Mais de 100 mil pessoas, entre ativistas, observadores e delegados de organizações de 156 países estiveram presentes à terceira edição do Fórum Social Mundial, em Porto Alegre. O evento, que ocorreu entre os dias 23 e 28 de janeiro, terminou com a promessa de um mundo cada vez mais voltado para a busca de alternativas para as questões sociais a partir do debate livre e plural de idéias. Neste ano, temas como a inclusão social, desenvolvimento sustentável e o combate à pobreza e à fome ganharam mais força com a posse do primeiro presidente de esquerda da história do Brasil, cujo principal plano de governo o Fome Zero concentra-se em acabar com a fome no País. Mesmo à frente de um dos mais ousados programas sociais já criados, Lula acabou alimentando a grande polêmica do evento: sua ida ao Fórum Econômico Mundial, sediado em Davos, na Suíça. Este encontro, realizado simultaneamente ao Fórum Social Mundial, é um dos maiores ícones da era neoliberal política e econômica, cujos preceitos são totalmente antagônicos ao do FSM. Não por acaso, o Fórum Social Mundial nasceu justamente como um espaço “de entidades e movimentos da sociedade civil que se opõem ao neoliberalismo e ao domínio do mundo pelo capital e por qualquer forma de imperialismo”, conforme define a Carta de Princípios do evento. O presidente Lula, que também esteve presente ao FSM, disse à multidão que o esperava em Porto Alegre, que levaria as questões levantadas pelo Fórum Social para Davos e, em especial, o Fome Zero com o objetivo de propor um fundo internacional de combate à fome e promover uma aproximação entre ambos os fóruns. Apesar das críticas que sofreu pelos participantes mais radicais do evento de Porto Alegre, Lula foi muito bem-recebido em Davos, superando todas as expectativas. Seu emocionado discurso no Fórum Econômico, dirigido aos mais poderosos empresários e autoridades reunidas, ecoou em todo o mundo como um apelo coerente e urgente de que é preciso rever as políticas econômicas atuais que, hoje, contribuem para maior exclusão social e aumento da pobreza. Outros momentos marcantes do FSM deste ano foram as manifestações contra a guerra no Iraque e as palestras proferidas por personalidades que fizeram lotar os espaços do Gigantinho e da PUC para engrossar os discursos de paz e anti-Bush. Em 2004, o próximo Fórum Social Mundial será realizado na Índia, com o intuito de facilitar a participação de entidades e organizações asiáticas e africanas, devendo voltar para Porto Alegre, em 2005, como afirmam os organizadores. Confira os principais destaques do FSM 2003:
Palestrantes
Entre os dias 23 e 27 de janeiro, diversos temas foram debatidos, entre eles “Paz e Valores”, que contou com a participação do escritor uruguaio Eduardo Galeano, do teólogo Leonardo Boff, da indiana Radha Kumar e do economista suíço Jean Ziegler. Muito aplaudidos, os convidados fizeram duras críticas a George W. Bush e suas intenções de entrar em guerra com o Iraque. Outra personalidade aclamada pelo público foi o lingüista norte-americano Noam Chomsky que também se colocou contra seu próprio governo.
Manifestações Contra
a Guerra no Iraque
O iminente ataque dos EUA ao Iraque foi o tema mais debatido e combatido no III FSM. Organizações e grupos diversos se manifestaram logo na abertura do evento, em uma marcha que reuniu cerca de 70 mil pessoas pelas ruas de Porto Alegre contra a guerra.
Autoridades Políticas
Apesar da Carta de Princípios do FSM não prever a participação de grupos partidários, políticos ou chefes de estado, o presidente Hugo Chávez, da Venezuela, e o ex-presidente de Portugal e atual deputado do Parlamento Europeu, Mário Soares, também marcaram presença em Porto Alegre.
Protestos do Greenpeace
Outras manifestações também tiveram grande repercussão mundial como a da organização ambientalista Greenpeace, que simulou um acidente nuclear com toque de sirene em reação à conclusão da usina atômica de Angra III, visto que o presidente Lula ainda não se manifestou claramente sobre o assunto. Ativistas do Greenpeace ainda penduraram um enorme banner no prédio onde fica a sede da Monsanto, em Porto Alegre, para protestar contra os alimentos geneticamente modificados produzidos pela empresa.