Censo 2010 mostra diferenças entre as regiões do Brasil

Por: Thaís Iannarelli
01 Maio 2011 - 00h00

O Brasil é um país muito grande, territorialmente e em relação à sua população. Suas proporções continentais trazem curiosidades, diferenças e semelhanças entre as populações das diferentes regiões, fatos que impactam diretamente a realidade social do país.
Para revelar esse cenário tão diverso, o Censo Demográfico 2010, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), analisou os 8.515.692,27 km2 de extensão territorial, compostos por 27 unidades da federação e 5.565 municípios. Ao todo, foram investidos R$ 1,2 bilhão na operação, que envolveu 191 mil recenseadores. Durante a coleta de dados, 67,5 milhões de domicílios foram visitados entre 1º de agosto e 31 de outubro de 2010, e ao menos um morador forneceu informações sobre os habitantes das residências.
O fato de promover um retrato da população faz do recenseamento uma ferramenta essencial para analisar as mudanças demográficas, econômicas e sociais no país.

Números gerais
Segundo a sinopse divulgada pelo IBGE, o país tem 190.755.799 habitantes. Os três municípios mais populosos continuam sendo São Paulo (11.253.503 habitantes), Rio de Janeiro (6.320.446) e Salvador (2.675.656). Os que mais cresceram em dez anos foram Manaus e Brasília, ao contrário de Porto Alegre, o que menos cresceu no grupo dos 15 municípios com mais de 1 milhão de habitantes.
Outro resultado curioso foi que, na década de 2000, 58 municípios foram criados. Além disso, houve um acréscimo de 23 milhões de habitantes urbanos, o que acarreta o aumento da urbanização, que chegou a 84,4% em 2010. Como era de se esperar, a região Sudeste continua sendo a mais urbanizada do país, seguida pelas regiões Centro-Oeste e Sul. As regiões Norte e Nordeste têm mais de ¼ dos seus habitantes em áreas rurais.

Pelo fim da miséria
Apesar de a situação da miséria no país ter melhorado nos últimos anos, os números do Censo 2010 ainda apontam que, em todo o país, há 16,2 milhões de brasileiros vivendo nessa situação, o que corresponde a 8,5% da população. Destes, cerca de 9,6 milhões estão no Nordeste. O Maranhão é o Estado com o maior percentual, sendo que 24% de sua população ganha até R$ 70 por mês. No Piauí, o percentual é de 21%, e no Alagoas, 20,4%.
De acordo com o presidente do IBGE, Eduardo Nunes, “em um país tão rico como o Brasil ainda não podemos encontrar 8% da população vivendo em extrema pobreza”. Ele ainda afirmou que as cidades de médio porte têm apresentado ritmo de crescimento maior que as grandes metrópoles, e isso se deve à oferta de empregos e estudo para jovens, além do custo de vida mais baixo. Assim, uma das metas do governo Dilma Rousseff é acabar com a miséria até 2014, por meio do Plano Brasil sem Miséria.
O objetivo do plano é agregar transferência de renda, acesso a serviços públicos nas áreas de educação, saúde, assistência social, saneamento e energia elétrica, e inclusão produtiva, para incluir a população mais pobre nas oportunidades geradas pelo crescimento econômico do país. No lançamento do programa, a presidenta Dilma defendeu a política de Luiz Inácio Lula da Silva, com a implantação do programa Bolsa Família. “Foram precisos mais de quatro séculos para que o combate à pobreza se convertesse de fato em política prioritária de governo. Os nossos pobres já foram acusados de tudo, inclusive de serem responsáveis pela sua própria pobreza”, disse. O Plano Brasil sem Miséria articula e amplia programas já existentes, como o Bolsa Família, que passa a atender mais 1,3 milhão de crianças e adolescentes, e inaugura o que o governo vem chamando de “busca ativa” para identificar famílias que não são ainda atingidas por tais ações.

