Nas últimas décadas, foi marcante o crescimento e o fortalecimento da sociedade civil organizada, especialmente pelos movimentos sociais e organizações do Terceiro Setor, que compõe um novo espaço de interlocução entre o Estado e a Sociedade, atuando na defesa e na promoção da questão urbana, do meio ambiente e das políticas sociais.
Atualmente, a maioria dessas organizações percebeu a importância de uma gestão eficaz, pois passaram a observar que não iriam sobreviver apenas da boa vontade de poucos, mas sim, com formas de gestão voltadas a resultados, com definições de visão, missão, valores, desenvolvimento de lideranças, foco nas pessoas, no negócio e na busca pela sustentabilidade.
Logo, para atingir uma gestão eficaz em busca da sustentabilidade, essas organizações necessitam de gestores, e estes precisam de uma equipe que possua competências para a gestão do negócio organizacional. Porém, grande parte dessas organizações não possui capital disponível para a remuneração desses profissionais, direcionando o recurso disponível para outros fins.
A busca pela sustentabilidade econômica gerou uma espécie de “epidemia” pela profissionalização das organizações do Terceiro Setor, as quais passaram a utilizar instrumentos e técnicas oriundos do mercado e do Estado, nem sempre adaptáveis à essência destas organizações. O conceito de sustentabilidade tem sofrido diferentes abordagens. Inicialmente, a sustentabilidade era visualizada pelo aspecto econômico. Porém, novas esferas têm sido incorporadas a ele, como a ambiental, social, política, cultural, territorial, político nacional e político internacional, tornando o termo mais abrangente.
Apesar de reconhecermos a multidimensionalidade da sustentabilidade, o presente artigo trata apenas da dimensão financeira, ou seja, de seu aspecto mais tradicional. O foco de análise foi restrito, uma vez que acreditamos ser o fator econômico uma das grandes preocupações das organizações do Terceiro Setor.
A preocupação com a sustentabilidade financeira tem afetado os mais variados segmentos de organizações pertencentes ao a este setor, desde as mais tradicionais, como as filantrópicas, até as mais contemporâneas, como as OSCIPs. Como atravessar esta turbulenta tempestade sem deixar a peteca cair é uma das questões enfrentadas pelos gestores e militantes do Terceiro Setor, que buscam conhecer e desenvolver todas as possibilidades de obtenção de recursos, para tê-los em volume suficiente e de forma continuada, sem gerar dependência ou subordinação a nenhuma fonte individual de financiamento.
A diversificação e a ampliação das fontes de recursos é um grande desafio para as organizações, pois os financiadores geralmente são os mesmos, o que limita esta prática. Para não fechar as portas tem-se constatado que grande parte das instituições do Terceiro Setor tem utilizado táticas e estratégias, muitas vezes advindas do setor governamental e empresarial, para se profissionalizarem e se tornarem mais “competitivas”.
Com o intuito de contribuir com a reflexão sobre processos e procedimentos utilizados na busca da sustentabilidade financeira, o presente estudo buscou descrever e divulgar uma ideia que cresce e começa a aparecer na sociedade: as microdoações.
Existem diversas estratégias para uma organização do Terceiro Setor captar recursos em busca da sustentabilidade. Vender produtos, organizar eventos, produzir materiais firmando contratos de prestação de serviços, buscando doações e parcerias com possibilidade de dedução do imposto de renda de pessoas físicas e jurídicas, patrocínios, subvenções e auxílios.
O processo de doação é um contrato em que uma pessoa, por liberalidade, transfere do seu patrimônio bens ou vantagens para outras, conforme dispõe o artigo 538 Código Civil. Este contrato é: unilateral, gratuito, consensual e solene.
A doação pode ser:
Conceito difuso e muito desenhado por organizações e grupos que o praticam. As microdoações são pequenas doações feitas por pessoa física em prol de uma causa ou diversas causas sociais. A ideia central é o baixo impacto no bolso do doador e o grande efeito da doação pelo poder da massa doadora.
Segundo o Movimento Arredondar, a Microdoação é uma tendência no mundo. É possível principalmente por causa da tecnologia que permite arrecadar, controlar, distribuir e facilitar a adesão a movimentos de grande alcance. A proposta, para ter o devido impacto planejado, deve conter como principal meta a conexão do maior número possível de doadores, sendo necessário o estabelecimento de redes e parceiros, além de ter como seu propositor uma organização com devido reconhecimento na sociedade.
O planejamento da microdoação também deve ser pensando para que seja amplo, rápido, fácil, de preferência informatizado, eficiente, transparente e que divulgue fortemente o impacto da ação.
Caso analisado - Movimento Arredondar
O Movimento Arredondar tem como objetivo transformar a cultura de doação em “uma forma nova, simples e verdadeira”. A ideia do movimento não é obter grandes quantias de um único doador, apenas os centavos que sobram no total das compras que o consumidor nem percebe: “esses centavos podem ter um valor incrível quando somados aos centavos de outras pessoas”.
A proposta foca em não dificultar e nem interferir nos hábitos dos doadores. O aceite está em dizer “eu quero arredondar” nos lugares onde o movimento está presente e nos momentos em que o doador achar prudente.
A doação vai se somar a todas a outras para ter um destino único: contribuir com quem trabalha pelos 8 Objetivos do Milênio da ONU. O desejo do grupo é contribuir para que muitas pessoas sintam que não estão sozinhas, mas que há milhares de pessoas agindo por elas, numa loja ou site de compras, e em tantos lugares onde querem disseminar o movimento.
Como funciona a microdoação no Movimento Arredondar?
O Movimento Arredondar funciona quando o consumidor arredonda o valor da sua conta nos locais, empresas parceiras, previamente credenciadas, que aceitam arredondar o valor das compras.
A possibilidade de mais de uma estratégia de captação com foco em pequenas contribuições torna possível a colaboração e a participação de mais pessoas que querem ajudar, porém, acreditam que o que podem oferecer é pouco para gerar impacto. A mobilização em massa é o ponto principal desta ideia.
O efeito das microdoações para as organizações do Terceiro Setor podem garantir a sustentabilidade e proporcionar a realização de diversos projetos.
*Resumo do trabalho final no curso sobre Sustentabilidade em Organizações Sociais, na FAPCOM – Faculdade Paulus de Tecnologia e Comunicação, 2013.