Marcos Frota

Por: Juliana Fernandes
01 Janeiro 2011 - 00h00

Há 25 anos, Marcos Frota dedica-se à arte circense. Sua paixão pelo circo teve início durante as gravações da novela Cambalacho, na qual interpretava o trapezista Rick. A partir dessa experiência, o ator se envolveu diretamente com a área e criou o Grande Circo Popular do Brasil. Na década de 1990, o projeto, que era originalmente artístico, voltou-se para o universo social com a fundação do Instituto Cultural e Assistencial São Francisco de Assis (Icasfa).

A instituição, que trabalha para promover o desenvolvimento humano e a inclusão social, contribuiu para a criação da Universidade Livre do Circo Marcos Frota (Unicirco), iniciativa que transforma jovens, crianças e portadores de necessidades especiais em artistas circenses por meio de oficinas livres, desenvolvendo não só a técnica, mas principalmente a educação e a atuação dos participantes na sociedade.

Em entrevista à Revista Filantropia, o embaixador do circo no Brasil avalia a importância social da cultura e comenta a atuação do Terceiro Setor para o desenvolvimento das atividades relacionadas à arte.

Revista Filantropia: Pelo 8º ano, a Unicirco promove o evento Somos Todos Brasileiros, em comemoração ao Dia Internacional da Pessoa com Deficiência. O que o motivou a direcionar o projeto para a causa?

Marcos Frota: Eu acho que a presença da pessoa com deficiência impregna alegria, que é a marca maior do circo, a essa questão séria e delicada. Isso poderia despertar um olhar espiritualizado. Por isso que a gente começou, desde 2003, a realizar o Somos Todos Brasileiros, que é um espetáculo de celebração dos Direitos Humanos e de afirmação da cidadania da pessoa com deficiência. O espetáculo é feito por essas pessoas, com a participação deles em cena, até na concepção, e compartilhado com instituições de amparo e reabilitação.

RF: Na teledramaturgia, você já interpretou alguns personagens portadores de necessidades especiais. Como você avalia a questão da inclusão?

MF: Eu realmente tive quatro personagens com algum tipo de deficiência na minha carreira. Um no teatro e três na televisão. Em todos eles eu esbarrei com o maior obstáculo, que é a questão do preconceito. O Brasil, apesar de ser um país aberto, mais jovem, multirracial e de atividade cultural muito grande, ainda tem um preconceito com as diferenças. As pessoas com deficiência sofrem muito com essa questão. O preconceito na rua, no trabalho, na escola, no namoro, em todas as classes sociais. E esse preconceito é materializado através da falta de acessibilidade. Então, a acessibilidade e o combate ao preconceito foram os motivos que me levaram a colocar a minha atividade artística em função dessa causa.

RF: Uma de suas lutas é para que o circo seja igualmente prestigiado como os demais segmentos artísticos do Brasil. De maneira geral, como você vê a situação da cultura no país?

MF: O Brasil já tem uma maturidade muito grande na área cultural. O público brasileiro tem, com relação à sua cultura e às manifestações culturais, o apreço, a admiração e o apoio efetivo. Nós não somos mais um país que não diz nada na área da cultura. E a minha luta é levar o circo com excelência artística para discutir a maioria das coisas que envolvem a cultura brasileira, principalmente a cultura popular brasileira. De que forma? Concebendo espetáculos de excelência artística e revelando novos talentos.

RF: E a importância do Terceiro Setor para o desenvolvimento das atividades relacionadas à arte? 

MF: O nosso país vive, apesar de todas as dificuldades e diferenças, um momento muito bom e de um olhar muito respeitoso com o todo. Isso foi fruto do trabalho de todos nós. Acho que não podemos só olhar as questões ruins da parte governamental e nem desprezar a imensa e importantíssima contribuição das instituições não governamentais no processo de desenvolvimento do país como um todo. As ONGs têm uma força importantíssima de propor e facilitar o diálogo e diluir os abismos na construção da cidadania brasileira. Existem questões complexas que, se não fosse a benemerência dessa atividade, nós não conseguiríamos ter um olhar, um encaminhamento de solução. Eu tenho trabalhado com muita gente séria e comprometida, e sem eles não teria chegado aonde eu cheguei.

RF: Você defende que a arte circense é um poderoso recurso para a formação integral do cidadão. De que maneira isso acontece?

MF: O circo é um provocador de disciplina, reflexão, companheirismo e reconhecimento da importância do trabalho em grupo. Isso tudo acaba refletindo na vida cotidiana de um jovem, adolescente ou adulto. Muitas mães me dão depoimentos dizendo que o filho era bandido há quinze dias e, de repente, o circo despertou outro tipo de sentimento. Em relação às pessoas com deficiência, elas se sentem confortadas e incluídas. Então, o circo para mim, hoje, é muito mais que um espetáculo. É realmente o exercício da cidadania, do crescimento e aprimoramento espiritual, o fato de compartilhar essa responsabilidade de oferecer o circo como opção. Há o encaminhamento de jovens e a possibilidade da realização de sonhos.

RF: Em sua opinião, qual é a importância de pessoas que têm visibilidade na mídia se engajarem em projetos sociais?

MF: Eu acho que principalmente aqueles que já receberam muito em termos de carinho, respeito e reconhecimento material e profissional têm de retribuir. Não dá para ficar realmente olhando para o próprio umbigo, apostar somente no seu sucesso ou ficar sustentado em tronos que a carreira artística, esportiva ou a área da comunicação, de maneira geral, oferecem. Nós, humanos, temos que olhar para o outro e reconhecer a presença de Deus. Às vezes uma palavra, uma presença, um exemplo e até ações mais efetivas são muito bem-vindos. Nós estamos em uma luta muito grande para conduzir o Brasil a ser uma grande nação do terceiro milênio. O comodismo, o egoísmo e a falta de olhar não cabem mais.

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