Clodoaldo Silva

Por: Paula Craveiro
01 Março 2008 - 00h00

Caçula de uma família pobre de Natal (RN), Clodoaldo Silva nasceu com paralisia cerebral e até os sete anos de idade não andava. Dependia de um de seus quatro irmãos para praticamente tudo. Em uma situação assim, dificilmente alguém imaginaria que aquele menino, tempos depois, seria eleito o melhor atleta paraolímpico do mundo, quebraria diversos recordes mundiais e teria em casa uma coleção invejável de mais de 120 medalhas conquistadas graças à natação – esporte que só conheceu aos 17 anos, como exercício fisioterápico –, e, principalmente, à sua força de vontade e determinação.

Fenômeno nas piscinas, Clodoaldo sabe que sua responsabilidade não se limita apenas a conquistas esportivas. Ele é padrinho de alguns projetos sociais e está prestes a fundar sua própria entidade, o Instituto Clodoaldo Silva (ICS). Os motivos? Estão na ponta da língua: “Tive poucas oportunidades em minha vida, mas agarrei com unhas e dentes todas as que surgiram. Hoje, felizmente, sou reconhecido pelo que faço. Agora, estou tentando dar a mesma chance a outros jovens. Espero que meu esforço sirva de exemplo para as pessoas com ou sem deficiência que estão em casa, paradas. Se isso acontecer, minhas medalhas significarão muito mais”.

Atualmente, o atleta integra a Seleção Brasileira de Natação que participará dos Jogos Paraolímpicos de Pequim, na China, em setembro de 2008, e desde o final do ano passado vem mantendo uma rotina intensa de treinamentos. Nesta entrevista à Revista Filantropia, o nadador fala sobre sua história, seu envolvimento com área social, a criação do ICS e comenta a situação do deficiente no Brasil.


 

Revista Filantropia: Como o esporte passou a fazer parte de sua vida?
Clodoaldo Silva: Nasci com paralisia cerebral devido à falta de oxigenação durante o parto, e minhas pernas eram cruzadas e dobradas. Depois de passar por quatro cirurgias, recebi indicação médica para conhecer a natação, para que eu pudesse me reabilitar. Então, comecei a praticar o esporte em 1996, aos 17 anos, e me apaixonei. Desde então, não parei mais.

Filantropia: Quais foram os principais obstáculos que você precisou enfrentar para se tornar um nadador profissional?
Clodoaldo: Como a minha família era muito pobre, muitas vezes a gente não tinha sequer o que comer em casa. O esporte me ajudou a conhecer um outro mundo e a me incluir ainda mais na sociedade. Em 1998, iniciei treinamentos mais sérios e participei do meu primeiro campeonato brasileiro, no qual conquistei três medalhas de ouro. Abri mão de muitas coisas na vida para me tornar um atleta de alto rendimento. Na hora de competir tento mostrar que o meu esforço e trabalho são coisas sérias.

Filantropia: Como você lida com a deficiência no seu dia-a-dia?
Clodoaldo: Estou acostumado, sempre convivi com ela. Então, é algo com que lido naturalmente. Às vezes tenho dificuldades para me locomover. De resto, sinto como se eu não tivesse nenhuma deficiência.

Filantropia: Quando começou seu envolvimento com as questões sociais?
Clodoaldo: Depois que comecei a dar certo como nadador e passei a fazer sucesso. Acredito ser essencial utilizar a minha imagem em prol de causas sociais. Posso contribuir para que jovens saiam das ruas, da marginalização e pratiquem esporte; para que tenham oportunidades e sejam verdadeiros cidadãos.

Filantropia: O que é o Projeto Mergulho para o Futuro e a quem se destina?
Clodoaldo: Atualmente, sou padrinho do Projeto Social de Natação, que atende cerca de 600 crianças da periferia do Rio de Janeiro (RJ). No entanto, esse é um dos projetos que está dentro do meu instituto, o Instituto Clodoaldo Silva (ICS) – que ainda está na fase burocrática antes de começar a funcionar efetivamente. O objetivo é tirar crianças e adolescentes da situação de risco por meio da prática da natação, aulas de informática e educação complementar.

Filantropia: Existe uma previsão para a fundação do ICS?
Clodoaldo: Por enquanto, o instituto está em fase de implantação, sem data definida para inauguração. Essas coisas geralmente são complicadas. Além das questões burocráticas, ainda estou com minha carreira de atleta em andamento.

Filantropia: Qual será o foco de atuação do ICS?
Clodoaldo: Nosso público-alvo serão crianças e adolescentes. Com a criação do instituto, esperamos ter um espaço no qual esse público possa, por meio de atividades complementares à rotina escolar, sair da situação de risco social. Para isso, temos dois projetos propostos: o Mergulho para o Futuro e o Ídolo Paraolímpico em Ação.

Filantropia: Além de atleta, você também é palestrante. Como tem sido essa experiência?
Clodoaldo: Venho ministrando palestras desde outubro de 2004. Entrei nesse mercado a convite de uma empresa que queria que eu repassasse minha experiência de vida, tanto pessoal quanto profissional, a seus funcionários. A palestra foi bem sucedida e a partir daí recebi vários outros convites. Em quase todas as minhas apresentações sou recebido com muitos aplausos. Ao final, o público sempre se emociona e vem me parabenizar pelos meus feitos. É muito gratificante.

Filantropia: Em sua opinião, qual o maior problema do Brasil em relação aos deficientes? Alguma sugestão sobre como resolvê-lo?
Clodoaldo: A falta de oportunidade de trabalho é um dos maiores problemas para os deficientes. Vagas até existem, mas, como não se encontram muitos locais acessíveis a essas pessoas pela cidade, fica muito difícil para um deficiente sair de sua casa para fazer um curso e conseguir a capacitação profissional que as empresas precisam. Sem as devidas adaptações, não é possível uma pessoa com deficiência fazer o que é preciso.

Filantropia: Por sua experiência, quais os temas sociais que deveriam receber mais atenção por parte das organizações sociais e da administração pública?
Clodoaldo: Sem dúvida, a educação. Acredito que a educação poderá fazer de nosso país um lugar mais equilibrado, sem tantas diferenças sociais. O governo precisa investir muito mais em educação!

Filantropia: Se você pudesse realizar apenas um desejo para melhorar o mundo, o que você pediria?
Clodoaldo: Gostaria de pedir tanta coisa... Mas pediria para que mais nenhuma criança passasse fome ou qualquer outro tipo de necessidade. Ver alguém nessa situação é triste demais.

“Espero que meu esforço sirva de exemplo para as pessoas com ou sem deficiência que estão em casa, paradas. Se isso acontecer, minhas medalhas significarão muito mais”


Site oficial
www.clodoaldosilva.com.br



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