Camila Pitanga iniciou sua carreira artística aos seis anos de idade. Sua estreia na televisão aconteceu em 1993, na minissérie Sex Appeal. Desde então, a atriz já atuou em oito novelas, nove peças e 14 filmes. Além de sua carreira profissional, Camila se dedica a iniciativas sociais. Em entrevista à Revista Filantropia, ela conta que sua grande inspiração foi seu pai, o também ator Antonio Pitanga. “Tenho em comum com ele o desejo de viver numa sociedade próspera, feliz, com igualdade de escolha, independentemente de origem social”.
Atualmente, a atriz é membro do conselho consultivo do projeto Por que a gente é assim, uma iniciativa transmídia (informação divulgada em diversos meios de comunicação) que estimula a reflexão coletiva sobre seis temas relacionados ao cotidiano dos brasileiros: sexo, fé, autoridade, consumo, preconceito e educação. Segundo Pitanga, “não adianta ficar só na crítica pela crítica. Mais do que se indignar, temos de atuar para fazer diferente”.
O projeto conta ainda com a participação da coordenadora do núcleo audiovisual do Nós do Morro, Luciana Bezerra; a antropóloga Regina Novaes; o cientista social Alberto Carlos de Almeida; o urbanista Mozart Vitor Serra; além do sociólogo e coordenador do Observatório das Favelas, Jailson de Souza. Confira a entrevista completa em que Camila Pitanga avalia a importância dos movimentos sociais no Brasil e a participação da mídia nessas ações.
Revista Filantropia: Atualmente, você integra a equipe responsável pelo Conselho Consultivo do projeto ‘Por que a gente é assim’. Conte um pouco sobre a iniciativa e sua atuação como conselheira.
Camila Pitanga: Me interessou a possibilidade de trocar ideias e de exercitar meu papel de cidadã. Acho a pergunta “Por que a gente é assim?” bem pertinente para se fazer nos dias de hoje. Acho que minha atuação contribuiu muito mais por fazer perguntas do que formular respostas. Como atriz, prescindo da minha sensibilidade para observar e escolher como desenvolver meus personagens e histórias que represento. Isso não é diferente do que exerço como cidadã e como conselheira do projeto. Pude exercitar minha escuta e sensibilidade para mediar determinadas questões.
RF: Como surgiu o convite para o projeto e o que te motivou a aderir à causa?
CP: A Tati Rosa (uma das idealizadoras do projeto) me fez o convite. Ao me mostrar do que se tratava o projeto, senti que seria um espaço de aprendizado fantástico. São raras as situações em que é possível conversar com gente tão preparada e pertinente sobre o nosso país, nossa cultura e nosso desejo de mudança. O que me motivou foi o desejo de viver num país mais justo, onde todos possam sonhar e escolher a realidade em que querem viver.
RF: O projeto se propõe a discutir os valores praticados no Brasil. Em sua opinião, qual a importância de estimular a reflexão coletiva sobre temas tão importantes que norteiam o nosso cotidiano?
CP: Detestamos a violência, a corrupção, a falta de educação… Detestamos muitas coisas que são cada vez mais onipresentes no nosso cotidiano. Aí, nos indignamos, só que, se deixar, ficamos ‘emburrecidos’ com uma indignação passiva e perversa. Não adianta ficar só na crítica pela crítica. Uma reflexão coletiva tende a ter diversos pontos de vista, e isso enriquece, abre caminhos, mesmo que não haja uma resposta unívoca. A política deveria ser o exercício disso, representantes de vários segmentos sociais escolhendo um caminho comum. Acho que as escolas deveriam desde cedo estimular conversas e fóruns de debates para que isso fosse uma prática, não uma exceção. Pois, mais do que nos indignar, temos de escolher, atuar para fazer diferente.
RF: Um dos ‘slogans’ do projeto é “Duas cabeças pensam melhor que uma; três, melhor que duas, e sucessivamente”. Você acredita que a população, de uma forma geral, está consciente de seu papel na sociedade?
CP: Se me perguntasse há alguns dias eu diria categoricamente que não. Suponho que a ditadura tenha anestesiado o ímpeto de lutar pelo que se acredita. Desde então, acho que marcou um medo e uma inibição muito grande de pensar as coisas. Mas acho que atualmente as pessoas têm se organizado mais.
RF: Além do projeto ‘Por que a gente é assim?’, você também atua como madrinha do ‘Bicicloteca’, realizada pela Central Única das Favelas (Cufa). Como você avalia a participação dos movimentos sociais no Brasil, principalmente os que se dedicam a promover a cultura e a educação?
CP: É fundamental se mobilizar, não esperar pelo governo para conquistar cidadania e cultura.
RF: Em sua opinião, qual é a importância de pessoas que têm visibilidade na mídia se engajarem em projetos sociais?
CP: Acho que a visibilidade que tenho como artista pode servir projetando movimentos e pessoas que não teriam o mesmo foco. São muitos homens e mulheres que, por vezes, arriscam suas próprias vidas em prol de uma causa. Posso citar vários exemplos, Dinael Cardoso é um deles. Dinael é um representante indígena e uma das lideranças do Movimento em Defesa da Vida e da Cultura do Rio Arapiuns. Um movimento que surgiu um ano atrás, quando uma mobilização dos comunitários fechou o rio e impediu a passagem de balsas carregando toras de madeiras. Ele tem sido alvo de ameaças de morte! Isso não aparece em lugar nenhum! Faço parte de uma ONG – o Movimento Humanos Direitos (MHuD), que nasceu exatamente do desejo de artistas que têm visibilidade na mídia de se engajarem em projetos sociais, melhor dizendo, de oferecer seu foco para entidades ou pessoas que defendam direitos humanos. Falei do Arapiuns, para que não fiquem no escuro . Fazem parte do MHuD: Letícia Sabatella, Beth Mendes, Wagner Moura, Dira Paes, Marcos Winter e Osmar Prado. Meu pai, que é ator, também é uma grande inspiração. Ele sempre foi um ator-cidadão atuante. Tenho em comum com ele o desejo de viver numa sociedade próspera, feliz, com igualdade de escolha independente de origem social.