Rede de mulheres conscientes

Por: Felipe Mello, Roberto Ravagnani
01 Março 2004 - 00h00
Em 8 de março de 1857, 129 operárias de uma fábrica têxtil de Nova York entraram em greve reivindicando salários iguais aos dos homens, além de redução da jornada de trabalho, que chegava a 16 horas diárias. A conclusão desse episódio tem diferentes versões, sendo a mais provável aquela que os patrões teriam trancado as trabalhadoras e incendiado a fábrica. Intencional ou acidental, o evento provocou a morte de todas as grevistas. Em 1910, o 1º Congresso Internacional das Mulheres, realizado na Dinamarca, escolheu 8 de março como o Dia Internacional da Mulher. Ao se avançar no tempo, percebe-se que o sexo feminino vem conquistando, mesmo que lentamente, parte dos direitos pelos quais luta há mais de um século. Um exemplo disso no Brasil é o direito ao voto, somente reconhecido na Constituição de 1934. No entanto, a primeira governadora só foi eleita 60 anos depois, o que evidencia a lentidão que existe na aplicação prática da igualdade de gênero.

O surgimento do movimento feminista produziu, a partir da metade do século XX, efeitos políticos e sociais importantes, além de significativa contribuição à reestruturação do pensamento ocidental. O movimento abarca hoje mulheres de diferentes gerações e camadas sociais, tanto no meio rural como no urbano.

Promovendo o “feminismo saudável”

Buscando promover o “feminismo saudável” – aquele que trabalha pela igualdade social – a Rede Mulher de Educação, criada em 1980, é uma organização não-governamental sem fins lucrativos que incentiva e viabiliza a relação de grupos de mulheres em todo o Brasil, criando uma rede de serviços em educação popular feminista. A entidade desenvolve ações junto a mulheres e homens, de grupos e instituições mistas, comprometidos com relações humanas sem nenhum tipo de dominação.

As ações têm como missão fortalecer a capacidade de enfrentamento das desigualdades de gênero, a superação do sexismo nas organizações e a valorização das diferentes contribuições femininas à sociedade. As iniciativas da Rede são norteadas pela promoção da auto-estima e da participação crítica e criativa de cada indivíduo como protagonista do próprio desenvolvimento pessoal e, como conseqüência, do processo de transformação social.

A Rede Mulher de Educação adota como princípio-chave a máxima de que os direitos das mulheres são direitos humanos. Sendo assim, a educação popular feminista é um processo pedagógico de caráter político que busca a reciprocidade entre homens e mulheres, tanto na produção como na reprodução. De forma prática, a organização tem participado, desde os anos 80, de pesquisas, do processo constituinte de 1988 e de diversos encontros internacionais. Esses eventos, entre outros, contribuíram para o crescimento da entidade, que em 1994 definiu-se como Escola de Formação de Multiplicadoras em Gênero e Liderança.

As atividades da Rede Mulher

A entidade desenvolve atividades de formação, pesquisa, comunicação e articulação para fortalecer e desenvolver as competências técnicas e políticas de pessoas, grupos e instituições. Tal reforço contribui para a ampliação do poder de influência dos mesmos junto a outros setores da sociedade e nas políticas públicas locais, regionais e nacionais. Tendo como foco gênero e liderança, o trabalho da organização está vinculado a três eixos estratégicos: formação (desenvolvimento de metodologias e formação continuada de formadoras e formadores, assim produção de materiais educativos), educomunicação (comunicação para trabalho em rede e leitura crítica dos meios de comunicação) e fortalecimento institucional de organizações voltadas à mulher.

A Rede oferece cursos, oficinas e assessorias ministrados por profissionais. Os conteúdos e metodologias são adaptados conforme o perfil e a demanda dos grupos requisitantes. São destinados a mulheres e homens de qualquer faixa etária, com diversos temas e áreas abordadas, buscando esclarecer a questão e melhorar a qualidade de vida dos participantes. Isso porque os diversos cursos tratam de saúde psicológica, física e social, entre outros setores que também merecem atenção.

De forma geral, as atividades da RME têm importante impacto junto ao movimento de mulheres, ao movimento popular, à sociedade civil organizada, às políticas públicas e às ações de responsabilidade social, sendo que os produtos contribuem, de várias maneiras, para o fortalecimento feminino e, assim, para a eqüidade de gênero na luta pela conquista de uma sociedade mais justa e humana. A avaliação desses impactos é particularmente difícil, já que as ações da organização se dão num contexto em que incidem diversos fatores e envolvem muitos e distintos “circuitos” de relações. Aqui vale informar que, conforme o manual Relações de Gênero no Ciclo de Projetos, editado pela Rede Mulher de Educação, “o fortalecimento é um processo complexo de crescimento individual e de grupo em direção à autonomia e à solução de problemas. É a preparação para o exercício da cidadania em seu sentido mais amplo”.

Resultados e reconhecimento do trabalho

É fundamental a apresentação de alguns exemplos de impactos de ações realizadas pela organização, assim como o reconhecimento pelo sucesso auferido. A primeira delas aborda a influência em políticas públicas, juntamente com o estado do Amapá, por meio do qual o governo, em parceria com o Sebrae, passou a considerar as variáveis de gênero, preocupando-se com a realidade e as necessidades da mulher ao desenhar sua política de apoio a projetos de geração de renda e ao construir critérios para a concessão de empréstimos pelo Banco do Povo. Com isso, até o momento foram capacitadas 480 mulheres no Amapá, tendo como resultados: uma artesã exportando sua produção; mulheres na direção da Associação dos Artesãos do Estado de Macapá; cerca de 70% de representação de mulheres na feira de artesanato e influências na inclusão das necessidades práticas e estratégicas em matéria de política de geração de renda no Estado, incluindo crédito no Banco do Povo.

Outra iniciativa que trouxe resultados positivos foi a parceria com o Instituto de Terras do Estado de São Paulo-Itesp, por meio da qual foram realizadas oito oficinas dirigidas a trabalhadoras rurais assentadas na região do Pontal do Paranapanema, atingindo cerca de 240 mulheres. A ação influi na preparação do IV Encontro de Mulheres Assentadas e Quilombolas, o que representou um impulso na organização de sua associação e na criação de estratégias para que se defendessem da violência.

Ao se tratar de reconhecimento, é válido informar que, em 2000, a Rede Mulher recebeu o Prêmio Bem Eficiente, da Kanitz, em função da qualidade e transparência da organização quanto à gestão financeira, bem como aos impactos das atividades junto à sociedade brasileira. Respostas por meio de resultados sociais e prêmios validam as iniciativas, animando o grupo daqueles que se dedicam à causa. Afinal, a realidade na qual a RME trabalha ainda demanda muitos esforços para que o cenário sofra as alterações justas e necessárias. Para se ter uma idéia, ainda nos dias de hoje, conforme artigo do DIEESE intitulado “As condições sociais básicas das famílias chefiadas por mulheres”, os lares liderados por mulheres possuem renda familiar inferior em 60,8%, em média dos domicílios chefiados por homens. É um dado que evidencia a desigualdade de gênero, que provoca uma série de efeitos colaterais, ratificando a pertinência das atividades da Rede Mulher de Educação.

A educação popular feminista é um processo pedagógico de caráter político que busca a reciprocidade entre homens e mulheres, tanto na produção como na reprodução

Números da Rede Mulher 25: anos de atuação

480: mulheres capacitadas no Amapá

240: mulheres nas oficinas no Pontal de Paranapanema

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