A evolução da ação voluntária no país passa por quatro momentos bem definidos: benemerência, Estado do Bem-Estar Social, voluntariado combativo e integração do Estado com a sociedade civil.
O nascimento formal do voluntariado teve origem no século 19, com o enfoque na benemerência. À época, os problemas sociais eram entendidos como “desvios” da ordem dominante e atribuídos a indivíduos “em desgraça” que, por não terem a oportunidade de se reintegrarem à sociedade, necessitavam da caridade organizada. Assim, famílias mais abastadas, com boas intenções, distribuíam seus excedentes entre os necessitados. Nesse contexto social paternalista, rigoroso e excludente, o “voluntariado de benemerência” era incipiente, moralizador, feminino e baseado em rígidos valores morais.
A partir do século 20, as instituições filantrópicas assistenciais passaram a ter a intervenção do poder público e, a partir da década de 1930, desenvolveu-se uma política de assistência social. O Estado de Bem-Estar Social do pós-guerra pregou a solução total das questões sociais, visando atender a população carente.
O atendimento aos necessitados virou política pública e o Estado assumiu a responsabilidade pelas condições de vida da população. Embora desenvolvesse políticas muito interessantes, foi uma época que favoreceu o individualismo em prejuízo das iniciativas voluntárias ou associativas.
A década de 1960 propiciou irreversíveis transformações de comportamento, politizando e polemizando todas as relações ao extremo, inclusive as pessoais. Com a queda do Estado do Bem-Estar Social, o movimento voluntário viu-se questionado politicamente e sem direção clara.
O movimento ainda foi influenciado por uma corrente contestatória e libertária, presente em quase todos os movimentos sociais de origem popular da época. Com a mudança da sociedade, grupos de pessoas lideraram a participação ativa nas questões sociais e inúmeras organizações sociais foram criadas, caracterizando uma atuação voluntária de ação social.
Surge o voluntariado combativo, muitas vezes distante de seus ideais básicos. Parecia um movimento “desorientado”, “espontâneo”, principalmente jovem e sem perspectivas de uma consolidação institucional que pudesse desenvolver sua identidade. A ação se baseava no pressuposto de uma mudança de ordem social e situava-se, muitas vezes, no âmbito do protesto.
Na metade da década de 1980, com a democratização da América Latina e dos países em desenvolvimento, o neoliberalismo surgiu como concepção político-econômico- cultural no Ocidente.
Os Estados ajustaram seus orçamentos e diminuíram lentamente os financiamentos da assistência social, transferidos para os empreendimentos privados ou para as mãos dos antigos beneficiados. A resposta foi o nascimento de um voluntariado que veio preencher os espaços deixados pelo Estado e que se esforçou para diminuir as necessidades daqueles que ficaram fora do sistema.
A questão deixou de ser responsabilidade exclusiva do Estado, e a sociedade civil passou a ser corresponsável, inclusive pela atuação de organizações sociais, fundações e empresas. O trabalho voluntário começou a ser debatido como peça-chave nessa abordagem de intervenção nos problemas sociais, tanto pela possibilidade individual de ação participativa nos problemas da sociedade quanto pela ação privada para o bem público. Foi um voluntariado de muitas conquistas concretas, de muitas ações assistenciais de atuação primária, que agiu para reduzir problemas latentes.
A década de 1990 abre as portas para um novo voluntariado, que supera o anterior e considera o voluntário como um cidadão que, motivado por valores de participação e solidariedade, doa seu tempo, trabalho e talento de maneira espontânea e não remunerada em prol de causas de interesse social e comunitário.
O movimento Ação da Cidadania Contra a Fome, a Miséria e pela Vida, criado em março de 1993, constituiu-se em fato de extrema relevância para revitalizar uma consciência adormecida na sociedade brasileira. Sua proposta foi deixar de esperar por ações estruturais que não estariam ao alcance do cidadão e estimular o gesto imediato para quem tem fome, partindo para ações emergenciais como um primeiro passo.
A partir dessa ação, outras surgiram com a mesma proposta: fazer com que a sociedade tomasse iniciativas imediatas para resolver seus problemas e, ao mesmo tempo, pressionasse o Estado para que ele cumprisse seu papel de formular políticas públicas.
Outro fato marcante na história do voluntariado no Brasil foi a criação do Programa Voluntários, do Conselho da Comunidade Solidária, em dezembro de 1996. O programa incentivou a constituição de uma rede nacional de Centros de Voluntariado. Hoje, a rede conta com cerca de 60 centros, localizados nas principais cidades do país. São organizações autônomas e independentes financeira e administrativamente, que buscam atender às necessidades da região onde estão inseridas.