Definir o papel do captador de recursos poderia ser tão simples quanto dizer que seu dever é arrecadar meios para colocar os projetos e ideais de uma organização em prática. A realidade, porém, é que a atividade é fator primordial para o funcionamento das instituições, sejam elas de qualquer natureza. O desafio desses profissionais é conseguir elaborar estratégias de captação efi cazes, que gerem resultados, alavancadas por uma profunda crença na realização dos objetivos propostos.
A situação é agravada ainda pelo grande número de entidades sociais existentes. Segundo pesquisa do IBGE, em parceria com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o Grupo de Institutos, Fundações e Empresas (Gife) e a Associação Brasileira de ONGs (Abong), em 2002 havia mais de 276 mil instituições sociais no Brasil, sendo que São Paulo é o estado com o maior número delas. Conseqüentemente, cresce a concorrência por recursos financeiros e também por profissionais cada vez mais capacitados na área.
Para Maria Porto Barreto, consultora na área de marketing e comunicação, os captadores são bem intencionados, contudo, ainda falta um pouco mais de entendimento sobre o assunto: “É preciso se aprofundar, não só na técnica, mas também na vivência da atividade. Acho que antes precisamos discutir o que é ser um bom captador de recursos. É aquele que bate a meta e traz o dinheiro? Na minha opinião, um bom captador de recursos, além de trazer investimentos para a organização, precisa capacitar os doadores, ou seja, não deixar que as ONGs sejam exploradas do ponto de vista da comunicação”.
A economista e captadora de recursos Lygia Fontanella acha que a capacidade de se comunicar é o principal requisito. “É preciso gostar muito da causa e da organização e essa identificação deve ser percebida por todos aqueles com quem o captador conversa. A principal característica é a capacidade de comunicação, de ouvir os termos técnicos e jargões do Terceiro Setor e traduzi-los para que as pessoas possam entender. Isso é importante porque uma pessoa só doa quando entende a importância da organização e do projeto”, afirma.
Segundo a V Pesquisa Nacional sobre Responsabilidade Social, feita pelo Instituto ADVB de Responsabilidade Social, houve um aumento de 61% de investimentos feitos em projetos sociais – quase R$399 mil a mais foi investido em 2003 do que em 2002.
“Infelizmente, a forma mais utilizada pelas instituições no Brasil para atrair capital é a da venda da miséria, ou seja, mendigar, de preferência para algum conhecido. A maioria das entidades não tem estratégia, funciona mais na base do desespero.” A frase de Ricardo Falcão, gerente da RFalcão Consultoria, revela a falta de preparo que ainda faz parte da realidade dos captadores brasileiros.
Apesar de não haver regras exatas que definam como fazer com que a captação de recursos funcione na sua entidade, ter um bom planejamento estratégico é essencial. De acordo com Lygia, é preciso seguir alguns passos:
Organizar as necessidades em propostas que descrevem o que será feito e o que se espera de impacto positivo na vida dos beneficiários.
Listar potenciais doadores para cada uma das propostas e elencar os benefícios que se vai oferecer a cada um deles. Cada doador tem uma expectativa diferente e os benefícios deverão se adequar a elas.
Identificar outras estratégias além da abordagem do doador, como festas, bazares, venda de produtos, rifas etc.
Definir claramente quem é a pessoa responsável pela captação de recursos.
Providenciar os recursos necessários para executar a captação: ajuda de custo para as visitas, fotos e histórias reais que emocionem o doador, equipamentos, entre outros.
Para Ricardo, muitos problemas ainda estão no caminho. “O meio mais simples para captar recursos são projetos encaminhados para a iniciativa privada e agências internacionais. Os maiores problemas estão no desconhecimento dos agentes financeiros, no projeto mal elaborado e na falta de preparo para a captação”, desabafa.
Entre as dificuldades encontradas está a falta de identidade da organização. De acordo com Maria Porto, se a marca e os valores da organização não estiverem definidos, não adianta simplesmente contratar um especialista, pois os recursos não vão brotar: “Muitas vezes o problema da falta de recursos não é somente a falta de pessoas capacitadas para tal atividade, e sim o estágio de maturidade em que a entidade se encontra para se relacionar com seus parceiros e doadores”.
