Viva a tecnologia

Por: Felipe Mello, Roberto Ravagnani
01 Julho 2010 - 00h00

- Chico, por favor, agora, não! Não falarei novamente. Olha! Cadê o respeito? Eu vou contar até três: MP1, MP2, MP3! Agora, chega! Sem a nem b! Hora de você voltar para a pasta de MPB.

Vida tecnológica, high tech, era da informação, século 21. A alcunha que eu mais gosto para o nosso tempo é pós-modernidade. Como é sonoro ouvir que somos além da modernidade. Eu já ia me esquecendo. O Chico em questão é ele, sim, o Buarque de Holanda. Aclamado, amado, filmado e mimado por quase todas e todos, trabalha para mim.

Viva a tecnologia! Embora sejam inúmeras as críticas à forma como aplicamos o conhecimento nos dias atuais, antes expresso meu sincero apreço pelas diversas conquistas modernas. (Certamente antes do derradeiro ponto pingarão gotas de fel no assunto; qual paixão pode preceder de momentos revoltosos?)

Voltando às conquistas dos aparatos modernos, penso no que poderia ter sido da humanidade se houvesse internet ou TV a cabo na época de Jesus Cristo e se Buda fosse um “twitteiro”. Ainda mais perto de nós, imaginem se Madre Tereza de Calcutá tivesse um blog, Gandhi, um perfil no Facebook, entre tantos outros exemplos. Que poder revolucionário individual chegando a milhões de terrenos ávidos por algo fértil!

A tecnologia fascina pela sua capacidade de ampliar possibilidades saudáveis quando bem utilizada, pois não são poucos os exemplos históricos e trágicos de má utilização: bomba atômica, avião, pólvora. Pegando mais pesado, cito armas atualmente letais: televisão, rádio, revistas, jornais e internet. Triste o que deles é feito; espetacular o que pode vir a ser feito.

Um aparelho portátil atual, pequenino como uma caixa de fósforos, contém milhares de músicas, toda a coletânea de centenas de cantores, cantoras, orquestras, palestras, audiolivros e tantas outras expressões humanas verdadeiramente positivas. Pode-se carregar toda a história do pensamento no bolso esquerdo, literalmente! Eu corro pelas vielas do Parque do Ibirapuera ouvindo Platão, Nietzsche, Clarice Lispector, Rubem Alves, Mario Quintana, Sófocles, Drummond, Fernando Pessoa e tantos outros atletas da sabedoria e da sensibilidade. Haja pernas para correr em direção às suas reveladoras obras de arte.

Nas ciências médicas, transportes, alimentação, educação e outras, a tecnologia é como uma semente. Guarda dentro de si, em potencial, o bem-estar. Seu desabrochar e frutificação saborosos não são líquidos e certos, dependendo da intenção e gerência de seu usuário. Para Benjamin Franklin, a maior sabedoria consiste em descobrir como aumentar o bem-estar no mundo. Interessante balança: a tecnologia aplicada à vida aumenta ou diminui a dignidade de existência do indivíduo e da coletividade?

Imaginem se alguém justificasse o extermínio das árvores pela possibilidade de caírem galhos nas cabeças das pessoas ou frutos pesados, como a jaca? Imaginem ainda se alguém quisesse banir do planeta as rosas porque elas lembram aos apaixonados desiludidos que outras pessoas são felizes no amor; ou se quisessem queimar todos os livros – na verdade, já tentaram algumas vezes – pelo fato de eles poderem juntar pequenos bichos e mofo entre suas páginas? Pois bem, absurda assim é a incoerência que existe no mau trato da tecnologia. Passo longe de ficar satisfeito quando alguém diz que o mundo está assim por conta da demoníaca televisão, ou a peste da internet. A questão é outra, sempre foi.

Certa vez um discípulo perguntou a um mestre o que era o ser humano. O mestre respondeu que o ser humano é uma casa onde moram dois lobos. O discípulo, intrigado, perguntou então qual dos dois lobos era o mais forte. Ao que o mestre respondeu: - O que você alimentar mais.

Ela é apenas e tão somente um meio, não um fim em si mesma. Quando é transformada em um fim, pode apostar que há um ser humano desgovernado na condição de usuário. Na Idade Média, queimaram muitos livros, trancaram bibliotecas, tornaram ainda mais complexo o acesso à tecnologia máxima, o sabor do saber.

Umberto Eco, em seu romance que virou filme “O nome da Rosa”, revela algo incrível. O enredo trata da época em que o acesso ao saber literário era restritíssimo. Na obra, um monge foi designado para investigar vários crimes que estavam ocorrendo no mosteiro. Os mortos eram encontrados com a língua e o dedo roxos e, no decorrer da história, fica claro que eles manuseavam um livro cujas páginas estavam envenenadas. Quem profanasse a determinação de “não ler o livro” morreria antes que informasse o conteúdo da leitura. Tchanan! O livro em questão era uma obra aristotélica cujo tema era o riso! Sintomático, não?

“Talvez a tarefa de quem ama os homens seja fazer rir da verdade, porque a única verdade é aprendermos a nos libertar da paixão insana pela verdade”. Aristóteles

Nada de paixão insana pela tecnologia, sob pena de se tornar vítima de uma sedutora escravidão. O desafio é a construção de possibilidades de ampliação de horizontes pelo acréscimo de real alegria coletiva.

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