Paulo Muçouçah

Por: Thaís Iannarelli
01 Novembro 2009 - 00h00

“Mais de 2 milhões de pessoas obtiveram novos empregos no setor da energia renovável nos últimos anos, e o potencial de crescimento da empregabilidade neste setor é enorme”. Informações como essa estão presentes no relatório Green Jobs: Towards Decent Work in a Sustainable, Low-Carbon World (em português, Empregos Verdes: Trabalho Decente em um Mundo Sustentável e com Baixas Emissões de Carbono), um dos objetos de trabalho de Paulo Muçouçah, coordenador dos Programas de Trabalho Decente e Empregos Verdes da Organização Internacional do Trabalho (OIT/Brasil).

Paulo já atuou como diretor do Departamento de Coordenação do Sistema Nacional de Meio Ambiente (Sisnama), do Ministério do Meio Ambiente, e foi secretário adjunto de Relações do Trabalho do Ministério do Trabalho e Emprego.

Atualmente, liderando as ações de empregos verdes na OIT/Brasil, Paulo fala à Revista Filantropia sobre a transformação da economia rumo à sustentabilidade, sobre a empregabilidade e os novos desafios enfrentados pelas empresas.

Revista Filantropia: O que é, exatamente, a economia verde?

Paulo Muçouçah: A economia verde se caracteriza pelas transformações que vêm ocorrendo em função das mudanças climáticas. Os efeitos dessas mudanças são diversificados, mas o que se chama de economia verde é exatamente a transição para uma economia com baixas emissões de carbono, que acontecem hoje pelas diversas atividades econômicas, tendo em vista mitigar ou atenuar os fenômenos climáticos que ocorrem.

RF: E os empregos verdes? Existe algum tipo específico de profissional que pode se enquadrar nesse perfil?

PM: Na verdade, não existe um tipo específico de profissional para os empregos verdes. O que mais define o caráter verde ou não dos empregos são as atividades nas quais as pessoas estão envolvidas. A definição de emprego verde da OIT envolve aquelas funções que contribuem para reduzir as emissões de carbono ou para melhorar ou conservar a qualidade ambiental. Então, são empregos que têm qualificações tradicionais, perfis tradicionais, mas estão vinculados a atividades que buscam a melhoria da qualidade ambiental.

RF: Qual é a abrangência desses cargos na economia mundial?

PM: O processo global é muito diversificado, ocorre em todos os países, e não temos esses dados disponíveis. Porém, existem estimativas setoriais de algumas atividades econômicas que têm, hoje, uma presença grande de atividades voltadas para a melhoria da qualidade ambiental. Um exemplo é o setor de energias renováveis – já se sabe que existem mais de 2 milhões de pessoas envolvidas diretamente com esse setor, e a previsão é de que o número suba para 20 milhões até 2030 no mundo.

RF: E no Brasil, especificamente?

PM: Também encontramos algumas dificuldades para especificar, mas no estudo que fizemos a partir do Relatório Anual de Informações Sociais (RAI), do Ministério do Trabalho, identificamos 28 atividades econômicas que contribuem diretamente, seja para a redução das emissões ou para a melhoria da qualidade ambiental. Nessas atividades, havia aproximadamente 1,3 milhão de trabalhadores em dezembro de 2008. Isso se refere somente aos empregos formais, ou seja, àqueles trabalhadores formalmente contratados pelas empresas, com carteira assinada. Isso também é um indicador da existência de trabalho decente por parte da OIT, que são os empregos sob proteção social, com respeito ao direito do trabalho, acesso ao diálogo de negociação coletiva etc. Então, nessa situação são todos esses empregos no Brasil que contribuem para a melhoria da qualidade ambiental. Há outras atividades, que não contribuem com os produtos finais, mas, no processo de produção, procuram reduzir a emissão de carbono, de resíduos, enfim, são incorporadas algumas preocupações ambientais.

RF: Quais exemplos você daria de empresas que têm essa preocupação?

PM: Existem muitas empresas tradicionais que se preocupam, como as de extração e as refinarias de petróleo. A Petrobras é uma grande empregadora de técnicos de meio ambiente, inclusive pela questão de cumprir com as obrigações legais e atender os critérios de sustentabilidade, de emissões de poluentes etc. Nesse caso, não temos como estimar os empregos verdes, porque não podemos isolar quantos trabalhadores estão de fato nesta atividade dentro de determinada empresa. Mas, nas atividades que podemos isolar, já são 1,3 milhão de empregos verdes no Brasil.

RF: Por que a disseminação dessa nova economia é tão recente?

PM: A preocupação com a questão ambiental, de uma maneira geral, cresceu muito quando houve a divulgação dos resultados do painel da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre mudanças climáticas, em 2007. A partir de então, realmente se tomou consciência da gravidade das consequências do problema. Já existiam os empregos verdes e a preocupação ambiental em algumas atividades, mas, a partir da divulgação do relatório, a conscientização aumentou. As empresas passaram a se preparar mais para o que as mudanças climáticas acarretariam.

RF: Quais são as dificuldades encontradas pelas empresas para implantar os empregos verdes no negócio?

PM: Muitas vezes, a introdução de novas tecnologias e de novos processos de trabalho aumenta os custos de produção. Porém, se não houver uma uniformidade nos padrões de produção utilizados em determinado setor, as empresas podem ter desvantagens competitivas em relação àquelas que já implantaram sistemas sustentáveis. Por isso, é importante que haja uma regulamentação para as empresas adotarem coletivamente esses padrões de produção e consumo. Também há uma pressão por parte do consumidor, que acaba compensando uma possível diferença de custo que exista na produção. Mas há casos também em que, pelo fato de a empresa assumir a vanguarda na implantação de tecnologias, acaba se diferenciando e ganhando maior reconhecimento no mercado. Isso pode ser exibido como ponto positivo. Além disso, com essa postura, a empresa se antecipa e evita o aumento de custos futuros, na medida em que os recursos naturais ficarem escassos e mais caros.

RF: Os novos profissionais devem ter algum tipo de qualificação diferenciada para ocuparem os cargos verdes?

PM: De maneira geral, é importante que as universidades e cursos de formação profissional incorporem a sustentabilidade como referência, para ser praticada com padrões trabalhistas mais adequados. É importante que os novos profissionais se preocupem não só em dar lucro para as empresas em que trabalham, mas também em fazer com que elas assumam a responsabilidade social e ambiental. Na medida em que a empresa se dispuser a adotar esses padrões de sustentabilidade, o profissional poderá atender as novas demandas que surgem. Então, se os cursos incorporassem a sustentabilidade, seria ótimo para todos os ramos de conhecimento. Não dá mais para ignorar as ameaças, por conta das mudanças climáticas, nem deixar de tomar medidas no sentido de amenizar essas consequências, ou se adaptar a algumas delas, que já são inevitáveis.

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