Apae Teresina abre as portas e mostra eficiência

Por: Felipe Mello, Roberto Ravagnani
01 Outubro 2005 - 00h00

O Censo 2000 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apresentou a seguinte informação: 14,5% da população brasileira tem algum tipo de incapacidade ou deficiência. São pessoas com pelo menos alguma dificuldade de enxergar, ouvir, locomover-se, com deficiência física ou mental. Traduzindo a porcentagem, o resultado chega a aproximadamente 24,6 milhões de pessoas.

No mês de setembro deste ano, os diretores da ONG Canto Cidadão, Felipe Mello e Roberto Ravagnani, estiveram em Teresina, capital do Piauí, e conheceram de perto o trabalho desenvolvido pela unidade local de uma das mais famosas instituições da área. Entre muitos eventos, a expedição de cidadania visitou a Apae da cidade, que existe desde 1968, quando foi fundada por iniciativa do professor João Porfírio de Lima Cordão e de sua esposa, a também professora Maria do Socorro de Sá Lima.

A diretora da entidade, Dolores Bomfim, conta que João e Maria foram pais de uma criança portadora de deficiências mental profunda, visual, auditiva, muda, cardiopática e com raquitismo patológico acentuado. Motivos potencialmente causadores de rancor, mas que foram revertidos em uma obra de altruísmo que sobrevive até hoje.

O estudo do IBGE reserva ao Piauí uma estatística mais elevada do que a média, no que se refere à parcela da população portadora de algum tipo de deficiência. No estado, essa parcela corresponde a 17,6%. Número bastante significativo: 20% acima da média nacional e quase 80% acima da estimativa da Organização Mundial da Saúde (OMS), de que aproximadamente 10% de qualquer população é portadora de algum tipo de deficiência.

Demanda suficiente para contar com a atenção e o empenho de uma equipe grande de profissionais. Segundo Dolores Bomfim, “atualmente a Apae Teresina possui 354 alunos de 0 a 14 anos, que estudam, adquirem cultura, praticam lazer e esporte”. A organização ainda oferece reabilitação, tratamento, estimulação precoce, iniciação profissional, apoio à família e assistência médica e odontológica.


Transformando a realidade

Entre tantos aspectos que chamam a atenção no local, destaca-se o desenvolvimento de ações que visam a inclusão social do público atendido. E na Apae Teresina essa preocupação é evidente pela atenção dada às questões de escolaridade, introdução à literatura e informática. Dolores conta que a entidade possui um laboratório com computadores de boa qualidade para aulas práticas e educativas, que são ferramentas importantes para a construção do conhecimento e desenvolvimento de habilidades motoras e cognitivas.

O investimento na preparação de crianças e jovens faz muito sentido, uma vez que 32,9% da população sem instrução ou com menos de três anos de estudo possui alguma deficiência. As proporções de portadores de deficiência caem quando aumenta o nível de instrução, chegando a 10% de portadores de deficiência entre as pessoas com mais de 11 anos de estudo.

O reflexo se dá na dificuldade de entrada no mercado de trabalho, especialmente para os portadores de deficiência mental: somente 19,3% das pessoas que declararam apresentar deficiência mental permanente estão ocupadas. As outras incapacidades permitem uma inserção maior no mercado de trabalho: incapacidade física ou motora tem 24,1%, dificuldade na audição, 34%, e dificuldade para enxergar, 40,8%. Para quem não apresenta nenhuma dessas deficiências, a proporção de pessoas ocupadas sobe para 49,9%.

É importante esclarecer que a pessoa portadora de deficiência é aquela que se diferencia do nível médio dos indivíduos em relação a uma ou várias características físicas, mentais ou sensoriais, de forma a exigir atendimento especial com referência a sua educação, desenvolvimento, integração e inclusão social. Dispensável explicitar que também no atendimento a essa parcela da população o poder público, em todas as esferas, deixa muito a desejar. Em quantidade e em qualidade.

O resultado, pela visão negativa, é o sofrimento de um contingente enorme. “Olhando o copo meio cheio”, a omissão e incompetência do Estado intimam e motivam a sociedade civil a se organizar, contribuindo para o equilíbrio social e exercitando a cidadania. “A dedicação à causa da Apae é resultado de uma necessidade evidente, uma vez que 50% dos portadores de deficiência no Brasil são deficientes mentais, de acordo com a Federação Nacional das Apaes”, relata a diretora da unidade.


Enfrentando desafios

O desafio é ampliado ao passo que fica nítido o misto de preconceito, desinformação e desinteresse de uma grande parte da população, assim como de empresas que contribuem com projetos de responsabilidade social. Basta verificar os relatórios de investimento na área e comprovar que a maioria esmagadora dos recursos vai para projetos de educação de crianças normais.

E para manter e desenvolver seus trabalhos, a Apae Teresina recorre a diversas fontes, tais como convênios com o Ministério da Assistência Social, a Secretaria Estadual da Educação/PI, a Secretaria Estadual de Saúde/PI, a Fundação Municipal de Saúde e a Prefeitura Municipal de Teresina. Esses parceiros participam por intermédio de convênios (pagamento por atendimento realizado), recurso para merenda escolar, contratação de professores, realização de teste do pezinho e cessão de dentistas e médicos.

Além das parcerias com órgãos públicos, a organização também realiza eventos como uma tradicional feijoada. “É a melhor do Piauí. São centenas e centenas de pessoas que compram a camiseta (ingresso) e vem saborear nosso prato principal  E o melhor, a sobremesa é a certeza da continuidade dos nossos projetos”, informa Dolores.

Ainda são realizados bingos e bazares com brinquedos e outros produtos doados pela Receita Federal – de acordo com a lei que permite que itens apreendidos sejam doados a organizações sociais sem fins lucrativos devidamente registradas Outra ação da Apae nacionalmente conhecida é a venda de cartões de Natal e o sorteio de brindes mais expressivos, como automóveis. São eventos encabeçados pela direção central da entidade e que conta com a participação das unidades espalhadas por todo o país.


Atuação

A instituição atende a população com diversos graus de deficiência, além de trabalhar paralelamente na prevenção, especialmente pela realização do “teste do pezinho” – cujo objetivo é detectar precocemente erros inatos do metabolismo, responsáveis por diversas doenças que podem causar lesões irreversíveis (retardo mental). 

A visita revelou dois pontos fundamentais para a melhoria do dia-a-dia da Apae Teresina: captação e manutenção de voluntários e comunicação externa. Atualmente, são apenas quatro voluntários com dedicação regular. Além disso, a organização, repleta de boas notícias para compartilhar e solicitações a fazer, ainda não possui uma página na rede mundial de informações.

Sem dúvida alguma são deficiências que podem ser brevemente reparadas, para que a Apae Teresina invista cada vez com mais qualidade o seu tempo, competência e carinho na melhoria da qualidade de vida dos portadores de deficiências atendidos por ela.

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