Iniciativa de Ouro

Por: Juliana Fernandes
15 Abril 2013 - 19h41

Cultura esportiva desenvolve ações educativas em comunidades

Considerada um dos grandes símbolos do voleibol feminino do Brasil, Ana Moser é natural de Blumenau. A ex-jogadora começou a praticar vôlei aos sete anos de idade e aos 16 já foi convocada para atuar na seleção infantojuvenil. Com a camisa número 2, no auge da carreira, foi titular nas Olimpíadas de Seul (1988) e de Barcelona (1992). Pela seleção brasileira, Ana conquistou títulos importantes como o Grand Prix, em 1994 e 1996, e a medalha de bronze em Atlanta, também em 1996.
Em 1999, anunciou oficialmente sua saída das quadras. Dez anos depois, foi eternizada ao entrar para o seleto Hall da Fama do Vôlei. Atualmente, preside o Instituto Esporte & Educação (IEE). A entidade atende a crianças e adolescentes em atividades esportivas e socioeducativas e promove a formação de professores e estagiários, assim como o desenvolvimento de uma metodologia de esporte educacional. Em entrevista à Revista Filantropia, Ana Moser dá detalhes sobre sua atuação social.
Revista Filantropia: Conte um pouco sobre sua atuação no Instituto Esporte & Educação (IEE) e como surgiu a ideia de criar o projeto.
Ana Moser: O IEE nasceu de um pequeno movimento entre amigos, todos ligados ao esporte, enquanto eu ainda era atleta profissional de vôlei. Pensávamos em uma estratégia para apoiar o desenvolvimento do esporte, especialmente entre as crianças em idade escolar. Além disso, eu viajava o mundo e sentia muita angústia com a injustiça social no Brasil. Não achava justo as pessoas não terem as mesmas oportunidades que eu tive para ter sucesso. Essa inquietação gerou um projeto de iniciação esportiva que criava turmas de meninos e meninas que aprendiam a jogar juntos e a gostar do jogo. Criamos o Instituto Esporte & Educação e montamos os dois primeiros núcleos em 2001. Um deles funciona até hoje em Heliópolis (maior favela de São Paulo).


RF: Além de estimular a cultura esportiva, o IEE considera o esporte como um instrumento de educação. Por isso, mantém como base de suas atividades a metodologia do esporte educacional. Na prática, como isso funciona?
AM: O esporte educacional funciona a partir de princípios: incluir a todos, a partir da diversidade, construir coletivamente, em uma educação integral rumo à autonomia. Todos esses princípios precisam acontecer ao mesmo tempo. Na prática, pense em uma turma do 5o ano de uma escola pública: teremos meninos, meninas, alguns mais altos, outros mais fracos, alguns alunos mais velhos, uns tímidos, outros líderes. Em uma aula de educação física tradicional os meninos jogam futebol, mas só aqueles que sabem jogar. As meninas jogam queimada, ou ficam conversando ao lado da quadra, enquanto os meninos jogam. No esporte educacional, o professor planeja jogos adaptados que apresentem desafios diferentes. Em uma sequência de aulas, o professor tem o objetivo de desenvolver as habilidades motoras dos alunos para que eles joguem cada vez melhor, mas também deve usar outras estratégias para que eles aprendam sobre o que se está vivendo com o corpo e sobre o mundo ao seu redor — por meio de pesquisas, conversas e experimentações. Quanto menores os alunos, mais as atividades se parecem com brincadeiras — quanto mais velhos, mais parecido com o esporte formal. Isso porque o esporte formal é feito para adultos, não para crianças.


RF: O IEE implantou e coordena uma série de núcleos em parceria com diversas entidades — escolas, associações comunitárias, prefeituras, Sesi e Sesc. De que forma funcionam esses núcleos?
AM: Os núcleos são espaços esportivos (quadras, campos, ginásios...) em escolas e clubes públicos, ou em espaços comunitários. Em parte dos espaços contratamos professores e estagiários, e em outra parte os professores são cedidos pelo parceiro público (secretarias de educação). Viabilizamos material esportivo, uniforme, organizamos eventos durante todo o ano.
Os alunos participam de duas a três atividades por semana, além dos eventos e outros projetos culturais e de geração de renda. Em parte dos núcleos há grupos de jovens e de adultos fazendo atividades físicas e se organizando em times de vôlei, de futebol. Alguns núcleos existem há cerca de dez anos, então muitos alunos entraram crianças, cresceram e viraram jovens monitores, depois entraram para a faculdade e viraram professores dos núcleos. Outros seguiram outras profissões. Mas, o mais importante é criar uma comunidade em torno da prática do esporte e de espaços próprios para isso.