Distribuição de gênero e idade
A pesquisa mostrou também que no Brasil há mais mulheres do que homens, proporcionalmente, tendência histórica no país. Atualmente, a relação é de 96 homens para 100 mulheres, sendo que a região Norte é a única que apresenta número superior de homens ao de mulheres (101,8 para 100). Entre os Estados, o Mato Grosso é o que possui mais homens em relação a mulheres (104,3 para 100), e o Rio de Janeiro é o que tem menos homens em relação a mulheres (91,2 para 100).
Outro dado relativo à população comprova que o número de idosos no país está aumentando. O grupo de crianças de zero a quatro anos do sexo masculino, por exemplo, representava 5,7% da população total em 1991, enquanto o feminino representava 5,5%. Em 2000, esses números caíram para 4,9% e 4,7%, chegando a 3,7% e 3,6%, em 2010.
As estatísticas mostram que, além do aumento da longevidade, as taxas de fecundidade também diminuíram de modo geral, levando ao envelhecimento da população – tendência que se vê também na maioria dos países do mundo. Entre as regiões, a Nordeste ainda apresenta características de uma população jovem, embora tenha seguido a tendência. As crianças menores de 5 anos em 1991 correspondiam a 12,8% da população; em 2000, esse número caiu para 10,6%, chegando a 8,0% em 2010. Já a proporção de idosos passou de 5,1% em 1991 a 5,8% em 2000 e 7,2% em 2010. As regiões Sudeste e Sul são as mais envelhecidas do país, com 8,1% da população composta por pessoas com 65 anos ou mais.

Renda e desigualdades
À época da realização do Censo 2010, o salário mínimo no Brasil era de R$ 510, e os resultados mostraram que 56% dos domicílios brasileiros têm renda per capita menor que esse valor. Salvador é a capital que apresenta o maior número de domicílios nessa situação, 55%. Outra descoberta que revela a fragilidade do crescimento econômico no Brasil é que muitos domicílios ainda sobrevivem com um rendimento per capita menor que um quarto de salário mínimo (R$ 127,50). No Macapá (AP), por exemplo, mais de mil lares estão nessa situação, seguido de Maceió (AL) e Teresina (PI).
Essa é uma realidade atual e presente no país que figura entre os mais emergentes do mundo, com a economia acelerada e o aumento do crédito. Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios de 2008 (Pnad 2008), considerando-se que até a metade da década de 1990 o país passou por vários planos econômicos, alterações na moeda e inflação em alta, seu desenvolvimento e equilíbrio financeiro confirmam a estabilidade econômica do país. Segundo o estudo, o Brasil apresentou aumento no número de empregos formais (7,1%), o maior desde 2001. Isso significa que existem 2,1 milhões de pessoas a mais com carteira assinada. O estudo relativo ao ano de 2008 demonstrou que a renda média dos domicílios apontou um crescimento de 2,8% entre 2007 e 2008, passando para R$ 1.968,00. O aumento no número de pessoas empregadas e na renda combinados significa uma melhoria na condição de vida da população mais pobre e maior acesso a bens de consumo.
Se, de acordo com a Pnad, as pessoas têm mais dinheiro do que antes, o esperado seria uma diminuição na distância que separa os mais ricos dos mais pobres. Mesmo que isso tenha ocorrido, a desigualdade continua muito forte e presente. Em 2008, a parcela 10% mais rica da população concentrava 42,7% dos rendimentos do trabalho, enquanto os 10% mais pobres ficaram com 1,2%. Além disso, existe também a diferença entre as regiões do país. A região Centro-Oeste, devido à influência de Brasília e dos altos salários dos cargos públicos, teve a maior renda média de trabalho, de R$ 1.261. Por outro lado, a região Nordeste teve como renda média o valor de R$ 685.
De acordo com o coeficiente de Gini (nome do estatístico italiano que desenvolveu um cálculo em 1912 para medir a desigualdade de um país), o índice do Brasil foi de 0,521 – o índice varia de 0 a 1, sendo que 0 corresponde a uma situação em que todos têm a mesma renda, e 1, à desigualdade total. Na Noruega, por exemplo, o índice era de 0,250 no mesmo período e, nos Estados Unidos, de 0,450.
Embora os resultados sejam bons no geral, problemas históricos como a disparidade entre as regiões, falta de recursos básicos, como saneamento, educação e renda menos desigual, ainda são entraves para o efetivo desenvolvimento do país – e pesquisas como o Censo e a Pnad revelam essa frágil realidade.

