principais dizem respeito ao envolvimento da comunidade e de setores importantes como as várias esferas de governo. Também é preciso ampliar as oportunidades de capacitação de recursos humanos para aumentar a eficiência do Terceiro Setor.

Filantropia: Quais os empecilhos e dificuldades para se manter programas sociais?

RC: A resposta simplista seria dizer que a falta de recursos é o maior empecilho para a manutenção de um programa social. Mas, as dificuldades não são apenas financeiras. Houve grande mudança nas formas de atuação do Terceiro Setor e, atualmente, acho que o mais importante para o sucesso é o trabalho em parceria, a execução descentralizada e a avaliação do desempenho.

Filantropia: O que é preciso para o setor social brasileiro se fortalecer?

RC: Deve haver mais reconhecimento do papel desempenhado pelo Terceiro Setor e de seu alcance. No Brasil ainda é corrente atribuir todos os problemas a falhas do governo e, ao mesmo tempo, esperar dele as soluções. No mundo contemporâneo, a sociedade civil tem trazido imensa contribuição com novas experiências e metodologias criativas que modificam as práticas tradicionais de enfrentar os problemas sociais. Para fortalecer esse setor, precisamos reconhecer seu espaço e fortalecê-lo institucionalmente.

Filantropia: É possível acabar com o analfabetismo e oferecer educação de qualidade no país?

RC: Isso já vem sendo demonstrado, mas não se tem como esperar revoluções nessa área. O trabalho é lento e os resultados custam a mostrar efeitos, mas os indicadores mostram que houve progresso e que podemos progredir mais rápido se planejarmos e avaliarmos resultados, trabalhando com projetos não assistencialistas e contínuos.

Filantropia: Porque é tão difícil, no Brasil, o Estado dar andamento a programas sociais de êxito? Como se insere o papel das organizações da sociedade civil nessa questão?

RC: A questão não é saber se o programa é governamental ou não para avaliar sua eficácia. Existem programas governamentais muito bons, como, por exemplo, o programa de combate à Aids/HIV, o de merenda escolar etc. Muitos poderiam ser citados, e outros tantos criticados, porque a verdadeira questão não é a natureza governamental ou civil das ações, mas sua metodologia e sustentabilidade. Existem programas executados pela sociedade civil que são ineficientes. O bom planejamento e as parcerias são instrumentos de aperfeiçoamento e de bons resultados.

Filantropia: Qual a opinião da senhora sobre o movimento de responsabilidade social empresarial?

RC: Houve rápido progresso no engajamento das empresas no combate à pobreza, na defesa do meio ambiente e de direitos dos cidadãos. Hoje contamos com o apoio financeiro das empresas, além da participação dos empresários, que colocam as próprias capacidades gerenciais à disposição das atividades não lucrativas.

Filantropia: Como fazer para que parcerias entre iniciativa privada, Terceiro Setor e órgãos governamentais tenham sucesso e sejam duradouras?

RC: As parcerias são importantes porque garantem a continuidade dos projetos. Uma verdadeira parceria supõe consenso sobre os objetivos e as metas e, por isso mesmo, não segue outro calendário que o dos resultados. Quando há apenas colaboração entre diferentes agentes, o projeto não é facilmente sustentável, porém, quando se formam parcerias entre atores distintos com finalidades semelhantes, é mais fácil manter o projeto.

Filantropia: Qual foi a experiência dessas parcerias para o Comunidade Solidária? E para a Comunitas?

RC: Todos os projetos desenvolvidos pelo Comunidade Solidária foram construídos a partir de parcerias. Universidades, municípios, empresas, organizações da sociedade civil e órgãos governamentais estiveram e estão envolvidos nesses projetos como atores, e não como coadjuvantes, garantindo sua autonomia e colaborando para os propósitos comuns. A Comunitas foi criada para dar continuidade a essa concepção e às parcerias já desenvolvidas.

Filantropia: Quais os principais projetos da Comunitas em andamento?

RC: Demos continuidade a todos os projetos iniciados pelo Conselho do Comunidade Solidária, porque as parcerias se mantiveram em razão dos bons resultados obtidos. A Comunitas tem como missão promover o conhecimento sobre as metodologias experimentadas e uma nova visão de desenvolvimento social que promova o aperfeiçoamento do capital social disponível nas comunidades.

PRINCÍPIOS E VALORES QUE NORTEIAM A COMUNITAS
  • Combater a pobreza não é transformar pessoas e comunidades em beneficiários passivos. É fortalecer sua capacidade ra tomar iniciativas e resolver problemas e, desse modo, melhorar sua qualidade de vida.
  • O diálogo e a parceria entre múltiplos atores ampliam os recursos e as competências necessários à promoção do desenvolvimento social.
  • Programas que pretendem promover mudanças sustentáveis têm de ter execução descentralizada.
  • Monitoramento e avaliação de resultados integram o planejamento de programas inovadores.

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