Fim

Por: Aurimar Pacheco Ferreira
28 Julho 2018 - 00h00

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O livro do Bauman jazia na mesa instável, sob um copo d’agua pela metade.

Naquele fim de manhã de primavera eles tinham certezas diferentes no coração.

Ela insurrecta, aborrecida e injusta. Ele tolo errante. Logo seriam sancionados pela decisão de não mais dividir o mesmo gueto e a mesma fé. A vida lhes prometera água potável, Europa e Carnigie Hall. Cumpriu com a história sua sina de escorpião.

Eram quase jovens e feitos um para o outro naquilo que as regras dessa cidade lhes permitissem. Ele assim como é e deve permanecer sendo. Ela com sua grife de mariposa santa que inferniza o pensamento alheio na mistura de Dostoievski com Black Mirror.

Foi depois de um show da Marisa que a lei da gravidade amorosa se fez presente para o casal binário, e ela perspicaz, saiu na frente para dizer “tô fora”.
Viveram juntos longos anos desde a tenra idade. O suficiente para ver a velhice de uma orquídea. O bastante para se descobrir encerrada bem no meio da centésima milésima discussão. Mas ainda assim, algo de insustentável pairava para dizer que talvez aquilo fosse somente uma explosão egóica. Não era.
Vínculo e convivência era um par perfeito demais para lhes fazer um casal da hora, da aceitação familiar improvável.

Sobreviveram ao frio, ao desemprego, à linha vermelha do metrô e até aquele vizinho arrogante e patético do carro amarelo. Sucumbiram a um dedo em riste despretensioso que veio por ira e autoafirmação.

Ela arrependida. Ele com a convicção do animal masculino. Burro.

Ela intolerante com as esperas dele. Ele indomável como um búfalo africano.

Depois de entornar o resto da água, ele serenou as palavras e recomeçou solene a tentar reconquistar o espaço perdido e desmanchado naquele ar contaminado pelo adeus. O tom é teatral. A estética é barroca, própria da formação humanista de ambos.

Ele:

— Reconsidere. Finquei a bandeira de meu olhar para te proteger. Tenho vivido para me entender com suas diferenças.
Ela

— Não tenho mais repertório. Só me resta encarar o fim. Borrei meu batom com a água que tinha na boca pelas tuas conquistas em vão. Elas nunca me favoreceram.

— Seja razoável... Seu mundo feminino me perturba ao ponto da exaurir meu humor treinado para sobreviver no deserto. Compreenda minhas tempestades.

— Você já me mostrou quem é. Sua estirpe de canastra não coaduna com minha vida mais. Descobri na segunda estrofe de Velha Infância, meu melhor amigo não é seu amor.

— Então está bem — diz ele com uma resignação amestrada. De poesia somente as consoantes me cabem. Vou embora daqui do teu covil. Mas não desabone minha reputação. Nunca se esqueça daquela linha de pescar.

— Vejo agora que saio da tua vida como quem foge e tem pressa, pela mesma porta imaginária que também entrei.

— Saio da tua vida pelos flancos do impossível, do insondável, daquilo que não é permitido fazer, com os punhos do desejo fechados pelo cansaço.
Ela reage no tom e na classe adjacentes:

— Eu que fujo da tua vida como aquele que só conseguiu lamber o chantili roubado do bolo do casamento alheio. Como quem andou de costas, nadou contra a corrente até bater na pedra. Quero sair da tua vida porque a fonte secou;

Ele com a gravidade ensaiada contra-ataca:

— Eu saio da tua vida como quem perdeu o gol, morreu na praia, deixou escapar a única moeda no bolso, ficou a pé na beira do caminho. Assim como os homeless, saio da tua vida sem o teto da tua plena conquista.

Ela resmunga:

— Saio da tua vida como um maldito fim de tarde chuvoso, com enxurrada na televisão. Com o gosto da tua saliva em algum lugar da memória. E o céu da tua boca tatuando eco no meu facebook.
Ele, buscando a comoção:

— Saio da tua vida com a lingerie entrelaçada entre meus dedos. O cheiro imaculado do teu cabelo, da tua presença incandescente. E a vaidade de ter chegado quase lá. De ter corrido o risco de conseguir. Saio da tua vida com o rabo entre as pernas. Com o hematoma de quem não viu o vidro fechado. De quem não teve roupa pra entrar na festa.

— Exagerado!!! Cênico! Cínico! Eu é que me escafedo da tua vida atordoada, desapontada. Com a sensação de que já vou tarde, que não devia ter vindo. Saio da tua vida com a inocência perdida, com um pause de afeto. Com líricas vontades insatisfeitas pelas ausências desse teu masculinismo. Saio da tua vida porque talvez nunca estive lá, porque cansei, porque não sei mais como ir em frente. Saio da tua vida para nunca mais voltar.

Dessa vez batendo forte a porta a fora, ela sai da casa com passadas ruidosas. O efeito borboleta é evidente porque no outro lado do planeta bem-querer uma folha seca do outono se descola inexplicavelmente por uma calçada cinza. Para quem não conhece essa história nem imagina o que aconteceu. Na tela sobem os créditos com letras brancas em fundo preto.

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