O consultor em Comunicação para o Terceiro Setor e editor da Revista Filantropia Marcio Zeppelini também indica a falta de estrutura de comunicação das instituições como forte elemento declinante à captação de recursos. “A comunicação da entidade com seus públicos interno e externo deve ser sustentada nos princípios do próprio estatuto social e pelo objetivo a ser atingido. É necessário trabalhar estrategicamente toda a comunicação da organização de maneira a incrementar e sustentar o trabalho do captador. Isso inclui identidade visual, comunicação impressa e digital, entre outros elementos de peso”, afirma Marcio.
Lygia aponta outro desafio para o captador de recursos: “O principal problema do captador é lidar com a ansiedade dos profi ssionais da entidade. A implantação de uma ação de captação de recursos exige tempo e investimento, pois os resultados podem demorar de seis meses a um ano para aparecer”.
12 PERGUNTAS A SEREM FEITAS ANTES DE DEFINIR PARCERIA COM UMA EMPRESA |
|
“Muitas vezes, a organização não consegue esperar tanto tempo, pois deixou tudo para a última hora! Outra dificuldade é conseguir que a instituição defina os projetos para os quais se precisa captar com antecedência, para que o captador possa começar a trabalhar rapidamente”, ela ainda completa.
Apesar dessas dificuldades, a administradora de empresas e consultora da Apoena Empreendorismo Social, Andrea Goldschmidt, acredita que conhecer a realidade em que a população atendida está inserida já é um grande passo: “O captador precisa acreditar na causa. O envolvimento e sua capacidade de
demonstrar empolgação com o que defende são fatores importantes para o sucesso”.
De fato, definir os objetivos que devem ser atingidos e saber exatamente o que a comunidade em questão necessita são duas questões-chave para não desperdiçar recursos que poderiam ser implantados em ações não condizentes com a situação da região.
Quem doa qualquer quantidade ou tipo de recurso quer saber para onde ele vai e quais foram os resultados. Por isso, diferentemente do setor privado, as instituições têm o dever de divulgar os resultados, os benefícios e os caminhos que foram percorridos.
“Os potenciais doadores precisam estar convencidos de que a organização é idônea, o projeto é bom e vai realmente ajudar a minimizar o problema que pretende combater. Esse processo pode demorar meses. A instituição precisa conquistar a confiança e o desejo do potencial doador de fazer a parceria”, afirma Andrea.
O Captador de Recursos: Código de Ética de Padrões da Prática Profissional | ||
|
|
|
Agindo dessa maneira, a entidade transmite credibilidade – palavra essencial para manter e atrair novos doadores. “É muito importante também que a organização tenho processos para divulgar o seu balanço. Uma auditoria voluntária também ajuda muito na transparência da divulgação”, lembra Maria Porto. Marcio Zeppelini complementa: “A prestação de contas ao doador é vital para um relacionamento de longo prazo e isso se dá pelos meios de comunicação que a entidade desenvolve”.
Além disso, motivação e envolvimento com a causa são fatores positivos para manter os doadores. “O papel do captador junto às ONGs é de educar o doador para que ele entenda que não é só assinar o cheque e pronto, mas é preciso sim abraçar a causa e se tornar parceiro para que a entidade cumpra sua missão na sociedade. Tal postura irá gerar o que chamamos de sustentabilidade da organização, que contará com parcerias sólidas e duradouras”, complementa Maria.
Ela ainda cita o exemplo de uma campanha da Fundação Lance Armstrong em parceria com a Nike. No caso, a empresa associou sua marca à causa e destinou recursos para uma ONG que luta contra o câncer. “O representante da organização é uma figura pública, Lance Armstrong, ciclista renomado que se identifica com o público da empresa financiadora da campanha. Uma parceria em que todos ganham!”, completa.
