A conscientização dos agentes transformadores da sociedade

Por: Norberto Ferreira de Souza
01 Novembro 2007 - 00h00
É cada vez maior o número de jovens entre 15 e 24 anos que abandonam os estudos. De acordo com o censo escolar divulgado em 2006 pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep/MEC), houve uma diminuição de 1,5% no total de alunos matriculados no período entre 2004 e 2005. Já o Ibase (Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas), em conjunto com o Instituto Polis, por meio de uma pesquisa realizada em 2005 com 8.000 jovens de 15 a 24 anos, das oito principais regiões metropolitanas, indica que 27% deles não trabalham nem estudam.
Vários desses adolescentes deixam os bancos escolares para buscar empregos e, assim, complementar a renda familiar, o que ocorre mesmo entre os que recebem o Bolsa Família. Entretanto, para muitos essa procura gera apenas frustração, em função da pouca qualificação profissional.
Se os empresários se conscientizarem de que podem ser agentes transformadores da realidade da Nação, contarão ainda com bons quadros na empresa, preparados e treinados por entidades certificadoras destinadas ao aperfeiçoamento dos aprendizes
De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), realizada em 2005 pelo IBGE, a parcela de adolescentes entre 15 e 17 anos fora da escola subiu para 18% entre 2006 e o ano anterior. Iniciativas como o Bolsa Família, que atende jovens até os 15 anos de idade, já não são mais suficientes para mantê-los na escola, uma vez que o mercado de trabalho oferece renda superior, para os que conseguem nele ingressar. Os valores pagos pelo programa variam entre R$ 15 e R$ 95, de acordo com a renda mensal e o número de crianças e gestantes da família contemplada.

Para um país que almeja sair do patamar de nação em desenvolvimento para desenvolvida é de suma importância a reversão desse quadro. As últimas décadas têm demonstrado que, sozinhos, os governos federal, estaduais e municipais são incapazes de alterar essa situação. Isso só poderá ocorrer com o engajamento do setor privado em variados tipos de ação.

Uma das saídas vislumbradas é que esse setor proporcione as vagas de trabalho almejadas pelos jovens, em atividades que o possibilitem também a continuidade dos estudos. Uma iniciativa muito interessante nesse sentido é a nova Lei de Aprendizagem (nº 10.097/2000, regulamentada por decreto em 2005), que determina que as empresas com cem ou mais funcionários abram entre 5% e 15% de vagas de trabalho para aprendizes.

De acordo com a lei, essas empresas contarão com vantagens fiscais nesse tipo de contratação, como a diminuição do percentual recolhido para o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) de 8,5% para 2,5%. Mesmo para as que não estão obrigadas, como as optantes pelo regime tributário simples, as vantagens são interessantes, pois há redução de 8% para 2% no FGTS. Em troca do benefício, o governo exige uma contrapartida: que as empresas ofereçam cursos teóricos a esses jovens, focados nas atividades exercidas por ele – o que pode ficar a cargo de entidades certificadoras.

Muitos adolescentes terão não só a oportunidade de trabalho como também o incentivo ao aperfeiçoamento profissional e à continuidade dos estudos. Vale ressaltar que as micro e pequenas empresas também podem contratar aprendizes e gozar não só dos benefícios fiscais previstos em lei neste tipo de contratação mas também da consciência participativa na melhoria do quadro social do nosso país, possibilitando o crescimento pessoal de jovens que muitas vezes precisam apenas de uma oportunidade para se destacar profissionalmente.

As pessoas contratadas na condição de aprendiz devem receber semanalmente uma capacitação. Entidades como as ligadas ao Rotary Ensino Profissionalizante (REP) promovem essa capacitação, inserindo jovens de 14 aos 24 anos nas empresas na condição de aprendiz. Se os empresários se conscientizarem de que podem ser agentes transformadores da realidade da Nação, contarão ainda com bons quadros na empresa, preparados e treinados por entidades certificadoras destinadas ao aperfeiçoamento dos aprendizes.

Aos empresários, podemos sugerir a adoção de tal medida. Já aos órgãos competentes pela fiscalização da referida lei, podemos sugerir uma ação mais rígida. Basta observar os resultados divulgados pela Delegacia Regional do Trabalho de São Paulo (DRT/SP): 40% das empresas fiscalizadas, entre janeiro e agosto de 2006, estão em desacordo com a lei. As multas variam de R$ 402,53 a R$ 4.025,30.

Com uma ação rígida dos órgãos competentes na fiscalização, associada à consciência social crescente entre os empresários, muitos jovens ingressarão no mercado de trabalho e poderão prosseguir seus estudos. Um exemplo dos reflexos da fiscalização no crescimento de contratações é que, em 2006, o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) bateu recorde de inserção de jovens no mercado de trabalho sob ação fiscal: foram 44.049 adolescentes registrados, contra 29.605, em 2005.

Os estados que mais contrataram foram Minas Gerais, com 5.712 jovens contratados, seguido de Espírito Santo, com 5.529. São Paulo ficou em terceiro lugar, com 5.106 aprendizes contratados, com idades entre 14 e 24 anos. A expectativa é que esse número ultrapasse 50 mil no balanço de 2007.

Apesar dos números, o caminho a percorrer ainda é longo e depende da conscientização dos empresários de que toda empresa pode contratar um aprendiz: grandes, médias, pequenas e até as micro. Com isso, contribuirão ativamente para a diminuição da evasão escolar e da desigualdade social, que ainda assola o país. Além disso, esses jovens podem se tornar bons profissionais dentro da corporação, evoluindo e moldando-se de acordo com a política interna, contribuindo com a lucratividade e o crescimento das companhias que lhe deram oportunidade, e podem ajudar corporações de todos os portes a se adequarem às exigências da lei.
Norberto Ferreira de Souza. Presidente do Rotary Ensino Profissionalizante.

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