Paulo Augusto Itacarambi

Por: Thaís Iannarelli
01 Julho 2008 - 00h00

Com vasta experiência profissional, o atual diretor executivo do Instituto Ethos, Paulo Augusto Itacarambi, atuou em áreas da engenharia, da educação e da administração pública e privada até chegar ao Terceiro Setor.

Formado em engenharia civil pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo e mestre em administração pública pela Faculdade Getúlio Vargas, Itacarambi iniciou sua carreira na Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) devido à vontade que sempre teve de trabalhar com um assunto que envolvesse toda a cidade. Porém, depois de concluir o mestrado, decidiu voltar-se à educação e começou a dar aulas de engenharia na Universidade Federal de São Carlos, cargo que ocupou durante três anos.

De volta a São Paulo, atuou na Fundação Prefeito Faria Lima, dando assessoria aos municípios no que dizia respeito às políticas públicas. Foi aí que ingressou na vida política, como assessor da então candidata à prefeitura de São Paulo, Luiza Erundina, e como coordenador de seu programa de governo durante seu mandato, de 1989 a 1992.

Antes de se envolver com área de responsabilidade social, Itacarambi foi também presidente do Anhembi Turismo e Eventos da Cidade de São Paulo e se dedicou ao mundo corporativo, fazendo consultoria para empresas na área de transporte público e se tornando um dos sócios de uma agência de turismo.

No Instituto Ethos, seu trabalho começou em 1999, depois que se especializou em planejamento estratégico e cultura organizacional. No início, assessorava a área de planejamento e coordenava a equipe. A partir de 2003, tornou-se diretor executivo do Instituto.

Em entrevista à Revista Filantropia, Itacarambi fala do Instituto Ethos, sobre as mudanças no cenário da Responsabilidade Social Empresarial no Brasil e os novos rumos do conceito.



Revista Filantropia: Qual é o papel do Instituto Ethos e como ele atua?

Paulo Itacarambi: O papel do Instituto é convencer as empresas da necessidade de mudar sua cultura de gestão e também mobilizá-las, ações que são benéficas para a própria empresa. Isso quer dizer poder olhar qual é o modo de contribuir com o desenvolvimento social fazendo seu negócio de maneira a ajudar realmente, e não transferindo custos para a sociedade. Também temos um trabalho de apoio, porque reunimos informações, conhecimento e ferramentas e colocamos o conjunto à disposição das empresas. Por fim, a terceira dimensão da nossa missão é conseguir que as corporações sejam parceiras do desenvolvimento sustentável da sociedade, ou seja, incentivar a participação em programas que contribuam com políticas públicas.

Filantropia: Como as empresas podem contribuir para o desenvolvimento da sociedade?

PI: Um dos caminhos é fazer um investimento social, processo que já passou por grande evolução, pois, atualmente, há meios de medi-lo. Isso significa que houve um progresso na maneira de mensurar e avaliar o quanto o investimento que a empresa faz na sociedade, por meio de projetos sociais, investimentos diretos e outros, contribui para o desenvolvimento. Outro modo de ajudar é complementando as políticas públicas.

“O retorno deve vir para o processo produtivo inteiro, para cada cadeia de valor, para os fornecedores, para os funcionários, para o meio ambiente, chegando, assim, ao conjunto da sociedade”

Filantropia: E o investimento social feito pelo direcionamento de uma porcentagem do faturamento da empresa?

PI: No Brasil, a empresa que dedica uma parte de seu faturamento nesse tipo de investimento, e aquela que faz muito, investe 1%. Aquela que faz mais mundialmente de que tenho notícia é a Novartis, que direciona 2,3% de seu faturamento. Mas e os outros 99%? Como pode contribuir para o desenvolvimento da sociedade? Essa é uma discussão da responsabilidade social, ou seja, como o negócio da empresa pode promover essa mobilização.

Filantropia: Tradicionalmente, no mundo empresarial, já havia essa preocupação com o desenvolvimento social?

PI: Na visão antiga, a contribuição para o desenvolvimento poderia ser feita somente atendendo os interesses dos acionistas, produzindo um resultado financeiro que motivasse os investimentos nessa empresa e em diversas áreas da economia. Desse ponto de vista, a empresa já teria um impacto no desenvolvimento social, gerando empregos e resultados.
O certo é que, olhando a situação em que estamos, este caminho não beneficia a sociedade, porque a desigualdade cresce, assim como a concentração de recursos, ou seja, não é sustentável. Nesse processo está embutida uma apropriação privada dos benefícios gerados com essa produção, além de uma transferência de custos para a sociedade que não é visível. Isso significa que as externalidades das atividades empresariais são pagas pelo conjunto da sociedade, sejam elas de ordem ambiental, social ou econômica – e quanto maior é a habilidade de transferir essas externalidades, mais competitiva a empresa se torna, de modo a conseguir benefícios fiscais.

