Certificação
Criado pelo Instituto de Hospitalidade (IH), em parceria com o Conselho Brasileiro de Turismo Sustentável (CBTS) e com o apoio do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), da Agência de Promoção de Exportações e Investimentos, do Sebrae e do Ministério do Turismo, o Programa de Certificação em Turismo Sustentável (PCTS) tem como meta melhorar a qualidade e a competitividade das micro e pequenas empresas de turismo, a fim de estimular seu desempenho nas áreas econômica, ambiental, cultural e social.
“O PCTS contempla, ainda, ações no sentido de aumentar a participação do Brasil no mercado internacional, por meio de oportunidades de promoção comercial no exterior oferecidas às empresas. Assim, o programa visa apoiar os empreendedores de turismo a responderem aos novos desafios do setor e contribuírem para o desenvolvimento sustentável do país”, explica André Chamusca.
Desde 2003, o PCTS deu ênfase ao desenvolvimento, com ampla participação de toda a sociedade, de uma norma para os meios de hospedagem, especificando os requisitos mínimos relativos à sustentabilidade. Chamusca explica que a norma desenvolvida anteriormente, denominada “NIH-54: 2004 – Meios de Hospedagem – Requisitos para a Sustentabilidade”, foi utilizada como texto-base para a publicação de uma Norma Brasileira (NBR), no âmbito da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Conhecida como “NBR 15401:2006 – Meios de Hospedagem – Sistema de gestão da Sustentabilidade – Requisitos”, ela reiterou a representatividade do IH no cenário do turismo nacional.
A idéia da certificação busca a manutenção do equilíbrio entre os três eixos sobre os quais o turismo sustentável se apóia: suportável ecologicamente, viável economicamente e eqüitativo na perspectiva ética e social. “Em meados deste ano, o PCTS foi incorporado ao Programa Bem Receber, também iniciativa do IH e com o apoio do Ministério do Turismo e do Sebrae, que tem como diferencial oferecer às empresas participantes ferramentas de qualificação profissional para seus colaboradores”, conta Chamusca. A meta do Bem Receber é implementar um sistema de gestão sustentável em 565 meios de hospedagem de 30 destinos brasileiros até o final de 2008, qualificando 6.800 profissionais da área de hotelaria.
Mesmo sabendo dos avanços, Chamusca aponta as falhas ainda existentes no setor: “Há muito no que avançar, especialmente no que se refere a políticas públicas de regulamentação do setor, bem como melhorar a infra-estrutura existente hoje no país; leia-se saneamento, segurança, transportes, promoção etc.”.
Ponto forte brasileiro
Os principais pontos fortes do turismo brasileiro são a praia e o verão, principalmente no Nordeste. Mesmo sendo um pólo atrativo de visitantes, de acordo com o ranking do IBGE, a região é a que concentra os cinco estados com maior índice de miséria do Brasil. Alagoas é o primeiro colocado, com 44,44% da população vivendo nesta faixa. E, mesmo assim, o estado procura investir no turismo: já dispõe de 106 unidades hoteleiras, oferecendo aproximadamente 15 mil camas. A previsão é de que o ramo cresça 20% nos próximos anos. O segundo estado com maior índice de miséria é o Maranhão, com 44,23%, Piauí (40,08%), Pernambuco (36,77%) e Ceará (36,05%).
Porém, uma região de alta lucratividade procurada por turistas brasileiros e estrangeiros é a Costa do Sauípe, complexo turístico situado na Bahia, a 76 quilômetros de Salvador, que foi inaugurado no fim do ano 2000 e é composto por seis hotéis de alto padrão. A preocupação social com a comunidade local por parte dos empreendedores deu origem ao Programa Berimbau, que tem como objetivo contribuir para o desenvolvimento da região do entorno, na linha da realização de um turismo efetivamente gerador de sustentabilidade econômica e social.
“O programa objetiva promover o desenvolvimento regional sustentável, reduzir desigualdades e criar melhores condições de vida para a população”, explica Beraldo Boaventura, gerente socioambiental da Costa do Sauípe. A construção do complexo também beneficiou as comunidades, com as ofertas de trabalho e melhorias da infra-estrutura em saneamento, eletricidade, água e transporte.
“O Berimbau oferece capacitações para a geração de renda e emprego, principalmente no desenvolvimento do artesanato, da agricultura familiar, da reciclagem de resíduos, da pesca artesanal e do turismo comunitário”, explica Boaventura. Há também o apoio a iniciativas de resgate da cultura local, como grupos de capoeira e rodas de samba, de valores efetivos da educação e de capacitação profissional para os jovens.
