Reforço no caixa

Por: Luciano Guimarães
01 Setembro 2009 - 00h00

Pense em um condomínio, não importa se grande ou pequeno. Apenas tente imaginar como seria possível para o síndico administrá-lo se o dinheiro recolhido dos moradores terminasse antes de conseguir fazer tudo o que precisa. Das duas, uma: ou a verba está sendo equivocadamente aplicada ou não há recursos suficientes – talvez por inadimplência – para fechar o mês.

A mesma analogia se aplica à relação que as organizações sociais mantêm com os valores que entram e saem de seus caixas, atividade que deve se pautar por honestidade, ética e transparência. Da mesma forma que um condomínio, as instituições devem prestar contas a todos os atores envolvidos: ao governo, às pessoas que as ajudam financeiramente e até aos voluntários que nela atuam – em outras palavras, controle e fiscalização são essenciais.

As instituições sem fins lucrativos têm quatro maneiras de angariar recursos. Podem receber verbas – dependendo do segmento em que atuam – utilizando em seu favor, entre outras, leis como a Rouanet (cultura) e as que regulam os Fundos Municipais da Criança e do Adolescente (Fumcad); receber dinheiro de empresas patrocinadoras e de pessoas físicas; por meio de convênio com o Poder Público; e, por último, gerando renda própria, promovendo eventos beneficentes, como bingos, bazares, festas juninas, alugando espaços próprios para festas etc.

No caso efetivo dos recursos obtidos, em especial as doações recebidas, é prioritário que haja uma gestão financeira objetiva, se possível com o auxílio de um profissional ou empresa especializada. Muitas consultorias, auditorias e escritórios de advocacia prestam serviços pro bono, ou seja, trabalho voluntário realizado conforme as competências profissionais de quem presta o serviço.

Os administradores podem optar ainda pela formatação de um cronograma de gastos bem detalhado, no qual constem vários itens: destinação (departamento, setor ou repasse), necessidade (tipo de problema a ser sanado), valor a aplicar (orçamentos – ideal que sejam realizados ao menos três diferentes), objetivo (o que se pretende alcançar e quais benefícios trará), tempo para conclusão e resultados práticos (espécie de pós-venda, para se acompanhar o nível de satisfação dos públicos interno e externo).

As organizações também encontram outros caminhos para multiplicar o caixa, destinando sobras de recursos a aplicações como poupança e fundos de investimentos. Os preferidos são os Certificados de Depósito Bancário (CDBs), que têm prazo mínimo de aplicação para resgate e podem render juros mais atraentes.

“Há uma legislação bem definida sobre doações e, paralelamente, uma maior exigência das fontes financiadoras sobre a gestão e a prestação de contas, o que evita muitas distorções no uso dos recursos”, argumenta Mauricio Homma, coordenador de responsabilidade social da Universidade Anhembi Morumbi. “Em alguns casos, os problemas decorrem de deficiências administrativas, por falta de entendimento correto ou de procedimento administrativo adequado ou, ainda, pela ausência de um plano claro de indicadores de resultados e de avaliação sistemática de processo do projeto”.

Como fazer

Um exemplo bem acabado de como administrar bem as verbas doadas é a Associação Saúde Criança Renascer, organização de grande porte situada no Rio de Janeiro. Reconhecida internacionalmente pelo atendimento a famílias carentes em risco social, arrecada mensalmente R$ 270 mil entre recursos específicos – que vão para projetos já determinados – e verbas não carimbadas, quando o destino das mesmas não é pré-determinado, sendo o dinheiro aplicado conforme decisão da organização.

A Associação tem, hoje, o patrocínio de seis empresas que bancam projetos específicos – Úrsula-Hilti Foundation, Skoll Foundation, White Martins, Unimed, Queiroz Galvão e Johnson & Johnson –, além de doações eventuais de outras pessoas jurídicas. A entidade conta com cerca de 450 pessoas físicas fixas (padrinhos e sócios).