RF: O Instituto conta com o apoio de grandes investidores privados e parceiros públicos que, felizmente, incentivam e viabilizam os projetos sociais. Qual a importância desses pilares para o IEE?
AM: O IEE tem uma missão — que é desenvolver pessoas e comunidades por meio da educação física e do esporte — e a visão de fomentar a disseminação do esporte educacional por todo o Brasil. Para alcançar esta missão e visão, o IEE trabalha por projetos, sendo a maior parte deles por meio da Lei de Incentivo Federal ao Esporte. Outra forma de financiamento do IEE são alguns poucos convênios com o poder público, a exemplo de dois programas da Prefeitura de São Paulo (Clube Escola e Ampliar). Os parceiros públicos e privados são primordiais para o IEE ou outra ONG realizar seu trabalho, cumprir sua missão. No caso do esporte, este setor social não está ainda muito bem estruturado. Com exceção da Lei de Incentivo, não há outra política (lei, orçamento) que garanta a oferta de esporte para a população. Então, nós estamos constantemente debatendo e convencendo empresários e dirigentes públicos do que precisa ser feito, como e para quem.


RF: Em mais de uma década de atividade, o Instituto já beneficiou muitas pessoas. Com tantas histórias de sucesso, há planos para aumentar o alcance do trabalho? Quais são as perspectivas?
AM: Nossa visão é chegar em todo o Brasil com o esporte educacional, ser um dos protagonistas deste processo, seja com metodologia, seja defendendo esta causa, ou usando tecnologia para chegar mais longe. Só teremos esporte em todo o Brasil, para todos os brasileiros, quando alcançarmos todos os municípios. É nessa perspectiva que pensamos os projetos do IEE. Nossa estratégia mais recente, que está em execução há dois anos, se chama Rede de Multiplicadores, pela qual treinamos parceiros locais — como outras ONGs e universidades — para disseminarem na sua região. No caso da ação em execução, patrocinada pela Petrobras, temos cinco parceiros em cinco estados (AM, BA, RJ, RS, PE) que estão, com o IEE, trabalhando com 30 municípios, formando professores e implantando cerca de 500 núcleos esportivos nas escolas. As perspectivas até 2016 são muito boas para o esporte, mas lutamos a fim de que o investimento se volte também para a base da população, não se restrinja à construção dos estádios, praças olímpicas e formação das seleções brasileiras. E, especialmente, que se pense em como garantir que o investimento no esporte perdure a partir da Copa e das Olimpíadas, criando uma lei geral do esporte ou um Sistema Nacional de Esporte. Caso contrário, poderemos ter um grande retrocesso após 2016. Não queremos “moda”, queremos políticas.


RF: Em 2008, durante o 1º Seminário Nacional da Lei de Incentivo ao Esporte, você afirmou que “falta uma política pública de Estado, não de governo, de gestão”. Em sua opinião, alguma coisa mudou? Qual a sua avaliação sobre as políticas nacionais de incentivo ao esporte?
AM: Desde 2000 eu acompanho uma evolução no debate sobre a política de esporte para o Brasil. Todo esse movimento ainda não virou regulamentação, ainda não garantiu orçamento público e a participação ordenada da sociedade dentro de um sistema. Algumas leis são exceções, como o Bolsa Atleta e a Lei de Incentivo ao Esporte. Porém, elas não estão inseridas numa visão completa de funcionamento de um setor, como existe na saúde e na educação, por exemplo.


RF: De que maneira os eventos esportivos que o país sediará, em 2014 e 2016, irão ajudar na profissionalização e no investimento dos futuros esportistas?
AM: Já estão ajudando. Desde 2010 o maior volume de recurso tem sido investido, tanto pelo governo quanto pelas empresas, na preparação das equipes olímpicas de todas as modalidades. Do vôlei à esgrima, do BMX à natação, nunca houve tanto recurso para treinamento, viagens, contratação de técnicos e patrocínio para atletas. Acontece que investindo só nos melhores de cada modalidade não se investe na renovação dos talentos, na criação das novas gerações de atletas. Quanto mais gente na base, mais e melhores atletas de ponta. O Brasil só vai ser potência olímpica quando resolver esse dilema.


RF: Ainda sobre o assunto, há um projeto muito interessante chamado Cidades da Copa. Como ele está sendo executado?
AM: O Cidades da Copa é um projeto aprovado pela lei do incentivo e financiado por empresas. É uma iniciativa que tem por objetivo mobilizar a comunidade esportiva de cada cidade sede da Copa do Mundo e Olimpíada em torno do debate pelo legado esportivo destes grandes eventos. O IEE iniciou o Cidades da Copa em 2012 e já trabalhou em Porto Alegre, Rio de Janeiro e Brasília. Nessas três cidades se organizaram comitês municipais do legado e foram elaborados os planos municipais de esporte. Estes planos são pauta das secretarias municipais e acompanhados pela sociedade. No primeiro semestre de 2013 iremos para Belo Horizonte, Curitiba e São Paulo. Depois, às sedes do Norte e Nordeste até 2014.

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