“A desigualdade que existe na sociedade está no mercado – conseqüentemente, dentro das empresas.
Por isso, para mudar esse cenário, é preciso mudar a situação na própria empresa”


Filantropia: E qual é o melhor caminho para se colocar em prática a Responsabilidade Social Empresarial de maneira justa?

PI: Atualmente, a sociedade procura atribuir às empresas novas responsabilidades. Então, a pergunta é: qual é o retorno que a empresa deve trazer para os diversos stakeholders? Ou seja, não apenas para os acionistas. O retorno deve vir para o processo produtivo inteiro, para cada cadeia de valor, para os fornecedores, para os funcionários, para o meio ambiente, chegando, assim, ao conjunto da sociedade.

Filantropia: Há alguma pesquisa realizada pelo Instituto Ethos que mostre a necessidade desse novo cenário?

PI: Fizemos uma parceria que deu muito certo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), a Faculdade Getúlio Vargas (FGV) e a Organização Internacional do Trabalho (OIT), e realizamos uma pesquisa nas 500 maiores empresas do Brasil, porque são elas que traçam o modelo de mercado que as outras vão seguir, sobre diversidade e eqüidade nas empresas. Se uma das prioridades é produzir retorno para a sociedade, por meio dos funcionários, há uma coisa importantíssima, que é a história da desigualdade.
Então, partimos do princípio que a desigualdade que existe na sociedade está no mercado – conseqüentemente, dentro das empresas. Por isso, para mudar esse cenário, é preciso mudar a situação na própria empresa. Para analisar isso, começamos com perguntas simples: quem ocupa os cargos de chefia, supervisão, gerência e diretoria? São homens ou mulheres? Negros ou brancos? A pessoa tem algum tipo de deficiência ou não? Ao traçar esse perfil, a desigualdade fica visível. Depois, a pergunta vai para o presidente ou principal diretor: qual é a sua visão sobre isso, e o que você pretende fazer para mudar? Esse estudo é um tipo de indicador.

“Houve um progresso na forma de mensurar e avaliar o quanto o investimento que a empresa faz na sociedade, por meio de projetos sociais, investimentos diretos e outros, contribui para o desenvolvimento”

Filantropia: Que indicadores podem medir as ações sociais das empresas?

PI: Há muitos indicadores utilizados para mensurar essas ações, mas posso citar cinco como exemplos. No momento do planejamento, recomenda-se o uso dos Indicadores Ethos, que têm uma finalidade educativa, de orientar como a empresa pode sair de seu modelo tradicional de gestão para atender o conjunto dos stakeholders. Então, são feitas perguntas como: o que a empresa está fazendo nas diversas relações com os stakeholders? O que procura medir? Qual é a qualidade desse relacionamento? Assim, a corporação vê em que momento ela está e para onde pode ir.
No momento do check, ou seja, do ponto de vista do consumidor, a melhor medida é a da Escala Akatu, que segue a mesma linha das perguntas do Ethos, porém, direcionadas ao consumidor. Ela serve de parâmetro para o consumidor que quer comprar produtos socialmente responsáveis, e faz pesquisas de consumo consciente.
Agora, para tornar públicos os resultados da responsabilidade social, há três indicadores recomendados: ISE, GRI e Ibase. O Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) foi criado pelo Bovespa e fornece informações de no máximo 40 empresas selecionadas das 150 que recebem um questionário de avaliação sobre gestão de risco e sustentabilidade. Esse índice é válido principalmente para quem pretende investir nessas empresas. Outra opção é o Global Reporting Initiative (GRI), que é um relatório de sustentabilidade em que a empresa relata seus impactos ambientais, econômicos e sociais. O importante é que seu formato é internacional, facilitando a comparação entre as instituições de diferentes países. Por fim, o balanço social Ibase, que demonstra o direcionamento dos gastos das empresas.

Filantropia: Com base nesses indicadores, como se pode definir o panorama da atuação empresarial na área social?

