Flores do Primavera

Por: Felipe Mello, Roberto Ravagnani
01 Maio 2003 - 00h00
Para contextualizarmos a atual apresentação, pegamos carona no túnel do tempo para contar que a entidade em questão desabrochou as suas primeiras pétalas lá pelos idos de 1981, a partir da decisão de três voluntárias, mães e donas de casa, que atenderam a um chamado direto de seis adolescentes moradoras do Jardim São Marcos, na periferia de Campinas/SP, que pediam a oportunidade de aproveitarem de forma útil o seu tempo livre.

Estava claro que aquelas adolescentes buscavam o referido cosmético em suas vidas, provavelmente de modo instintivo, como um gesto de resistência à palidez de um ambiente que mais parecia um rosto sem motivos para sorrir, sem motivos para embelezar aquelas jovens mulheres com a alegria nas coisas da vida. Felizmente o chamado foi respondido e, a partir de então, dia após dia, uma nova semente era incorporada ao terreno, indicando que ali se formava um rico jardim que, de flor em flor, deu origem ao Grupo Primavera, organização juridicamente estruturada em 1992, momento no qual as atividades já aconteciam durante cinco dias por semana, em dois períodos. O nome foi escolhido pelas próprias jovens e tem um simbolismo muito forte: trata-se de uma analogia à fase de suas vidas, em pleno florescimento.

Pilares básicos

A evolução das atividades e as necessidades recorrentes fizeram com que o Grupo Primavera não desviasse o seu alicerce de quatro pilares básicos: focar o atendimento às adolescentes do sexo feminino, ter a sua localização no próprio bairro das usuárias, desenvolver e cultivar o caráter voluntário e buscar incessantemente a sustentabilidade própria. Essas definições tornaram sólida a base do trabalho, permitindo alcançar resultados expressivos, tais como o atual atendimento às 300 jovens garotas que freqüentam as suas atividades.

Os trabalhos têm como objetivos principais o resgate dos valores de cidadania, a auto-estima, o despertar dos agentes internos potencializadores de mudanças e a colaboração para a inserção social de cidadãs, fomentando conhecimentos específicos e treinamento de atitudes básicas para o trabalho e a continuidade dos estudos. O Grupo Primavera, ao desenvolver um programa sócio-educativo fundamentado em valores, demonstra uma forte preocupação com a qualidade do atendimento, sendo que a passagem das jovens tem duração de até quatro anos e atendimento personalizado. Até hoje, mais de 1.500 adolescentes passaram pela entidade, e constituem um grupo de verdadeiras mulheres cidadãs, atuando em profissões diversificadas como enfermeiras, professoras, esteticistas, costureiras, artesãs, cozinheiras, e até engenheiras, sociólogas e pedagogas.

Fabricando futuros e bonecas

É difícil imaginar que uma singela boneca de pano trazida da Filadélfia em 1996 iria afetar tão diretamente a vida das garotas que faziam parte das atividades da organização, e proporcionaria um impulso tão significativo no processo de captação de recursos do Grupo Primavera.

Morton Sand, um empresário americano, em visita ao Grupo Primavera, constatou tanto o potencial da instituição quanto a necessidade de se buscar fontes de sustentabilidade para a obra. Sand intermediou, então, a aproximação entre o Grupo Primavera e a empresa Little Souls, cuja proprietária, Gretchen Wilson, possuía um trabalho de cooperação com o serviço social de países em desenvolvimento. Em 1997, uma jovem formada no Grupo Primavera foi aos Estados Unidos para receber treinamento e adquirir o know-how da confecção das bonecas, cedido pela empresa Little Souls. A fabricação começou de forma tímida: 200 unidades em 1997, passando a 340 em 1998, 450 em 1999 e a expectativa de produzir 800 bonecas no ano seguinte. Surpreendentemente a produção e a venda de bonecas extrapolou todas as previsões em 2000, chegando ao total de 3.500 unidades, número esse crescido para 3.600 em 2001. Tornando-se o símbolo “mascote” do Grupo Primavera, as bonecas são comercializadas em shopping centers, lojas de artigos infantis, feiras diversas e eventos. As bonecas de pano do Grupo Primavera conseguem mobilizar a vida de muitas adolescentes, ajudando a captar recursos para sustentar a entidade, além de trazer contribuição efetiva ao orçamento de muitas famílias da comunidade.

