Lester Salamon

Por: Daniela Tcherniacowski
01 Setembro 2003 - 00h00
Catedrático da Universidade Johns Hopkins (EUA) e diretor do Centro de Estudos da Sociedade Civil da academia, Lester Salamon já foi diretor do Centro de Pesquisa em Administração do Instituto Urbano de Washington D.C. e diretor do Departamento de Administração e Receita Federal Americana.

Um dos pioneiros no estudo do Terceiro Setor, Lester Salamon esteve no Brasil para o II Seminário Internacional do Terceiro Setor, promovido pelo Senac São Paulo em parceria com a Universidade Johns Hopkins, o Consulado Geral dos Estados Unidos em São Paulo e a Associação Brasileira para o Desenvolvimento de Lideranças. É autor, entre diversas obras, de American’s Nonprofit Sector, considerada a “bíblia do Terceiro Setor” nas universidades americanas.

Em entrevista para a Revista Filantro­pia, Salamon fala sobre os desafios do Terceiro Setor e compara o cenário entre a América e o Brasil. Também parabeniza iniciativas como a do Programa Fome Zero e a criação da ONG Apoio Fome Zero, formada pelos maiores empresários brasileiros. No entanto, ressalta a necessidade das parcerias entre governo, sociedade e empresas para o êxito do projeto. “O Fome Zero tem a capacidade de mobilizar novas energias para solucionar os problemas sociais. Só irá funcionar, porém, se operar com muito espaço para a iniciativa local e com significantes funções para autores não-governamentais”, diz.

Revista Filantropia: Quais são os maiores desafios para o Terceiro Setor hoje?

Lester Salamon: Atualmente, o Terceiro Setor encara cinco grandes desafios: primeiro, o de legitimidade, de conquistar reconhecimento e aceitação pública e de adquirir o meio de suporte legal exigido para operar; segundo, o de sustentabilidade, de fontes identificadoras de rendimento que possam prolongar o funcionamento das organizações; terceiro, o de efetividade, ou de criar a competência para cumprir importantes responsabilidades; quarto, o de parceria, de encontrar formas de cooperação com outras organizações do Terceiro Setor, o governo e as empresas privadas; e quinto, o de justiça, ou de se manterem fiéis em suas missões enquanto sobrevivem como organizações e desenvolvem capacidade organizacional.

Revista Filantropia: Qual é a responsabilidade de parcerias intersetoriais entre governo, sociedade civil e empresas para a melhoria das condições sociais de um país?

Lester Salamon: Estamos na era do que eu chamo, em um recente livro, “o novo governo”. A característica central dessa nova era é a compreensão de que os maiores problemas públicos não podem efetivamente ser resolvidos por um único setor. Parcerias intersetoriais são, portanto, a onda do futuro. Estamos criando um tipo diferente de situação e uma forma diferenciada de lidar com problemas públicos. Isso irá exigir nova preparação para funcionários públicos, assim como novos meios de operação para instituições filantrópicas.

Revista Filantropia: No Brasil, um tema que ultimamente tem sido discutido é a ética dentro das empresas e instituições sem fins lucrativos. Qual sua opinião sobre a ética no Terceiro Setor?

Lester Salamon: Há uma necessidade muito forte para organizações do Terceiro Setor de não apenas trabalharem de maneira ética, mas de serem capazes de demonstrar que operam eticamente. Entidades do Terceiro Setor não podem mais contar com a confiança do público como garantida. Como outras organizações, elas devem merecê-la continuamente. Isso requer transparência e franqueza, assim como maior participação em sua administração.

Revista Filantropia: Atualmente, algumas fundações e institutos de empresas já estão publicando seu balanço social, embora isso ainda não seja uma solicitação legal no Brasil.

Lester Salamon: Esse é um caminho útil para destacar as res­ponsabilidades sociais das corporações e para continuar a pressioná-las a fim de que operem de um modo socialmente responsável. Muitas companhias perceberam isso por si próprias, mas sempre haverá aquelas que precisam de encorajamento.

Revista Filantropia: Como o senhor compara o cenário do Terceiro Setor nos EUA e no Brasil?

Lester Salamon: O Terceiro Setor no Brasil é mais ativo e vibrante que nos EUA, apesar de ser menor e menos desenvolvido. Além disso, a extensão do suporte governamental para organizações do Terceiro Setor é muito maior nos EUA, o que ajuda a explicar porque nosso Terceiro Setor é tão mais adiantado.

Revista Filantropia: Em que aspectos os EUA podem servir de exemplo para o Terceiro Setor brasileiro?

Lester Salamon: O exemplo mais importante seria enfatizar o valor de se formar uma aliança cooperativa entre o Terceiro Setor e o Estado, além da compreensão de que é possível obter tal suporte sem se render à função de defensor do Terceiro Setor.

Revista Filantropia: De onde vêem os recursos de entidades americanas?

Lester Salamon: As fontes mais im­portantes são as taxas de serviço e os encargos financeiros (51%), seguidos pelo governo (37%). A caridade responde por somente 12% de toda a renda. Embora as doações particulares sejam a maior parte desses 12%, elas não são a maior parte do rendimento das instituições sem fins lucrativos. Ainda assim, o Brasil faria bem ao encorajar esse tipo de doação. Nos EUA, sofisticadas técnicas de captação de recursos foram desenvolvidas para esse fim, havendo aí notável quantia de esforços.

Revista Filantropia: Qual a opinião do senhor a respeito do principal programa social do governo brasileiro, Fome Zero?

Lester Salamon: É uma iniciativa ousada e criativa. O programa tem a capacidade de mobilizar novas energias para solucionar os problemas sociais. Só irá funcionar, porém, se operar numa base de parcerias, com muito espaço para a iniciativa local e com significantes funções para autores não-governamentais, não somente na execução de pré-projetos, mas também no planejamento e nos estágios de idealização.

Revista Filantropia: O senhor conhece outros programas como o Fome Zero em outra parte do mundo?

Lester Salamon: Os Estados Unidos iniciaram seu próprio Combate à Pobreza em 1964, sob a presidência de Lyndon Johnson. Teve significante progresso, entretanto, no final das contas, atolou em batalhas políticas por poder.

Revista Filantropia: O que o senhor acha da proposta do presidente Lula de criar um fundo internacional para a luta contra a fome no mundo todo, que poderia ser proporcional ao investimento armamentista?

Lester Salamon: Concordo que segurança não tem como ser medida meramente por termos militares. Na verdade, a necessidade por equipamento militar poderia ser diminuída se as frustrações e hostilidades resultantes da pobreza e do desespero fossem também reduzidas. A proposta do presidente Lula, então, seria um bom investimento para os países. Contudo, será provavelmente difícil convencer as pessoas disso.

Revista Filantropia: Nações como os EUA estão preparadas para essa conscientização?

Lester Salamon: Os Estados Unidos têm recentemente elevado seus gastos no auxílio ao exterior. Duvido, todavia, que qualquer comprometimento formal a um certo nível de assistência no combate à fome mundial seja plausível.

Revista Filantropia: O senhor acredita que se o dinheiro investido hoje pelos EUA em armas – é o país que mais investe em armamento – fosse revertido a programas sociais, seria possível acabar com a fome e a pobreza no mundo?

Lester Salamon: As disposições de tempo envolvidas nessas duas atividades diferem entre si. Seria, portanto, irreal esperar que um país parasse com uma para trocar pela outra. No entanto, sou a favor de maiores investimentos em programas sociais como forma de reduzir custos a longo prazo com programas armamentistas.

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