Dentro desta maravilhosa febre da responsabilidade social empresarial encontra-se
um elemento em destaque: o balanço social. Só que, mais uma vez, as empresas – com algumas raras exceções – preocupam-se em apenas atender o pré-requisito de ter ou publicar um balanço das suas ações sociais. Não o entendem como instrumento de gestão ou ferramenta que possibilita o aperfeiçoamento do próprio programa de responsabilidade social.
Temos hoje no mercado um número razoável de balanços sociais publicados, se pensarmos no universo das grandes empresas, principalmente das regiões sudeste e sul. O que devemos nos perguntar é se realmente esses documentos são efetivamente balanços sociais.
Temos obras de arte, peças de marketing, relatório de atividades, documentos publicitários e jornalísticos, informativos de ações sociais realizadas pela empresa nas comunidades, mas raramente encontramos balanços sociais.
Balanços sociais são como instrumentos que configuram o levantamento de uma situação (impacto social das atividades da empresa), que representam a possibilidade de verificação ou resumo de determinadas ações (indicadores, credibilidade) ou o registro da empresa, em um dado momento, indicando as ações sociais, sua finalidade, a relação com o negócio da empresa e os recursos aplicados.
Outro grave problema é a falta de entendimento do conceito de responsabilidade social, gerando um balanço social restrito às ações sociais da empresa na comunidade (ações externas). Deixa de apresentar elementos importantes como o modelo de gestão do programa de responsabilidade social e as ações voltadas para os demais stakeholders.
Uma preocupação também relevante é evitar que o balanço social seja um mero relato de ações e programas, não demonstrando a forma de gestão e os canais de relacionamento da empresa com todos os públicos interessados ou partes envolvidas, além das possibilidades de avaliação destes relacionamentos e das possibilidades de melhoria. Basta lembrar que responsabilidade social é uma forma de gestão, e não apenas a realização de ações, projetos ou programas.
Imaginar que o balanço social é apenas um documento é outro grande problema. Na verdade, ele é um processo de diagnóstico, planejamento e avaliação do programa de responsabilidade social da empresa. O que faz diferença não é produzir e/ou publicar o balanço, mas, sim, a forma de construí-lo e utilizá-lo como instrumento de gestão.
A formação de um comitê de elaboração do balanço social, a capacitação deste comitê, a sistematização das origens dos dados, encontro com os stakeholders, a precisão dos indicadores e a execução de um plano de comunicação são também elementos que tornam essa ferramenta mais consistente e sólida.
O balanço social deve ser visto como um documento de prestação de contas ao mercado e à sociedade, que transmite credibilidade, clareza e consistência, lembrando sempre que o princípio básico não é que todos leiam as minúcias do documento, mas que cada público encontre as informações que possam melhorar o relacionamento com a empresa.
Portanto, o verdadeiro balanço social não deve ser uma colcha de retalhos. É uma possibilidade de diálogo, uma diretriz, uma memória estatística, um instrumento de gestão. Deve-se ressaltar ainda que poderemos ter em breve a obrigatoriedade dessa publicação no Brasil, o que já acontece em países como a França (desde 1977), Alemanha, Holanda, Bélgica, Espanha, Inglaterra e Portugal.
Enfim, fazer e publicar o balanço social é mudar a visão tradicional de gestão de negócios para uma visão em que a empresa entende que lucro e responsabilidade social andam juntos, preocupando-se com a satisfação de sua força de trabalho e com o ambiente externo.
O mercado será o grande auditor das empresas. Assim, as empresas devem se capacitar a fim de garantir a construção de um balanço social que atenda aos conceitos mais modernos e esteja à altura do peso de suas ações sociais internas e externas.