A explosão das atividades das organizações não-governamentais no Brasil nos últimos 20 anos, e a consequente consolidação de suas realizações perante governos, empresas e sociedade, iniciada no começo desta década, chega agora a um novo capítulo – a entrada em cena, com muita dificuldade, da figura do empreendedor social.
A expressão nasceu da tradução de um termo originário da língua francesa (entrepreneur), sendo usada pela primeira vez em inglês entre as décadas de 1960 e 70. Mais adiante, o termo foi difundido nas décadas de 1980 e 90 por Bill Drayton, fundador da Ashoka Empreendedores Sociais, e pelo escritor inglês Charles Leadbeater.
No Brasil, este ator social ainda ensaia para conquistar novas plateias e tenta ser entendido como parte importante do Terceiro Setor, significativo para encontrar soluções aos problemas da população.
Não tem sido fácil, mas a percepção geral é a de que o amadorismo está sendo deixado para trás, ainda que o envolvimento das empresas continue pequeno e existam muitos entraves burocráticos do poder público. A atuação dos empreendedores sociais, principalmente os dos pequenos grupos de trabalho, tem sido descrita como árdua e desigual, tanto na busca quanto no recebimento de recursos da iniciativa privada e dos governos.
“Empreendedor social no Brasil é guerreiro. Tem de ter fé, muita paciência, força e insistência, caso contrário, desiste”, desabafa Daniel Manchado Cywinski, diretor institucional da Associação Mestres da Obra, ONG que atua dentro dos canteiros de obras, tendo o trabalhador como público-alvo.
A entidade já foi laureada com o prêmio Uma Boa História Mobiliza, concedido pela Revista Filantropia, e foi finalista do Prêmio Empreendedor Social 2009, realizado pela Folha de São Paulo e pela Fundação Schwab. Nesta edição, os vencedores foram Claudio e Suzana Padua, fundadores do Instituto de Pesquisas Ecológicas (Ipê), ONG da área ambiental.
'Segundo Daniel, o empreendedor social só passa a “existir”, ser reconhecido e referenciado após anos de trabalho, e isso faz com que o começo seja extremamente duro. Ele argumenta que o Brasil possui poucos mecanismos de incentivo fiscal e poucos recursos diretos provenientes do governo, além de diversos fatores que não ajudam. “Existe dificuldade de contratar pessoas, de envolver profissionais no trabalho devido à falta de recursos financeiros, a restrições trabalhistas, à instabilidade das entradas de recursos etc. Não vejo grandes mudanças acontecendo, mas observo que os empreendedores têm ficado cada vez mais ‘espertos’, se esforçando para encontrar alternativas viáveis à sua atuação”, explica o gestor.
As dificuldades de ordem burocrática e financeira também podem ser responsáveis por colocar uma pá de cal no projeto de uma ONG gerida por um empreendedor social. Ao se conhecer alguns cases, não há outra conclusão a se tirar sobre projetos promissores que não vingaram ou que poderiam ter tido melhores resultados.
O relato do engenheiro Julio Gurgel do Amaral, do departamento técnico do Instituto para Desenvolvimento Socioambiental e Tecnológico Lótus, ilustra esse cenário. A Oscip paulistana em que atua foi fundada em 2001 em busca de alternativas tecnológicas que integrem proteção ao meio ambiente e modelos de sustentabilidade socioambiental, e que permitam a interface entre o setor governamental e a iniciativa privada.
Segundo ele, um promissor trabalho realizado com crianças de 5ª a 8ª séries do ensino municipal da cidade de São Roque (SP), o Projeto Gota (sigla para Gestor Organizado de Transformação Ambiental) poderia ter ido mais longe não fossem dois itens importantes: os escassos recursos técnicos e financeiros da administração pública e a “cegueira” da iniciativa privada para perceber o potencial humano de um projeto que visava à educação e à conscientização de alunos e de seus familiares acerca de importância da conservação do meio ambiente.
“No Brasil, o poder público teoricamente apoia um projeto que não dá, no entender do governante, resultados imediatos. A mesma coisa acontece com a iniciativa privada, que deveria pensar menos em retorno financeiro e mais no desenvolvimento do ser humano e no exercício da cidadania”, afirma
Amaral, relatando que, mesmo assim, o projeto foi um sucesso entre pais e alunos.
A entidade também desenvolve um trabalho com reciclagem de óleo de cozinha, e sempre enfrentou dificuldades para que investidores da iniciativa privada pudessem entender as possibilidades do negócio, especialmente a preservação do meio ambiente.
“Infelizmente, encontra-se muita dificuldade em obter patrocínios. Por outro lado, a falta de divulgação impede que encontremos empresas dispostas a investir em um projeto com tais objetivos”, enfatiza o engenheiro.
Além de todos os problemas já citados, soma-se a concorrência desigual entre os pequenos empreendedores sociais e as ONGs de grande e médio portes, que, em geral, são bem mais conhecidas das empresas e do público em geral. Quem vai investir em um projeto – mesmo que socialmente extraordinário e financeiramente promissor – de uma entidade que não aparece nas páginas de jornais e revistas e na tela das TVs?
“Alguns setores da iniciativa privada já estão voltando seus olhos para empreendimentos que englobem inclusão social e cuidado ambiental, mas ainda é muito incipiente e ‘marketizado’. Há muita publicidade e quase nada realizado com compromisso na manutenção em longo prazo”, ressalta Thereza
Cavalcanti, diretora executiva do Grupo Sou São Paulo, ONG que fomenta e garante o investimento social privado em produtos totalmente enquadrados nos conceitos de consumo consciente e comércio justo.
De acordo com a gestora, não basta apoiar um projeto com data de vencimento, sem o devido cuidado de se deixar este mesmo projeto apto a continuar existindo. “Além disso, competir com ONGs que têm chancelas poderosas é impensável. O caminho é ocupar os vazios que essas organizações deixam, já que elas têm focos específicos, e/ou buscar parcerias, o que na vida real se revela outro desafio”, pondera.
Coberta de razão, Thereza acredita que criar e gerir um pequeno empreendimento no Brasil é um desafio enorme, pois questões como linhas de crédito para infraestrutura e capacitação são ainda sonhos difíceis de serem realizados em um curto espaço de tempo. Outro aspecto que acaba inibindo o sucesso dessa iniciativa, segundo ela, é a resistência do mercado em absorver um produto que fuja do conceito “industrial”.
“Acredito que os pequenos empreendimentos se sustentem em longo prazo dentro de um conceito restrito e muito pontual, atendendo a uma demanda pequena de consumidores que tenham o entendimento de produção não-linear. Em função disso, não sou muito otimista”, argumenta a diretora do Grupo Sou São Paulo.
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