Hércules para presidente

Por: Felipe Mello, Roberto Ravagnani
01 Maio 2010 - 00h00

A espécie humana não vive o seu melhor momento. Possivelmente, nunca na história da humanidade – parafraseando o líder mais influente da humanidade no momento, de acordo com a revista Time – vivemos um período de tamanha barbárie. Aos defensores do racionalismo e da capacidade produtiva, essas afirmações certamente soarão como mero saudosismo de gente atrasada. Até porque esta é a era da criatividade técnica e suas inovações no cotidiano, com aparelhos que facilitam a vida, procedimentos estéticos que fornecem a ilusão da eternidade e pílulas da felicidade – vulgos tranquilizantes – que podem ser compradas por R$ 0,50 na farmácia da esquina.

Embora não faltem argumentos racionais a favor do momento atual, quem guarda em si algum tipo de respeito à vida – os benditos sonhadores – percebe o tamanho do engodo disso que se chama civilização. Interessante perceber que se este é o momento civilizado, imagina-se que o passado foi bárbaro – não no sentido positivo do adjetivo. Exemplos ignominiosos de barbárie não faltam na história; o momento presente é apenas mais um, talvez o mais perigoso, porque o homem nunca teve tanto poder de destruição em massa. Só os Estados Unidos têm mais de 5 mil ogivas nucleares. Que sucesso! Agora eles podem destruir o planeta dezenas de vezes. Sim, barbárie, uma vez que entender como civilização o que se apresenta atualmente é o maior dos crimes contra o futuro da humanidade, pois cria a aparência do caminho certo, que estabelece uma perigosa e letal acomodação.

Antes de falar da verdadeira civilidade, por meio de um exemplo real, alguns tapas na cara de quem confunde progresso com desenvolvimento humano: na capital de São Paulo, o número de homicídios cresceu 23% em relação ao último ano, indicando que mais de quatro pessoas são mortas todos os dias. Ainda no quesito violência explícita, os roubos a banco cresceram 16%, e as extorsões mediante sequestro, 25% no mesmo período. Trata-se da cidade mais rica do país, locomotiva da economia nacional. Pura ironia, obviamente. Mudando de capítulo, outras estatísticas indicam que nos primeiros quatro meses de 2010 foram emplacados mais de 1 milhão de automóveis no Brasil. Quem vive em cidades de porte médio ou grande sabe que a equação “mais carros e ínfimo investimento em transporte coletivo” resultará em um colapso. Mas para que pensar em colapso se é a hora de estourar champanhes pelo sucesso das vendas? Como diria Rui Barbosa, “ó, bucéfalos anácronos!”. Para terminar essa sessão de argumentos, a lista dos remédios mais vendidos em 2008 em solo tupiniquim indica o Rivotril – o tranquilizante já citado neste texto – na segunda colocação, ultrapassando produtos como Aspirina. Talvez isso justifique a sonolência frente a fatos tão contundentes.

Há uma tremenda confusão acontecendo: a era da informação é comemorada a torto e a direito e o mundo do conhecimento é aplaudido. Mas frente à realidade inegável fica claro que Píndaro tinha razão, ainda no sexto século antes de Cristo, quando dizia que “a sabedoria é o conhecimento temperado pela ética”. Informação e conhecimento não geram dignidade de vida se não forem sábios. Na mesma linha, dois dos mais expressivos gênios da humanidade podem completar o argumento: Benjamin Franklin, ao dizer que “a maior sabedoria consiste em descobrir como aumentar o bem-estar no mundo”, e Sir Isaac Newton, afirmando categoricamente que “construímos muros demais e pontes de menos”; certamente este não estava se referindo às obras da engenharia civil.

Como seria bom se Hércules fosse candidato a presidente do Brasil. Melhor ainda: se fosse candidato a governante do planeta Terra! Por quê? O mito de Hércules foi a base da formação do homem grego durante muitos séculos, dentro de processo amplo que se chamava Paideia (que durava praticamente a vida toda do indivíduo). Esse momento da humanidade (anterior ao século quinto antes de Cristo) tem o direito de se proclamar uma civilização, embora não houvesse internet disponível nem celulares que fizessem de tudo um pouco. Hércules, afinal, representa o caminho do herói, que descobre a duras penas que pela força bruta não se consegue o necessário aprimoramento. Em sua trajetória, enquanto usou braços, pernas e dentes o desastre foi completo.

Iluminado pelas divindades Atená (sabedoria), Hermes (caminhos e meios) e Eros (paixão) ele aprendeu, entre outras lições representadas pelos seus 12 trabalhos, a sufocar sua violência interna, a vigiar seus vícios, a criar para si e respeitar os limites alheios, além de sempre dosar potência com gentileza e respeito à vida. Questões absolutamente urgentes nos dias atuais, marcados pela falta de respeito ao direito inalienável de nascer, viver e morrer com dignidade e honra.

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