Para cuidar da área financeira, a organização tem um gerente administrativo-financeiro e mais dois funcionários que geram os recursos captados, além da assessoria de um escritório de contabilidade e de auditoria pro bono anual realizada pela consultoria Deloitte Touche Tohmatsu.

“Fazemos um orçamento anual geral para a instituição com previsão de gastos mensais em todas as áreas”, explica a médica Vera Cordeiro, fundadora e superintendente geral da Associação Saúde Criança Renascer. Segundo ela, para cada projeto, há um orçamento e contas bancárias separadas. As planilhas são controladas mensalmente e, se houver alguma alteração nos desembolsos, são explicadas nos relatórios aos patrocinadores e conselheiros.

Na entidade, o atendimento direto às famílias é a área que mais recebe recursos, com 48% do total, incluindo doações não financeiras. “Possuímos ainda um fundo patrimonial presidido pelo ex-presidente do Banco Central, Armínio Fraga, que tem por objetivo possibilitar a perenidade da organização e o planejamento de ações em longo prazo, além de torná-la menos sujeita à inconstância dos fluxos de doações e patrocínios”, salienta Vera.

Resultados

Instituições de médio e pequeno portes também vêm conseguindo ótimos resultados ao profissionalizar o gerenciamento de seus caixas. Com arrecadação média de R$ 111,5 mil por mês, incluindo doações e repasse do Fumcad, a Associação de Assistência à Criança e ao Adolescente Cardíacos e aos Transplantados do Coração (ACTC), de médio porte, aplica o que arrecada para bancar as despesas gerais do mês e em projetos (36% em pessoal e 36% em atividades operacionais); o restante é colocado em fundos de investimento.

“A ACTC tem, hoje, 302 doadores fixos, entre pessoas físicas e jurídicas, e as prioridades são avaliadas na elaboração do orçamento anual, que leva em consideração as despesas habituais de custeio e as específicas das atividades desenvolvidas. Esse orçamento é separado por rubrica contábil, com verba específica destinada para cada mês do ano, e sofre alterações dependendo do período e das ações programadas”, explica a coordenadora da Associação, Regina Amuri Varga.

Com sede em São Paulo e no Rio de Janeiro, o Instituto da Criança (IC), organização de médio porte, conseguiu arrecadar pouco mais de R$ 182 mil em 2008 em recursos financeiros, sendo que menos de 15% foram advindos de doações de cerca de 150 pessoas físicas e jurídicas. As ações para arrecadação foram ampliadas em 2005, quando o IC lançou, em Nova York, o Children’s Call to Action (CCTA), programa internacional para arrecadar fundos para os projetos apoiados pelo IC, conduzido com a parceria da Brazil Foundation.

“A instituição realiza um plano de ação anual contemplando o suporte aos programas e instituições apoiadas e outros empreendimentos sociais”, diz o fundador e presidente do IC, Pedro Werneck. Segundo ele, as verbas angariadas são destinadas, em sua maioria, para entidades apoiadas pelo instituto (66,09%) e despesas administrativas (19,63%). “Eventualmente, investimos alguma sobra de recurso em CDB ou outras aplicações conservadoras”, frisa.

Seja grande, média ou pequena, a gestão dos recursos que chegam ao caixa de cada instituição se torna cada vez mais parecida com a administração empresarial. É fato também que ainda há um longo caminho a se percorrer, principalmente para aquelas instituições que têm carências em sua infraestrutura física e administrativa.

Um conselho aos gestores de organizações sociais que encontram problemas para administrar os recursos é: faça cursos e, se conseguir, um intercâmbio com instituições de grande porte, para obter know-how para captar e administrar melhor o dinheiro.

Links
www.actc.org.br
www.brazilfoundation.org
www.criancarenascer.org.br
www.deloitte.com.br
www.hilti-foundation.org
www.institutodacrianca.org.br
www.skollfoundation.org

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