Formação Multicultural

Por: Paula Craveiro
07 Outubro 2015 - 12h54

Em busca de novos conhecimentos, muitos brasileiros têm encontrado nos cursos de graduação e pós-graduação no exterior a possibilidade de incrementar seus currículos, destacando-se no concorrido mercado de trabalho, e de viver novas experiências. Para os profissionais do Terceiro Setor, estudar fora pode ser uma vivência ainda mais interessante

Nos últimos anos, tem crescido o número de pessoas interessadas em estudar no exterior. Segundo dados da pesquisa “Mercado de Educação Internacional e Intercâmbio do Brasil”, realizada em 2013 pela Brazilian Educational & Language Travel Association (Belta), a procura por intercâmbios e cursos de graduação e pós-graduação fora do Brasil cresceu aproximadamente 600% na última década.

“A exigência do mercado de trabalho por um diferencial no currículo, as facilidades em se financiar uma viagem internacional e as variedades de programas de estudos são alguns dos motivos que têm deixado o setor aquecido”, diz o presidente da Belta, Carlos Robles.

A internacionalização também tem sido uma das peças-chave do mundo educacional, profissional e empresarial de hoje. Em um mundo cada vez mais unificado e globalizado, ter uma experiência internacional no currículo acadêmico e profissional definitivamente colocará a pessoa em destaque, em um mercado de trabalho extremamente competitivo.

“Estudar no exterior amplia perspectivas profissionais, bem como permite que se veja a própria realidade de outra maneira, aumenta as possibilidades de conexões com pessoas e a aquisição de novos conhecimentos”, explica Paula Chies Schommer, representante no Brasil da International Society for Third-Sector Research (ISTR).

Foco No Terceiro Setor

Para um profissional atuante no Terceiro Setor, passar um tempo no exterior pode ser uma experiência ainda mais interessante, afinal, existe uma série de grandes oportunidades à sua espera.

“Estar em outro país permite entrar em contato com diferentes valores, culturas e ideias, e conhecer variadas formas de mobilização e organização comunitária, assim como também dá a oportunidade de compreender um pouco melhor a relação entre Estado e sociedade. Outro ponto positivo é a chance de conhecer alternativas de gestão, como modos e instrumentos de comunicação, mobilização de recursos, envolvimento de voluntários e conselheiros, entre outras”, afirma Paula Chies, do ISTR.

Fazer uma graduação ou uma especialização no exterior também pode ser uma excelente oportunidade para divulgar para as pessoas de outras localidades as experiências brasileiras no Terceiro Setor e para valorizar o que se faz de bom aqui. “Há um elevado grau de interesse internacional sobre as práticas brasileiras de participação, envolvimento comunitário, organizações do Terceiro Setor e relações entre o Estado e os cidadãos”, ela comenta.

Além disso, ao estar no exterior permite engajar-se em redes internacionais que trabalham em causas similares às de sua organização no Brasil. “Isso amplia as oportunidades de aprendizagem compartilhadas e de efeitos sobre as políticas e as práticas sobre as quais se procurar incidir. Ao retornar ao seu trabalho, você se sente mais fortalecido política e tecnicamente, usualmente cheio de ideias e de energia para prosseguir”, conclui Paula.

Preparação E Pesquisa São Essenciais

Ao decidir estudar fora do país, é fundamental que o futuro estudante faça um levantamento minucioso sobre o destino, o tipo de curso desejado, programa de estudos escolhidos, entre outros aspectos.

Segundo Ana Paula Castro, consultora da Skope Intercâmbio, a primeira preocupação necessária diz respeito à empresa pela qual o estudante viajará. “É preciso verificar a tradição da empresa, há quanto tempo foi fundada, sua origem. Outro ponto é verificar qual será o suporte oferecido durante o período em que o aluno estiver fora e de que forma será feito”, salienta a especialista, que também ressalta a necessidade de se checar se as escolas selecionadas são reconhecidas pelos órgãos competentes do país e qual é a validade do certificado fornecido após a conclusão do curso.

Além disso, o candidato a estudar no exterior deve estar atento ao planejamento dos estudos. Isso significa que ele deve procurar saber o número de horas-aula, a localização da escola, a acomodação, qual é o público que frequenta as aulas, como é a segurança no local, se precisa de visto, vacinas, informações sobre voo e custo de vida local.

Cursos E Instituições

O leque de opções de cursos relacionados ao Terceiro Setor é muito grande, afirma Paula Chies. Porém é importante notar que eles muitas vezes não têm títulos claros e objetivos, o que pode levar ao erro no momento de sua escolha. “Nem sempre os cursos contêm termos óbvios em seus nomes, como Third-Sector (Terceiro Setor). Por vezes, os nomes dos cursos correspondem aos temas associados à discussão sobre Terceiro Setor, como nonprofit organizations (organizações sem fins lucrativos), philanthropy (filantropia), civil society (sociedade civil), social innovation (inovação social), entre outros. Esses termos variam de um país para outro, portanto, é preciso estar bem atento a essas variações”, ela adverte.

Experiências

No início de 2015, a catarinense Alanna Sousa embarcou para Nairóbi, no Quênia, para cursar pós-graduação em Gestão da Inovação Social pelo Instituto Amani. “A oportunidade surgiu quando comecei a pesquisar cursos de pós-graduação e de mestrado com temática voltada para Empreendedorismo e Inovação Social. A princípio, não estava buscando necessariamente em programas no exterior, mas a ideia de estudar fora, principalmente em um país diferente dos que já estudei, era bastante atraente e poderia ser um fator diferencial na hora de escolher qual programa seguir”, lembra Alanna.

