Em 1991, um grupo de pessoas da região de Cuiabá resolveu desenvolver um trabalho ligado à preservação ambiental dos três biomas (comunidades distribuídas em grandes áreas geográficas caracterizadas por certo tipo de vegetação) de Mato Grosso, Pantanal, Amazônia e Cerrado. A motivação era o perigo que ameaçava o meio ambiente daquela região, especialmente por ser uma fronteira agrícola. No início, o trabalho do Instituto Centro de Vida (ICV) era extremamente ligado à denúncia e ao protesto, uma resposta aos desmandos na área política relacionada à questão ambiental. Com o passar do tempo, o acúmulo de experiência permitiu que a organização mudasse o escopo de sua atuação a partir da luta pela multiplicação de projetos que vinham sendo realizados com sucesso em diversos locais. “A organização ajudou a criar vários fóruns de articulação e redes de entidades sociais com o foco na proteção e desenvolvimento ambiental, buscando consolidar uma atuação mais profissional na elaboração de políticas públicas, fazendo denúncias embasadas em estudos técnicos dos militantes”, afirma Erlon Bispo, coordenador do ICV.
O ICV desenvolve projetos nos três biomas da região, levando em consideração a importância de cada um deles para o equilíbrio ambiental. As atividades da organização estão concentradas em quatro campos: educação ambiental, busca de alternativas sustentáveis, comunicação e políticas públicas, com atuação no acompanhamento de políticas de forma articulada com diversas entidades. Participando de várias redes de organizações e movimentos sociais. Com suas linhas de atuação, o instituto estende seu trabalho a grande parte do Brasil, inclusive a diversas regiões no continente sul-americano.
Dois projetos exemplificam o direcionamento do ICV: Fogo, Emergência Crônica e Quintais Produtivos. O primeiro foi desenvolvido até o final ano passado, em parceria com a embaixada italiana no Brasil. A ação se deu nos estados do Mato Grosso, Pará e Acre, regiões que têm histórico de sofrimento com queimadas criminosas e acidentais. “O trabalho conseguiu um resultado muito interessante na diminuição das áreas de calor. Foi uma atividade com metodologia focada nos municípios, envolvendo os atores sociais para um compromisso com a diminuição das queimadas”, lembra Erlon. Para alcançar a meta desejada, criou-se um ferramental educativo para ensinar às pessoas maneiras racionais de se lidar com o fogo, sem causar impactos ambientais. Com relação aos resultados, a organização afirma que o programa foi um marco para a região norte do Estado do Mato Grosso, por exemplo, onde o número de focos de incêndio reduziu consideravelmente.
O programa Quintais Produtivos visa a aumentar a renda e melhorar a qualidade de vida dos cidadãos da periferia de Cuiabá, incentivando o plantio e manejo de hortas orgânicas dentro dos quintais. O trabalho começou em 2000 e teve como cenário o bairro Jardim Vitória, região periférica da capital mato-grossense que tem figurado há anos entre os líderes no ranking de violência urbana. Fruto de uma invasão dos sem-terra, o bairro também foi área de garimpo e, desde sua criação, apresentou índices de baixa qualidade de vida, moradores de baixo nível escolar e elevadas taxas de desemprego. Para contextualizar a situação: vale lembrar que o solo da região é constituído basicamente por pedregulho, pouco agricultável, o que impede o plantio de forma simples e habitual.
A realização do projeto se tornou viável a partir de um financiamento da Interamerican Foundation IAF. “Tivemos um apoio inicial muito importante da IAF. Participamos de um concurso que a fundação fez em 1999 e fomos classificados. Tivemos, assim, a oportunidade de estruturar o trabalho”, relata o coordenador do instituto. A partir desse concurso, o ICV recebeu aproximadamente US$ 300 mil, recurso que patrocinou o programa até o final de 2003. Além da IAF, o projeto tem como parceiros a Prefeitura Municipal de Cuiabá, por meio da Secretaria de Serviços Urbanos, e a Cooperativa de Trabalhadores e Produtores de Materiais Recicláveis de Mato Grosso Ltda. (Coopemar).
A campanha propõe a capacitação de populações carentes da periferia do município para a produção de horticultura, fruticultura e minhocultura (criação de minhocas), utilizando técnicas de permacultura (implantação e manutenção de ecossistemas produtivos que tenham a diversidade e a resistência dos ecossistemas naturais) e o composto orgânico produzido pela Usina de Triagem e Compostagem de Lixo de Cuiabá. O trabalho atende diretamente 156 famílias beneficiárias, por meio de 120 quintais consorciados. Os moradores que tiveram seus quintais selecionados receberam apoio pela doação de sementes, equipamentos e, principalmente, qualificação para o desenvolvimento de hortas domésticas. “Participar do projeto é fazer parte de um grupo que quer mudar para melhor. Hoje cuido do meu quintal e também ensino para meus filhos a importância de trabalhar junto com a comunidade. Com certeza esse trabalho trouxe mais dignidade para nossa vida”, declara Iremar Malteso, morador do bairro Jardim Vitória, um dos atendidos pelo projeto Quintais Produtivos.
Vale ressaltar que, de forma indireta, esse programa do ICV atende também pelo menos outras 770 pessoas com o processo de educação ambiental, treinamento, assistência técnica e assessorias, pesquisa aplicada e articulações.
As famílias que fazem parte do projeto Quintais Produtivos têm constantemente uma possibilidade de alimentação saudável, com diversos tipos de verduras e legumes que enriquecem o cardápio. Assim também se amenizam as dificuldades orçamentárias. São dos menos favorecidos. “Além de ser uma ferramenta de subsistência, o projeto também proporciona uma opção de geração de renda para as famílias”, conta Erlon. Isso porque existe um cronograma de comercialização do excedente da produção dos quintais. O mecanismo é simples, porém eficiente e diferenciado. A organização promove a venda dos produtos dos quintais em condomínios residenciais da cidade. Um quiosque é elaborado para que os produtos sejam expostos, e os moradores dos condomínios se dirigem ao local para fazer compras, como se fosse uma espécie de feira delivery. “Todos saem ganhando com essa iniciativa. Temos a opção de comprar um alimento de qualidade, orgânico (cultivado sem produtos químicos) e, mais importante, contribuir para o equilíbrio social”, comenta um morador de condomínio visitado pelo projeto.
Atualmente, em função do fim da parceria com a IAF, o Instituto Centro de Vida busca novos apoiadores para dar continuidade ao trabalho dos quintais. Os recursos são necessários para manter o ritmo de treinamento e reciclagem de conhecimento daqueles que já fazem parte do programa, assim como para expandir o impacto social da atividade.
A iniciativa dos Quintais Produtivos reforça aquele velho bordão: “mais importante que dar o peixe é ensinar a pescar”. É mais um exemplo vitorioso que demonstra o alto potencial existente nos projetos que chamam a comunidade à ação.
“A organização ajudou a criar vários fóruns de articulação e redes de entidades sociais com o foco na proteção e desenvolvimento ambiental”
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