Interação de funcionários
e voluntários

Da fundação, em 1981, até a estruturação jurídica, em 1992, os trabalhos foram todos liderados e executados por um corpo de voluntários dedicado e motivado. E vale ressaltar que a união e coesão do grupo de voluntários estão diretamente relacionadas à atitude da liderança, que inspira aqueles que navegam no mesmo barco. As crescentes exigências dos programas, que já atendiam centenas de usuárias, fizeram com que a organização passasse a contratar funcionários e prestadores de serviços especializados, porém, cultivando em todos o espírito de serviço e doação das voluntárias. Outro ponto importante a se destacar: quando existem grupos de funcionários desenvolvendo atividades em conjunto com voluntários, é ainda mais premente a manutenção do sentimento de equipe, de participação coletiva, fazendo emanar a certeza de que todos, sem exceção, possuem parcela de responsabilidade na superação dos obstáculos e no alcance dos resultados.

Nestes 23 anos de atividades passaram pelo Grupo Primavera aproximadamente 170 voluntários. Alguns deles estão na instituição desde sua fundação e muitos, mesmo residindo no exterior, continuam ligados à instituição, ajudando-a de alguma forma e dando apoio aos programas. Atualmente, a instituição conta com uma equipe de 32 voluntários e 26 funcionários, dos quais 15 são jovens formadas na entidade, hoje contratadas como artesãs, promotoras de vendas ou monitoras. Essas profissionais, em função da importância de seus papéis, são convidadas a participar freqüentemente de cursos e seminários do Terceiro Setor, internos e externos, treinamentos em informática, workshops de comunicação, cursos específicos como gestão e outros, além de reuniões e vivências motivacionais semestrais. Ponto para a administração da entidade que, além de dar oportunidade de desenvolvimento das próprias atendidas, investe na sua capacitação contínua.

Superando os desafios através
da auto-sustentação

Buscando segurança para o desenvolvimento de suas ações, é muito prudente que a entidade diversifique as suas fontes de recurso, a fim de que não seja surpreendida por uma interrupção de um apoiador. Dentro do Grupo Primavera, os recursos têm várias origens, sendo as principais as contribuições do governo municipal, de empresas privadas, de agências internacionais e o mais importante e digno de aplausos, da venda de artesanato produzido na própria entidade.

Anualmente mais de 51% da receita da entidade provêm de fontes próprias. O que significa isso? As oficinas de produção de bonecas são responsáveis pela maior parte dos recursos que mantêm a organização, aliando o desenvolvimento dos atendidos ao processo de melhoria da entidade. Cria-se, assim, forte corrente de comprometimento, fazendo com que a equipe seja verdadeiramente dona de seu destino, estimulando senso oportuno de propriedade.

Pertinente lembrar também que as verbas públicas destinadas à organização são cada vez menores, além de que o fato do Grupo Primavera ter recebido alguns prêmios pelo seu desempenho chega até a passar a errônea impressão de que não há necessidade constante e crescente de novos recursos.

E para deixar muito claro e transparente tudo aquilo que o seu trabalho produz, ganhando credibilidade no momento de angariar recursos, a entidade dá outro exemplo ao ter o seu balanço auditado pela FEAC e Price Waterhouse Coopers, publicando-o anualmente em jornal de grande circulação da cidade de Campinas.

É difícil imaginar que uma singela boneca iria afetar tanto a vida das garotas da organização

Qualidade do sorriso

A organização considera como pontos fortes sua organização, transparência e qualidade, além de outros como a quebra de paradigmas – inovando para atingir os objetivos sócio-educativos propostos. Desses pontos, elege como o mais forte a qualidade, perseguida desde os pequenos detalhes de uma peça bordada até os programas mais abrangentes de transformação comunitária. Todas as propostas da instituição passam por rigorosa análise, planejamento, acompanhamento e avaliação. Afinal de contas, essas medidas são indispensáveis para assegurar que a missão do Grupo seja alcançada em sua plenitude, primavera após primavera.

VOLUNTARIADO

Áreas: arte e cultura, comunicação e expressão, trabalhos manuais (bordado), preparação para o trabalho entre outros.

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