OPINIÃO: COMO REMUNERAR O CAPTADOR DE RECURSOS? | ||
Andrea Goldschmidt (administradora de empresas e consultora da Apoena Empreendimentos Sociais): Acredito que o sistema de pagamento fixo seja mais adequado e mais justo, mas entendo que algumas organizações precisam trabalhar com comissionamento por não terem condições de arcar com o custo da manutenção de um profissional como este. A experiência, no entanto, mostra que os resultados, a longo prazo, são melhores quando o captador é funcionário da organização. Ele fica mais comprometido, escolhe melhor os parceiros, se envolve mais com a causa e pode investir mais tempo na prospeção e na criação de relacionamentos com potenciais doadores. Lygia Fontanella (economista e captadora de recursos): Prefiro que os captadores recebam salário fixo, e não comissões, principalmente porque o doador espera que sua doação seja utilizada nos beneficiários, e não gostaria nem um pouco de saber que uma porcentagem do valor doado foi diretamente para o captador. Além disso, como os resultados do esforço de captação de recursos podem demorar para aparecer, é importante manter o profissional devidamente remunerado para que consiga manter sua motivação e esforço na conquista das doações. Sei que muitas organizações, por não terem recursos suficientes para manter o salário de um captador, preferem | remunerar apenas quando a doação entra na organização. É por isso que os custos com o captador devem ser incorporadas às despesas operacionais da organização, aquelas que não estão ligadas diretamente a nenhum projeto-fim. E para obter recursos para o pagamento das despesas operacionais é preciso desenvolver ações de captação que dão liberdade para a organização utilizar o dinheiro como desejar. Maria Porto Barreto consultora na área de (marketing e comunicação): Particularmente sou contra a comissão, pois não acredito que aquelas pessoas que arrecadam recursos para determinada causa devam receber uma porcentagem desse dinheiro. Primeiro porque os recursos precisam ser destinados às atividades sociais para as quais foram solicitados; segundo, porque existe muita malandragem. Por exemplo, sou uma captadora e arrecado R$ 250 mil para a ONG X. Não é justo que parte desse dinheiro, que saiu de uma empresa, fundação etc., para o projeto X, venha para o meu bolso – afinal, ele não foi pedido para isso. Temos sempre que ser bastante transparentes na aplicação de recursos, ainda mais quando o capital vem do esforço de outros. Marcio Zeppelini (consultor em comunicação para o Terceiro Setor e editor da Revista | Filantropia): Eu sou contra a comissão, mas sou totalmente a favor da bonificação por volume gerado, além de um salário compatível com o mercado. O captador de recursos não deve estar engessado a um salário fixo, mas também não deve receber porcentagem do valor arrecadado. É interessante estabelecer um vínculo com o planejamento estratégico, objetivos e bonificações gradativas, com valores pré-estabelecidos, de acordo com as metas alcançadas. Somente o salário fixo é desmotivante e, de certa maneira, confortável ao captador. O comissionamento, em minha opinião, é destinar parte de uma doação a um fim diferente do que se propôs o doador. Já a bonificação por metas atingidas é mais transparente além de ser ético segundo a ABCR – e motiva o captador a conseguir arrecadar mais. Ricardo Falcão (consultor e gerente da RFalcão Consultoria): Não vejo diferença e nem problema com nenhuma das formas. Alguém que não tem ética, não agirá com ética devido à forma de pagamento. A decisão cabe à instituição que irá trabalhar de acordo com suas possibilidades. Acredito que a captação é um trabalho de todos, assim, a bonificação deveria ser dada a todos. O que recomendo é que o captador seja alguém da instituição, para que ela não fique sempre dependendo de um captador. |
Imagine como seria maravilhoso acessar uma infinidade de informações e capacitações - SUPER ATUALIZADAS - com TUDO - eu disse TUDO! - o que você precisa saber para melhorar a gestão da sua ONG?
Imaginou? Então... esse cenário já é realidade na Rede Filantropia. Aqui você encontra materiais sobre:
(certificações, prestação de contas, atendimento às normas contábeis, dentre outros)
(remuneração de dirigentes, imunidade tributária, revisão estatutária, dentre outros)
(principais fontes, ferramentas possíveis, geração de renda própria, dentre outros)
(Gestão de voluntários, programas de voluntariado empresarial, dentre outros)
(Softwares de gestão, CRM, armazenamento em nuvem, captação de recursos via internet, redes sociais, dentre outros)
(Legislação trabalhista, formas de contratação em ONGs etc.)
Isso tudo fica disponível pra você nos seguintes formatos:
Saiba mais e faça parte da principal rede do Terceiro Setor do Brasil: