Fundos especializados já investiram mais de R$ 100 mi em empresas de impacto social

Por: Thaís Iannarelli
17 Outubro 2016 - 16h11

A Vox Capital, por exemplo, é um fundo brasileiro especializado em negócios de impacto social. Apesar de estar em operação desde 2009, foi em 2012 que formou seu primeiro fundo, com foco na área da saúde, educação e serviços financeiros. O modelo é o de venture capital, ou capital de risco. Na prática, o fundo faz a ponte entre o dinheiro de grandes instituições ou famílias e empreendedores que tenham boa capacidade de execução. Prova disso é que não investe apenas em ideias. “Os negócios vêm em fase mais avançada, geralmente depois de passar por aceleradoras como a Artemisia”, diz Júlia Profeta, sócia da Vox Capital.

A empresa que recebe um aporte da Vox cede entre 20% e 40% de participação aos investidores. Além disso, o fundo participa do conselho de administração de todas as empresas investidas. Elas passam anualmente por uma auditoria financeira e do impacto produzido, com base na metodologia do Sistema de Avaliação Global de Impacto (Giirs na sigla em inglês).

Da mesma maneira que qualquer fundo de investimento, a Vox planeja a saída de uma empresa investida para fundos maiores, como os de private equity (quando a empresa abre capital), ou para players estratégicos, como outra companhia maior, do mesmo segmento de atuação.

Em seu primeiro fundo, a Vox investiu em dez empresas, com um tíquete médio entre R$ 5 milhões e R$ 7 milhões. Júlia revelou que o segundo fundo, de R$ 120 milhões, foi aberto em julho. O plano é investir o montante em 10 a 12 empresas. No foco estão os setores de saúde, educação e serviços financeiros.

A Vox foi eleita pelo quarto ano consecutivo como um dos melhores fundos de investimento com foco em impacto social no mundo, em levantamento do site norte-americano Impact Asset.

Meio ambiente também no foco

A Mov Investimentos também faz a gestão de aportes em negócios de impacto. Em atuação desde 2012, tem cinco empresas em seu portfólio. “Olhamos para cinco setores: educação, habitação, reciclagem, energias renováveis e florestas”, diz Kim Machlup, sócia da Mov.

Os aportes são efetuados somente em empresas que têm escala. “Se a gente aportar capital numa empresa de educação é porque acreditamos que ela vai resolver um problema para milhões de pessoas, não apenas cinco mil”, exemplifica. Antes de cada aporte, a Mov faz uma tese de impacto. Só depois dessa avaliação o comitê de investimentos é informado sobre o grande objetivo da empresa, ou seja, o que ela se propõe a fazer.

As empresas recebem de R$ 2 milhões a R$ 5 milhões na primeira rodada, mas os valores podem aumentar conforme o crescimento das companhias. Apesar de participar intensivamente do negócio, a Mov sempre detém participação minoritária.

Apoio indireto

Além dos fundos, outras instituições apoiam esse tipo de empreendimento. É o caso do Instituto Alana, que por meio do seu braço de participações Alanapar faz investimentos em fundos como o da Vox Capital. O instituto já investiu R$ 10 milhões em negócios de impacto social, além de fechar parcerias com aceleradoras e oferecer mentoria a empreendedores.

“Olhamos para retorno em médio e longo prazo, mas nosso olhar sempre é em projetos em que muita gente não investiria”, diz Flávia Doria, gestora de planejamento do Instituto Alana.

A proposta é semelhante à do Grupo de Institutos, Fundações e Empresas (Gife), associação brasileira que reúne investidores interessados em impacto social. O secretário-geral do Gife, Andre Degenszajn, explica que os cerca de 130 associados investem anualmente R$ 3 bilhões na área social, incluindo aportes em empresas com esse foco.

O modelo de apoio varia entre os associados. Há aqueles que preferem apoiar diretamente os fundos, como Mov e Vox, até para diminuir seus riscos, enquanto outras empresas preferem realizar investimentos nos intermediários do ecossistema, como aceleradoras.

Exemplo internacional

Um modelo internacional de investimento que o Gife luta para adotar no Brasil é o dos Social Impact Bonds (SICs), títulos públicos com a finalidade específica de apoiar negócios sociais. É como se o governo de cada país emitisse um papel para captar recursos privados e financiar dessa forma um projeto social. O papel só é resgatado pelo investidor se a iniciativa der resultado, ou seja, comprovar o impacto gerado. A lógica é que, em caso de sucesso, o negócio vai gerar economia para o poder público. Assim, além de devolver o montante utilizado no projeto, o governo bonifica as pessoas que apostaram nele.

Holanda, Israel, Estados Unidos e Inglaterra já usam a modalidade. A ONG inglesa Social Finance captou 5 milhões de libras para um fundo de reabilitação de presidiários e realizou várias ações para evitar que cerca de mil homens detidos por pequenos delitos voltassem à criminalidade. A reincidência gerava alto custo ao governo britânico. O experimento ainda não foi concluído, mas os resultados até agora já são significativos. Se a meta for batida, os investidores receberão o valor de volta e ainda um bônus de 40%. Para o Estado. a economia será ainda maior.

No Brasil, um ponto que dificulta a adoção dos SICs é a falta de dados precisos sobre os custos dos problemas sociais. Outro é a dificuldade de aferição do impacto causado por ONGs em contratos com o poder público.

No radar das corporações

Grandes empresas também estão atentas ao filão social. Neste ano acontece a primeira edição brasileira do Yunus Corporate Action Tank, programa da aceleradora Yunus Negócios Sociais Brasil que visa fomentar a criação de projetos com esse perfil por grandes empresas. Oito companhias participam e. ao final, irão lançar negócios, seja em outro braço corporativo ou mesmo em algum programa já existente.

As participantes, entre elas a fabricante de bebidas Ambev e a sucroalcooleira Cosan, recebem mentoria de especialistas. Um deles é o professor Nicholas Haan, da Singularity University, instituição internacional que discute em cursos de curta e média duração como resolver os grandes problemas da humanidade.

Segundo Haan, as grandes empresas também precisam se mostrar preocupadas com o meio ambiente e com a sociedade de uma forma geral. “Os millennials pensam em cada vez mais em ajudar o planeta, seja na questão ambiental ou ao consumir produtos de empresas que façam ações positivas”, diz. “As empresas precisam pelo menos mostrar que fazem alguma coisa”, afirma.

Fonte: DCI / Raphael Ferreira

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