PI: Hoje o cenário que temos mostra 38 empresas no ISE, 1.500 empresas no GRI (no mundo), sendo que destas, 70 são no Brasil, que já é o segundo país que participa com mais corporações. No Ibase, em 2005 havia 52 empresas, no Instituto Ethos, de acordo com o último relatório produzido, são 847 companhias, sendo que, dessas, 210 são pequenas empresas, e o Akatu tem 112 empresas que responderam a pesquisa.
Cada um dos indicadores citados tem um propósito diferente, e não é fácil chegar aos seus resultados. E mesmo assim ainda há uma pergunta difícil de responder: como a empresa contribui para o desenvolvimento sustentável? Como medir isso? Um exemplo são os 48 indicadores existentes para medir as metas do milênio, que ainda são considerados poucos porque deixam alguns itens de fora. Então, ainda faltam indicadores para responder essa pergunta sobre as empresas.

Filantropia: Como as empresas podem se associar ao Ethos e quais são os requisitos necessários?

PI: É simples, basta entrar no site e preencher o cadastro. Atualmente são mais de 1.300 empresas associadas, o que não significa que todas elas sejam socialmente responsáveis, mas que são corporações que querem passar por transformações e participar desse movimento. Porém, para ter acesso às publicações do Ethos, não é necessário ser associado. O cadastro é simples, e só não aceitamos empresas que estejam na lista suja do trabalho escravo e aquelas que tenham produtos nocivos, como armas e fumo, porque o pressuposto é que haja objetivos de mudança, para mudarmos juntos.

Filantropia: O foco da atuação social das empresas tem mudado, atualmente, devido à crescente preocupação da sociedade em relação ao meio ambiente?

PI: A responsabilidade social inclui o ambiental, porque é a responsabilidade com a sociedade, e a sociedade se relaciona com o ambiente natural de uma maneira que pode ser boa ou ruim. Tudo o que diz respeito à sociedade faz parte da responsabilidade social, que inclui também o econômico. Por isso fala-se, hoje, em sustentabilidade, pois o termo engloba os três conceitos de gestão sustentável do negócio: meio ambiente, economia e a área social. Hoje as empresas têm uma tendência a valorizar mais a questão ambiental, porque elas percebem a oportunidade de criar produtos e serviços de menor impacto, que têm valor no mercado. Isso não é só uma questão de gestão de risco, mas também de oportunidade de ter esse tipo de reconhecimento. Mas a recomendação é que, sim, é preciso mudar os produtos, seus processos produtivos, ter baixo impacto ambiental, mas também contribuir para o desenvolvimento social, ou seja, buscar a combinação das três coisas.

Filantropia: Qual é a perspectiva para o futuro da Responsabilidade Social Empresarial no Brasil?

PI: O assunto está na pauta das empresas, nas diversas áreas da sociedade, nas universidades, nos movimentos sindicais, na sociedade civil, nas organizações sociais, nas discussões governamentais, ou seja, é um tema presente. Agora, ele precisa ser aprofundado. As mudanças que estão acontecendo nas empresas ainda são muito pequenas, precisamos que as pessoas tenham uma visão de sustentabilidade, olhem o mundo de outra maneira. Acho que esse ritmo tende a crescer, porque uma vez que a produção de conhecimento se ampliou, as novas gerações estão exigindo outro comportamento. Ou seja, a sociedade começa a fazer uma pressão social e se canaliza para as políticas públicas e para os sistemas de mercado. A discussão que o Ethos faz hoje é: como criar mecanismos para o mercado socialmente responsável? Não basta uma empresa ser socialmente responsável, é necessário que o conjunto das relações comerciais também o seja. Essa é a pauta do momento.

Dados

Há 1.350 empresas associadas ao Instituto Ethos.

O Instituto Ethos realiza anualmente a entrega do Prêmio Ethos-Valor, para estudantes universitários; o Prêmio Ethos de Jornalismo, para profissionais da área de comunicação; e o Prêmio Balanço Social, para empresas com práticas de responsabilidade social.

No site, é possível acessar o UniEthos – Educação para a Responsabilidade Social e o Desenvolvimento Sustentável, que é uma instituição sem fins lucrativos voltada à pesquisa, produção de conhecimento, instrumentalização e capacitação para o meio empresarial e acadêmico nos temas Responsabilidade Social e Desenvolvimento Sustentável. Há também o InternEthos, que oferece às empresas soluções educacionais sobre esses temas vinculadas à gestão estratégica e operacional. Há também publicações para download, links e cursos.

Links
www.ethos.org.br
www.internethos.org.br
www.uniethos.org.br

 

 

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