Para verificar a eficácia do programa, há avaliações periódicas de desempenho que contam com a participação das comunidades. “O objetivo é aperfeiçoar e identificar novas oportunidades, em um esforço contínuo para ampliar a ação”. Atualmente, há entre 1.000 e 1.500 pessoas da comunidade trabalhando no complexo; número que varia de acordo com a estação do ano e com o movimento dos hotéis.
Com o assunto meio ambiente em alta, outro ponto estratégico para o desenvolvimento do turismo no Brasil é a Amazônia. A ministra do Turismo, Marta Suplicy, pretende que os investimentos nos estados que compõem a Amazônia Legal – Acre, Amazonas, Amapá, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins – subam para R$ 100 milhões em 2008.
Mudanças climáticas
Durante o Fórum Econômico Mundial de 2007, em Davos, na Suíça, o turismo foi uma das temáticas discutidas pelos economistas, investidores e acadêmicos presentes. Isto porque as condições climáticas são fatores-chave para a escolha de um destino pelos viajantes. No geral, para todas as escolhas de destino, seja uma ilha tropical de temperaturas altas ou uma montanha para a prática de esportes de inverno, todas as atividades que acontecem ao ar livre são influenciadas pelo tempo.
A discussão girou em torno do fato de que o turismo é essencial para a economia de muitas comunidades pelo mundo, e, por isso, as mudanças climáticas são importantes e devem ser consideradas. Elas podem, por exemplo, modificar até o fluxo dos turistas, que deixam de ir a algum destino porque está mais quente que o normal, preferindo visitá-lo em outra época ou escolher outro local de temperaturas mais amenas.
Além disso, o medo de eventos extremos, como ciclones, terremotos, enchentes ou secas, também é prejudicial às comunidades que esperam os turistas, não só pelas conseqüências do momento como também pela imagem gerada na mídia e o impacto negativo na economia.
A conclusão da discussão no fórum foi a de que o turismo não pode ser visto isoladamente em relação às questões ambientais. Mudanças neste setor podem levar a impactos na economia e na área social, seja na empregabilidade, demanda de trabalho e políticas regionais ou nas acomodações, transporte e infra-estrutura. Os efeitos também influenciariam setores como agricultura, artesanato e pequenas empresas – negócios também importantes para o turismo.
Em Davos, também se concluiu que os próprios turistas podem colaborar para o problema climático, com o consumo de energia (ar-condicionado, luz, água, aquecimento), a liberação de gases que afetam a camada de ozônio e o uso excessivo de meios de transporte, tanto aéreos como terrestres. Por isso, a sustentabilidade do turismo também permeia a área ambiental. Existe a responsabilidade de minimizar estes danos, encorajando soluções que não prejudiquem o meio ambiente, como o uso de meios de transporte menos poluentes e a conservação de áreas naturais.
O que é preciso para ser uma comunidade sustentável A sustentabilidade do turismo é fundamentada por um conjunto de sete princípios, definidos pelo Conselho Brasileiro para o Turismo Sustentável (CBTS), em discussão aberta com a sociedade. São eles: 1) Respeitar a legislação vigente O turismo deve respeitar a legislação vigente, em todos os níveis no país, e as convenções internacionais de que o país é signatário. 2) Garantir os direitos das populações locais O turismo deve buscar e promover mecanismos e ações de responsabilidade social, ambiental e de eqüidade econômica, inclusive a defesa dos direitos humanos e de uso da terra, mantendo ou ampliando, a médio e longo prazo, a dignidade dos trabalhadores e comunidades envolvidas. 3) Conservar o ambiente natural e sua biodiversidade Em todas as fases de implantação e operação, o turismo deve adotar práticas de baixo impacto sobre o ambiente natural, monitorando e mitigando efetivamente os impactos, de modo a contribuir para a manutenção das dinâmicas e processos naturais em seus aspectos paisagísticos, físicos e biológicos, considerando o contexto social e econômico existente. 