Soninha Francine

Por: Thaís Iannarelli
01 Maio 2009 - 00h00

Sônia Francine Gaspar Marmo, mais conhecida como Soninha, tornou-se famosa nos anos 1990 como uma das VJs da MTV, canal de música e informação voltado para jovens. Formada em cinema pela Universidade de São Paulo (USP), apresentou também programas em outros canais e, atualmente, escreve algumas colunas e é comentarista esportiva da ESPN Brasil.

Além da faceta de comunicadora, Soninha sempre conviveu com a vontade de mudar as injustiças da sociedade. Foi isso que a levou para o mundo da política. Em 2004, tornou-se vereadora pelo Partido dos Trabalhadores (PT), em São Paulo, e, até o fim do seu mandato, trabalhou em defesa dos direitos humanos e da democratização do acesso ao esporte e à cultura. Hoje, atua como subprefeita da região da Lapa e continua ligada a essas questões.



Revista Filantropia: Quando trabalhava na televisão, seu contato com os jovens era grande. Qual era a sua posição em relação ao comportamento deles frente às questões sociais?

Soninha Francine: Na verdade comecei a trabalhar com jovens por coincidência, porque quando estava na faculdade, recebi um convite para ir para a MTV. Mas lembro-me de quando eu tinha uns 14 anos e achava que os jovens eram idealistas, inconformados, mas que isso passava com o tempo. Para mim, sentia que o que me incomodava continuaria me incomodando, não passaria. E o jovem de hoje continua tendo indignação, revolta, vontade de mudar as coisas. É natural dessa etapa da vida, que é quando você precisa escolher para onde vai. Então, da primeira à oitava série, você vai passando de ano, simplesmente. Depois, você já começa a decidir por si mesmo, tem de fazer escolhas sozinho, então é legal preservar essa vontade de fazer as coisas de maneira diferente. O que eu queria era reconhecer esse vigor, essa indignação, e dar razão a ela. Muitas vezes, os jovens ouvem dos mais velhos: olha, que bonitinhos os jovens, como são idealistas. Eu acho bom que eles sejam idealistas! E que não se esqueçam disso quando ficarem mais velhos.

RF: E como foi sua decisão de entrar na vida política?

SF: Isso também foi desde os meus 13, 14 anos. Eu queria fazer as coisas, mudar o mundo, e a política, certamente, é um meio de se fazer isso. Mas quando eu tinha essa idade era a época da ditadura militar, havia eleições indiretas para presidente, então desisti da ideia da política, porque seria tudo tão limitado que eu não ia conseguir mudar mundo nenhum. Mas nunca deixei de ser militante, engajada, então, se ia para a televisão, continuava querendo mudar o mundo. Se eu dava aula, também. Depois de uns anos, isso não passava. Eu achava legal trabalhar na televisão, fazer um programa de debate, de informação, de conscientização das pessoas, mas não adianta você conscientizar alguém da importância de fazer coleta seletiva se não vai haver coleta seletiva. Comecei a ficar tão frustrada, que acabei voltando pra ideia original de entrar na política, para ter mais alcance e poder mudar alguma coisa.

RF: Como você enxerga a atuação das organizações sociais no país?

SF: Muitos dizem que as ONGs são substitutas do Estado, que deveria garantir os direitos, mas eu não vejo assim. Tudo bem, claro que é papel do Estado, mas desde quando o Estado é um ente à parte, competente, todo poderoso, capaz de fazer tudo por si? Quando estamos fora da política, da máquina pública, olhamos para o Estado e pensamos que ele tem de garantir educação, saúde, meio ambiente saudável etc. Mas quando estamos dentro da administração pública, olhamos para a sociedade e pedimos socorro. A participação dela é necessária para garantir todos esses direitos, isso sem a menor dúvida. Eu vim para o poder público, mas tenho certeza de que a sociedade civil é indispensável para a formação e para o desenvolvimento.

RF: Então, a atuação do Estado e das organizações da sociedade civil é diferenciada?

SF: Sim, são coisas diferentes. Por outro lado, as pessoas podem dizer: para que ter o Estado se as ONGs fazem melhor? Mas aí é que está, são possibilidades distintas. O Estado tem de garantir a universalidade e, com isso, tem um pouco de limitação também, porque são experiências, e não dá para ficar experimentando muita coisa, não se pode criar diferenças, é preciso buscar essa universalização. Já com as ONGs, é possível experimentar, focar em determinados públicos de um lugar específico, ou seja, é possível enxergar as particularidades de um grupo da população. Então os dois lados se complementam, até com objetivos semelhantes, e abrem possibilidades de ação totalmente diferentes.

RF: Em sua opinião, existe um problema principal específico a ser combatido na sociedade brasileira?

SF: Existe uma ação que eu acho que resolveria todas as coisas, que é reduzir as distâncias, todas elas. Nosso problema é tanto ser um país pobre quanto ser um país desigual. A desigualdade acentua os problemas da pobreza em si. Por causa dela você acaba, por exemplo, “expulsando” os mais pobres para cada vez mais longe dos centros urbanos, dos lugares com melhor infraestrutura. E o preço da terra sobe, porque à medida que começa a existir interesse econômico, passa-se a cobrar mais para morar em tal lugar. As distâncias dos tipos de vida, de escolaridade, e até as distâncias geográficas, colocam as pessoas mais distantes umas das outras. Mas como existe também a riqueza e a prosperidade, acaba existindo o desejo do consumo e as diferenças. Esse é o problema que temos de resolver.

RF: E qual seria o meio para resolver essa questão?

SF: São coisas indispensáveis. Por exemplo, basta analisar os conjuntos habitacionais da periferia, onde há muitas pessoas morando em imóveis modestos, com as casas iguais às outras, sem nenhuma riqueza de cidade. E o que é riqueza de cidade? É ter diversidade, comércio, serviços, cultura, espaços de convivência. Quem mora em Cidade Tiradentes, por exemplo, “vem para a cidade” para encontrar os itens que precisa para viver. Depois ele volta lá pro “interior”. Isso não é qualidade de vida, tem de ter uma reforma urbana para reduzir essas distâncias. Então, temos de ver as classes sociais pobres e tomar medidas sociais ricas. Distâncias de serviços, esse é o ponto. Essa estrutura também é necessária para se ter outra relação com o meio ambiente, com as pessoas, com o sistema de valores.

RF: Que outros benefícios essa aproximação pode trazer?

SF: Muitos. Há um instrumento, também superpoderoso do ponto de vista da geração de renda, das atividades econômicas que isso traria, e de promoção de qualidade de vida mesmo. Além disso, todos devem ter acesso à boa música, à literatura. Então precisamos conseguir fomentar, garantir o acesso e a difusão disso. Afinal, como você considera a vida de uma pessoa, se é rica ou se é pobre? A pessoa rica materialmente, mas que tem uma vida cultural pobre, pode ser infeliz, estressada e deprimida, por exemplo. Então, ter acesso a essas informações é importante para todas as pessoas.

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