Etnia
Uma mudança significativa também revelada pelo Censo 2010 foi a configuração da população negra no país ao longo do século. Porém, o que chamou a atenção na última pesquisa foi que, pela primeira vez desde que o levantamento é realizado, as pessoas que se declaram brancas são menos da metade da população.
Segundo o IBGE, 97 milhões de pessoas se dizem negras (pretas ou pardas) contra 91 milhões de pessoas brancas. Outro dado é que 2,5 milhões se consideram amarelos ou indígenas. Os brancos ainda são a maioria da população (47%), mas a quantidade de pessoas que se declaram brancas caiu em relação ao ano 2000. Em números absolutos, também foi a única categoria que diminuiu de tamanho. Assim, a taxa de crescimento da população negra de 2000 a 2010 foi de 2,5%, e a da branca aproximou-se de zero.
O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) lançou o estudo Dinâmica Demográfica da População Negra Brasileira e, segundo a publicação, houve um aumento no número de pessoas que antes preferiam dizer que eram brancas, e agora se declaram pardas. Também, apesar da queda na taxa de fecundidade das brasileiras, as mulheres negras ainda são as que mais têm filhos – em média 2,1 por mulher, enquanto as brancas têm aproximadamente 1,6 filho. O baixo nível em ambos os casos reforça o envelhecimento da população.
Mortalidade
Entre os brancos, as mortes estão mais concentradas nas idades avançadas e normalmente são decorrentes do câncer. Já entre os negros, morrem mais jovens de 15 a 29 anos, principalmente homens, devido a causas externas, como acidentes e agressões (violência). Os homens também são o principal alvo das causas externas de morte, como homicídio, entre os negros, e acidentes de trânsito, entre os brancos (35,3%).
De maneira geral, nos últimos dez anos a qualidade de vida da população melhorou, fato demonstrado pela queda significativa nos óbitos por doenças infecto-parasitárias. Porém, mortes por doenças cardiovasculares e causas externas aumentaram, o que mostra que a rotina do brasileiro está mais suscetível ao estresse.
Independentemente do sexo ou raça, nos últimos dez anos as principais causas de morte de brasileiros foram as doenças do aparelho circulatório, representando 28,5% dos óbitos de homens brancos e 25% de homens negros. Entre as mulheres, a proporção é de 33% nos dois grupos.

Retrato do Brasil
Embora o Brasil esteja atualmente entre os países mais importantes economicamente, sendo destino de investimentos, e apesar de todo o progresso e melhorias já alcançados, ainda há muitos pontos a serem trabalhados para a população como um todo. A atuação do Terceiro Setor nesse ponto, juntamente com ações governamentais e empresariais, é essencial para gerar oportunidades para os que antes não teriam acesso à educação, à cultura, ao esporte e a projetos de geração de renda e profissionalização.
O crescente número de instituições no país colabora para o desenvolvimento cada vez mais acelerado também da área social, aproveitando o crescimento da economia, com o objetivo de diminuir as desigualdades e promover mais oportunidades de trabalho e educação.


Região Domicílios particulares Até ¼ (salário mínimo) Mais de ¼ até ½ (salário mínimo) Mais de ½ a 1 (salário mínimo) Mais de 1 a 2 (salário mínimo) Mais de 2 a 3 (salário mínimo) Mais de 3 a 5 (salário mínimo) Mais de 5 (salário mínimo) Sem rendimento (salário mínimo)
Brasil 57.324.185 5.252.767 10.591.130 15.441.266 12.551.391 4.025.026 3.056.396 2.939.438 2.449.573
Norte 3.975.533 692.816 994.356 1.044.897 576.378 173.593 128.538 106.620 257.830
Nordeste 14.022.901 3.063.595 4.005.405 4.067.714 1.701.424 485.355 383.956 365.670 847.922
Sudeste 25.199.799 997.344 3.736.371 7.360.408 6.569.139 2.174.866 1.678.070 1.680.403 991.807
Sul 8.891.279 309.066 1.107.683 2.624.104 2.683.765 864.944 604.823 492.933 201.776

 

Segundo o IBGE, 97 milhões de pessoas se dizem negras (pretas ou pardas) contra 91 milhões de pessoas brancas. Outro dado é que 2,5 milhões se consideram amarelos ou indígenas. Os brancos ainda são a maioria da população (47%), mas a quantidade de pessoas que se declaram brancas caiu em relação ao ano 2000

Link
www.ibge.gov.br/cen

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