A os 29 anos, Flávio Canto conquista, pela primeira vez, uma medalha olímpica numa carreira já celebrada por uma série de vitórias, como o ouro nos Jogos Pan-Americanos de Santo Domingo (2003), no Torneio de Ranqueamento Olímpico da Argentina (2003) e nos Jogos Sul-Americanos (2002).Enquanto lutava pela medalha na Grécia, cerca de 400 crianças de Cidade de Deus e da favela carioca da Rocinha torciam pelo atleta. Todas são alunas de judô da ONG Instituto Reação que Canto mantém desde 2000. E foi para elas a homenagem pelo bronze em Atenas."Para uma criança carente, entrar em uma competição e ganhar de uma criança rica é a prova de que ela precisa para acreditar que é capaz, não só de vencer competições, mas de lutar por seus sonhos", afirma.Em entrevista à Revista Filantropia, o judoca conta como se interessou pela ação social.Revista Filantropia: Como começou sua história de engajamento social?Flávio Canto: Sempre carreguei um sentimento muito forte de indignação pela miséria e desigualdade em nosso país. Em 2000, resolvi fazer parte de uma idéia que hoje se chama Reação, que utiliza o judô como instrumento de inclusão social.Filantropia: Quais são as dificuldades que você enfrenta na ONG? Quais são as conquistas de seu trabalho social? O que ainda falta conquistar?FC: A parte administrativa é a mais chata e, por isso, a deixo com o diretor-administrativo. A maior conquista é perceber nos olhos de nossos atletas a determinação de lutar por seus objetivos. Temos algumas parcerias com outras ONGs, mas ainda é pouco. Falta mais organização para trabalharmos em rede.Filantropia: Como o esporte pode ajudar uma criança carente? E o judô, em especial?FC: O esporte é o instrumento ideal para inclusão social, desde que atrelado ao alto rendimento. Sem isso, ele perde força. É importante que haja a figura do ídolo para segurar as crianças no projeto, e de competições para motivar os atletas. Para uma criança carente entrar em uma competição e ganhar de uma criança rica é o que ela precisa para acreditar que é capaz não só de vencer competições, mas de lutar por seus sonhos.Filantropia: Como você encara a violência dos morros no Rio, como o da Rocinha, onde você mantém um trabalho social?FC: A violência é fruto de toda desigualdade e indiferença de nossa sociedade. Não estou lá para condenar o tráfico ou a violência. Minha função é levar cidadania.Filantropia: De volta ao Brasil, o que você espera fazer pela sua carreira e pelas atividades com a ONG?FC: Pretendo ampliar o projeto. Para isso, é preciso uma sala muito maior para atender a demanda de alunos. Talvez faça especialização ou mestrado relacionado ao Terceiro Setor quando parar de competir, mas, por enquanto, continuo treinando.