4) Considerar o patrimônio cultural e valores locais O turismo deve reconhecer e respeitar o patrimônio histórico-cultural das regiões/localidades receptoras e ser planejado, implementado e gerenciado em harmonia às tradições e valores culturais, colaborando para seu desenvolvimento. 5) Estimular o desenvolvimento social e econômico dos destinos turísticos O turismo deve contribuir para o fortalecimento das economias locais, a qualificação de pessoas, a geração crescente de trabalho, emprego e renda, e o fomento da capacidade local de desenvolver empreendimentos turísticos. 6) Garantir a qualidade dos produtos, processos e atitudes O turismo deve avaliar a satisfação do turista e verificar a adoção de padrões de higiene, segurança, informação, educação ambiental e atendimento estabelecidos, documentados, divulgados e reconhecidos. 7) Estabelecer planejamento e gestão responsáveis O turismo deve estabelecer procedimentos éticos de negócio, visando engajar a responsabilidade social, econômica e ambiental de todos os integrantes da atividade, além de incrementar o comprometimento de seu pessoal, fornecedores e turistas em assuntos de sustentabilidade desde a elaboração de sua missão, objetivos, estratégias, metas, planos e processos de gestão. |
Os países que mais enviam turistas para o Brasil | |||
Principais países de destino | Número de turistas | % | Ranking |
Argentina | 921.061 | 18,35 | 1° |
Estados Unidos | 721.633 | 14,38 | 2° |
Portugal | 312.521 | 6,23 | 3° |
Itália | 291.898 | 5,82 | 4° |
Uruguai | 290.240 | 5,78 | 5° |
Alemanha | 277.182 | 5,52 | 6° |
França | 275.913 | 5,50 | 7° |
Espanha | 211.741 | 4,22 | 8° |
Paraguai | 198.958 | 3,96 | 9° |
Inglaterra | 169.627 | 3,38 | 10° |
Chile | 148.327 | 2,96 | 11° |
Holanda | 86.122 | 1,72 | 12° |
Suíça | 84.816 | 1,69 | 13° |
Japão | 74.638 | 1,49 | 14° |
México | 70.862 | 1,41 | 15° |
Canadá | 62.603 | 1,25 | 16° |
Outros | 820.849 | 16,35 | - |
Total | 5.018.991 | ||
Fonte: DFP e Embratur/2006. |
Turismo sexual
O turismo sexual é uma característica negativa do Brasil, principalmente no Nordeste – região que mais atrai turistas em geral. De acordo com a Pesquisa sobre o Tráfico de Mulheres, Crianças e Adolescentes para Fins de Exploração Sexual (Pestraf), realizada em 2002 pelo Centro de Referência, Estudos e Ações sobre Crianças e Adolescentes (Cecria), o Brasil possui 241 rotas nacionais e internacionais de tráfico de pessoas, sendo que a maior parte se encontra nas regiões Norte e Nordeste, locais que mais concentram as pessoas de baixa renda do país.
No Norte, por exemplo, que concentra 43,2% da proporção de pobreza do Brasil, existem 76 rotas de tráfico, e no Nordeste, 69. O destino mais freqüente entre as brasileiras é a Espanha – o Brasil possui 32 rotas que levam até lá –, seguida da Holanda e da Venezuela. Outros destinos são Portugal, Paraguai, Estados Unidos, Suíça e Alemanha.
Os turistas que mais procuram o turismo sexual no Nordeste são os italianos e os portugueses, de acordo com estudo patrocinado pela Organização Mundial do Turismo (OMT) e conduzida por pesquisadores de universidades e ONGs. Os dados mostraram que o perfil encontrado para o turista que procura o sexo nas capitais nordestinas é: europeus de classe média, com idade entre 20 e 40 anos. Outro dado é que a maioria dos entrevistados não tem interesse em se relacionar com adolescentes – estima-se que o percentual de pedófilos seja inferior a 10% entre os turistas sexuais.
REGIÕES | Nº DE POBRES (X MIL) | PROPORÇÃO DE POBREZA (%) | ROTAS DE TRÁFICO (nacional e internacional) |
Norte | 2.220 | 43,2 | 76 |
Nordeste | 18.894 | 45,8 | 69 |
Sudeste | 13.988 | 23 | 35 |
Centro-Oeste | 2.469 | 24,8 | 33 |
Sul | 4.349 | 20,1 | 28 |
Brasil | 41.919 | 30,2 | 241 |
Fontes: Pestraf – Banco de Matérias Jornalísticas / 2002: Relatórios Regionais da Pestraf, Departamento da Polícia Federal (DPF) – SAIP/CGMAF/DPJ/DPF – MJ – Brasília/DF e IBGE / 1999/2000. |
Links
www.aflov.org.br
www.cbts.org.br
www.hospitalidade.org.br
www.turismo.gov.br
www.unwto.org