O velho ditado chinês na prática

Por: Felipe Mello, Roberto Ravagnani
01 Janeiro 2005 - 00h00

O papel das empresas privadas tem sido pauta de discussões cada vez mais intensas, seja na academia por teóricos da administração e das ciências sociais, seja na prática pelos fornecedores e consumidores dos produtos e serviços disponíveis no mercado. O foco desta matéria concentra-se no potencial multiplicador de competências que uma empresa pode possuir e quando o possui, consegue espalhar boas sementes em mentes jovens, sedentas por respeito, orientação e oportunidades.

Nítida é a capacidade de criação de processos produtivos que inúmeras empresas demonstram em seu dia-a-dia. São cabeças e braços que, coordenadamente, estabelecem objetivos e aplicam suas habilidades cognitivas e sociais para fazer chegar ao público-alvo o resultado de seus esforços, cumprindo a missão inicial. Entretanto, e lamentavelmente, percebe-se com freqüência que um determinado poço de excelência empresarial está fi ncado em uma comunidade paupérrima, escancarando a realidade contraditória da sociedade brasileira. Obviamente, não se trata de uma exclusividade tupiniquim, uma vez que dezenas de outras localidades além de nossas fronteiras também apresentam tal sorte de desajuste social. A partir das constatações, é quase automático elaborar uma linha de raciocínio que busque uma relação entre os fatos, ou ainda, fórmulas que colaborem para o equilíbrio daqueles que ocupam o mesmo espaço geográfi co, ainda que habitando mundos distantes em termos de dignidade humana.

A Fundação Projeto Pescar, situada em Porto Alegre, existe há 29 anos e investe na construção de uma estratégia de franquia social, que motiva empresas a investir em iniciativas de desenvolvimento pessoal e profi ssional de adolescentes em situação de risco social.

O início das atividades

O calendário apontava o ano de 1976, época em que o empresário gaúcho Geraldo Tollens Linck, fundador e então presidente da Linck S/A – uma revenda de máquinas e equipamentos rodoviários – , decidiu ministrar aulas teóricas e práticas para 15 jovens que aprendiam um ofício profi ssional. Alguns anos foram sufi cientes para indicar que aquela fórmula era válida e replicável. A partir daí nasceu o projeto pioneiro de franquia social, institucionalizado em 1988, dirigido a empresários que desejam investir, de forma responsável, em uma ação que cause impacto positivo na comunidade em que a companhia está inserida e na vida dos atendidos.

Com o apoio de diversas empresas, o Projeto Pescar logo evoluiu para uma rede de franquias, cujo fortalecimento e expansão são atribuições da fundação, criada em 1995. “Desde o início, empresários, professores, voluntários, mantenedores e apoiadores vêm unindo esforços e entusiasmo para a expansão das franquias do Pescar. Hoje, soma 71 unidades instaladas nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Distrito Federal, e forma anualmente 1,2 mil adolescentes de ambos os sexos”, conta Rose Marie Linck, vice-presidente da organização. Além de promover a aprendizagem básica para o exercício de uma profi ssão nas mais diversas áreas da indústria, do comércio e da prestação de serviços, completa Rose Marie: “O Projeto Pescar estimula os jovens a adotar novos hábitos e atitudes de convivência e cidadania”.

Pescando resultados

Empresários dos mais diversos setores apostaram nessa idéia e montaram unidades em suas empresas. Nesses locais, proporcionam iniciação profi ssional a adolescentes entre 15 e 18 anos, em situação de risco social, que estejam estudando ou concluíram o ensino médio. “Em geral, 75% dos adolescentes, após o término do curso, ingressam no mercado de trabalho, 8% deles desenvolvendo negócios próprios. Ao longo de nossa história, já formamos mais de nove mil jovens”, informa Rose Marie. São vários os exemplos bem-sucedidos. É o caso de um jovem que freqüentou uma das unidades do projeto e que, após se formar, foi contratado por uma importante revenda do setor automotivo. Completando o ciclo, comemora Rose Marie, “este homem, hoje, é voluntário do Pescar e transmite suas experiências na Unidade Geraldo Linck”, em Porto Alegre.

O modelo de trabalho desenvolvido pela fundação já recebeu premiações importantes, como a da Fundação Banco do Brasil (2001), que contempla as tecnologias sociais mais facilmente replicáveis no país, e o Prêmio Bem Efi ciente (2004), outorgado pelo escritório Kanitz & Associados, que laureia as 50 instituições benefi centes melhor administradas no Brasil. “O modelo enxuto de investimento fi nanceiro, o suporte total dado na sua formatação e implantação e o acompanhamento sistemático dado ao franqueado tornam o Projeto Pescar adequado às empresas que queiram exercer sua responsabilidade social, com baixo custo. Uma sala nas dependências da empresa, mesas e cadeiras para os jovens, uma mesa para o orientador contratado e um quadro-negro. Esse é o investimento inicial. O restante é conquistado por meio de parcerias com fornecedores, voluntários e amigos, que ministram aulas complementares e palestras das mais diversas áreas profi ssionais”, relata a vice-presidente da entidade.

Idéias cruzam fronteiras e fazem escola

E se o Mercosul ainda testemunha várias derrapadas nas relações comerciais entre Brasil e Argentina, a área social, especifi camente o projeto apresentado, vem dando exemplo de boavizinhança. Isso porque empresários argentinos estão abrindo franquias sociais no país de nuestros hermanos. Em 2003, começou a operar a Fundación Proyecto Pescar, detentora da Tecnologia Pescar na Argentina, e hoje já são três as grandes companhias que aderiram ao projeto. Com as primeiras turmas, elas irão formar 51 jovens em condição de vulnerabilidade social, que receberão formação de eletromecânica e logística (Grupo Palmero), indústria têxtil (Vanderfi l) e área de serviços (Village Coca-Cola). A última, uma administradora de shoppings e cinemas, deverá prosseguir abrindo novas unidades, em razão da excelente aceitação do projeto.

Recentemente, a instituição gaúcha também colaborou com o Ministério da Educação (MEC) na formatação do Projeto Escola de Fábrica, por meio do fornecimento de material sobre funcionamento, metodologia e resultados alcançados pelo Projeto Pescar, já que as duas iniciativas têm semelhanças indiscutíveis. O propósito do projeto do governo federal é atender à demanda por formação profi ssional no país e redirecionar jovens em condições de pobreza para o mercado de trabalho. “O Ministério da Educação vê no Projeto Pescar um sinalizador para possível parceria no futuro, por sua experiência e sucesso em parcerias com empresas”, explica Rose Marie.

A direção da organização insiste que toda empresa socialmente responsável, independentemente de seu porte, área de atuação e localização geográfi ca, pode participar do Projeto Pescar como franqueada, mantenedora, apoiadora ou empregadora que acolhe os jovens formados. “Ao tornar-se franqueada ao projeto, a companhia passa a receber suporte e orientação técnica da fundação, e tem acesso ao conhecimento e à experiência de quase três décadas de trabalho na área”, conclui.

Em tempos de tsunami e outras catástrofes naturais, é urgente a prática de ações assistencialistas, até para garantir a sobrevivência daqueles que sofreram agressões físicas e emocionais com as tragédias. Entretanto, é inquestionável a necessidade de investimento pesado em iniciativas sociais de fortalecimento do ser humano, verdadeiras cartas de alforria àqueles que sofrem tragédias diárias.

NÚMEROS DO PROJETO PESCAR
29 anos de existência
71 unidades no país
1,2 mil jovens formados anualmente
75% dos formados ingressam no mercado de trabalho

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