Centros Acadêmicos Afiliados Ao ISTR

Fundada em 1992 e sediada em Baltimore, nos Estados Unidos, a International Society for Third-Sector Research (ISTR) é considerada a maior associação internacional de promoção à pesquisa e à educação nas áreas de sociedade civil, filantropia e Terceiro Setor. A ISTR tem a missão de promover pesquisas de alta qualidade focadas em questões do Terceiro Setor, incluindo teorias e políticas. Para isso, conta com uma ampla rede de centros acadêmicos afiliados nos cinco continentes. Entre as principais instituições de ensino estão:

  • CEDES – Centro de Estudios de Estado y Sociedad (Argentina)
  • Center for Nonprofit Strategy and Management, da Baruch College (Estados Unidos)
  • Center for Social Impact, da Universidade de New South Wales (Austrália)
  • Centre d’Economie Sociale, da Universidade de Liège (Bélgica)
  • Centre for Public Services Research (CPSR), da Universidade de Edimburgo (Reino Unido)
  • Centro de Empreendedorismo Social e Administração em Terceiro Setor (CEATS), da Fundação Instituto de Administração (FIA) (Brasil)
  • Centro de Estudos em Administração Pública e Governo, da Fundação Getulio Vargas (Brasil)
  • Civil Society Center, da Universidade Zeppelin (Alemanha)
  • Haas Center for Public Service, da Universidade de Stanford (Estados Unidos)
  • Mendoza College of Business, da Universidade de Notre Dame (Estados Unidos)
  • Center for Civil Society, da Universidade Johns Hopkins (Estados Unidos)
  • Observatorio Social, da Universidade Alberto Hurtado (Chile)
  • OSIPP Center for Nonprofit Research & Information, da Osaka University (Japão)
  • Program on Nonprofit Organizations, da Universidade de Yale (Estados Unidos)
  • Third Sector Research Centre, da Universidade de Birmingham (Reino Unido)

A relação completa de centros acadêmicos está disponível em: https://istr.site-ym.com/?

Com duração de cinco meses, o curso intensivo combinou teoria (duas ou três aulas por semana no Instituto, em período integral), e prática, e contou com o desenvolvimento de projetos de inovação social e trabalho em uma das organizações parceiras do Instituto (no caso de Alanna, o trabalho foi realizado na Ashoka East Africa, a maior rede de networking de empreendedores sociais, com sede em Washington D.C., nos Estados Unidos), além de três viagens exploratórias pelo Quênia, em que os alunos tinham os cursos de Bioempatia e Sistemas de Mudança.

“Do ponto de vista profissional, acredito que esse tipo de experiência representa um importante diferencial no currículo. O fato de estudar fora, ainda mais em uma das maiores potências em desenvolvimento do continente africano, com certeza é um fator que não passa despercebido”, ela ressalta. “Pessoalmente, essa experiência representa grande crescimento e amadurecimento pessoal. Morar em Nairóbi abriu minha mente para várias coisas que antes não me pareciam tão claras ou que eu desconhecia. Somente quando se sai da zona de conforto de nossa casa é que se torna possível conhecer e compreender efetivamente o mundo”.

A professora da Universidade de São Paulo (USP) e estudiosa do Terceiro Setor, Patrícia Mendonça, também optou por um curso no exterior. A intenção de estudar fora surgiu em 2002, quanto ela começou a pesquisar cursos de pós-graduação. “Na ocasião, escolhi London School of Economics, em Londres, na Inglaterra, considerada uma das instituições de maior prestígio na área de Ciências Sociais. A instituição possui muitos cursos e atividades focados em temas relacionados a políticas sociais, gestão de OSCs e desenvolvimento, que eram os temas que me interessavam na época. Acabei optando pelo curso de Planejamento de Políticas Sociais, e fazendo matérias no curso de Gestão de ONGs”, conta Patrícia.

“Estudar no exterior, independente do local e do curso escolhido, é uma experiência única, pela possibilidade de se aprofundar nos temas e nos assuntos de interesse, de poder acompanhar experiências de outros países e pelo convívio com colegas de diferentes países e culturas”, ressalta a professora.

Alanna Sousa concorda com a afirmação e complementa a opinião, com base em sua vivência: “A experiência como um todo – curso e morada em Nairóbi – foi um grande aprendizado para levarei para a vida toda. Um dos grandes diferenciais da Amani, e foi por isso a escolhi, é o fato de o curso ser multicultural; minha turma era formada por 17 alunos, vindos de noves países e dos cinco continentes, além de termos professores e palestrantes também de outros países, que viajavam até nós para compartilhar suas experiências profissionais e de vida. Poder discutir inovação social com pessoas de backgrounds completamente distintos é extremamente enriquecedor. Isso sim é pensar e viver ‘fora da caixa’. Outro fator marcante foi aprender a lidar com as complexidades e os desafios da realidade local. Nairóbi é uma metrópole que está crescendo muito rápido, mas não de forma planejada. Convivemos com constantes problemas de abastecimento de água e de energia, com falta de calçadas e desrespeito aos pedestres, o que torna extremamente difícil caminhar nas ruas, bem como o alto nível de poluição, o transporte público precário e a violência, que incluem, além dos assaltos, as ameaças e eventuais ações terroristas. Mas, por incrível que pareça, existe um lado bom nisso tudo: não faria sentido estudar inovação social em um país que fosse perfeito. Viver em uma cidade como Nairóbi nos lembra diariamente o porquê de termos escolhido estudar e trabalhar na área social”, conclui.

 

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