Um olhar sobre as muitas Amazônias

Por: Dal Marcondes
01 Novembro 2009 - 00h00

Nas barrancas do rio Tapajós vivem diversas comunidades que estão na região desde tempos imemoriais. O mesmo acontece em cada beira de rio na Amazônia. A região tem 23 milhões de habitantes – relativamente pouco, se comparado com os mais de 150 milhões do restante do Brasil, levando-se em conta que a região detém a maior floresta tropical do mundo e representa 53% do território do país. As dimensões ficam ainda mais complexas se as contas incluírem as Amazônias do Peru, Equador, Colômbia, Venezuela e Guianas. Assim, o Brasil fica com apenas 50% de todas as Amazônias, o que significa 52 milhões de quilômetros quadrados. A Pan-Amazônia chega a mais de 100 milhões de quilômetros quadrados. O uso do plural – Amazônias – é justificável, não apenas por uma questão de geografia política e fronteiras nacionais, mas porque as Amazônias têm, também, economias distintas, culturas múltiplas e fatores socioambientais diversos.
 


O desafio de olhar para a Amazônia é, também, a vontade de se despir de preconceitos e ideologias para poder perceber as nuances de cada comunidade, modelo econômico e modo de vida. Compreender que a região precisa se desenvolver sem maniqueísmos, e que a floresta e a biodiversidade de cada Estado podem ser trabalhadas de forma sustentável de acordo com a cultura local. No Sul e no Sudeste, as pessoas têm a verdadeira noção das diferenças culturais, políticas e ambientais existentes entre gaúchos e mineiros, paulistas e cariocas, baianos e goianos. No entanto, quando se trata de Amazônia, a tendência é considerar, de longe, que tudo é parte de uma única cultura, de um ecossistema monolítico e de um modo de vida igual.


Não. As muitas Amazônias são diferentes em quase tudo. Mesmo a floresta, com sua onipresença, tem nuances que o povo local conhece bem. São animais e plantas que preferem estar aqui ou ali. A economia varia de acordo com a região. As fronteiras são empurradas de forma diferente, e mesmo o desmatamento tem vetores distintos. Em um lugar é o gado; em outro, a madeira; em outro, ainda, a soja; e muitos vetores estão aguardando sua vez, como estradas e represas. A biodiversidade da região é composta por diversas espécies: 425 de mamíferos; 1,3 mil de aves; 427 de anfíbios; e 371 de répteis, além de mais de 3 mil espécies de peixes e 40 mil espécies de plantas. Possui rios de águas escuras (Negro), águas brancas (Solimões) e águas claras (Tapajós). Tem 200 mil índios, divididos em 220 povos que falam 180 línguas.


Entre os grandes problemas da Amazônia estão o desmatamento, o uso insustentável dos recursos naturais, a ocupação desordenada do território, a falta de regularização fundiária e uma imensa ladainha de mazelas. Mas, para resolver tais problemas, o Brasil precisa encarar o maior de todos: o preconceito e o desconhecimento das realidades das Amazônias. Ninguém gosta do que não conhece, e o preconceito prospera na ignorância. Os olhos do mundo estão voltados para a Amazônia brasileira, e o Brasil precisa oferecer respostas para a formulação de políticas públicas de desenvolvimento sustentável para a região.


Os desafios da mídia


Para que a sociedade brasileira comece a formular novas propostas e alternativas para a Amazônia, é necessário que a conheça em profundidade, e não apenas quando saem os índices de desmatamento ou quando surge algum escândalo. A maior parte dos jornalistas que atuam nos grandes jornais do eixo Rio-São Paulo-Brasília nunca esteve na Amazônia. Alguns foram a Manaus ou a Belém, cidades cosmopolitas que pouco ou nada têm de contato real com a floresta. Cobrir as Amazônias é caro, argumentam com razão os editores de todo o Brasil. Uma viagem à região exige recursos escassos nas redações: tempo, dinheiro e jornalistas preparados para o trabalho de reportagem.


No entanto, a Amazônia está na grande pauta global, que define a presença do Brasil na mídia internacional, e não os sonhos e realizações de empresários, pesquisadores e políticos que vivem e trabalham próximos ao Trópico de Câncer. Nas grandes mídias globais, os indicadores e números da região ganham destaque em reportagens, análises e fartos infográficos. Também, ONGs brasileiras e internacionais mantêm bases na região, com trabalhos em todas as vertentes. Essa presença internacional é vista com certa xenofobia por quem não conhece e não sabe o que acontece na Linha do Equador. Uma xenofobia que chega a atingir inclusive brasileiros tradicionais, como as populações indígenas e quilombolas. Eles têm direitos ancestrais que são reconhecidos pela Constituição do Brasil, mas são atacados por pessoas que não têm autoridade, conhecimento ou caráter necessários para opinar.


Cabe à mídia, ou aos jornalistas, uma vez que a própria mídia passa por um processo de reconstrução baseado nas inovações da TV digital e da internet, estarem preparados para apontar um olhar maduro e isento de preconceitos sobre uma das regiões mais ricas e vitais para o Brasil e para o equilíbrio ambiental global. A busca por modelos de desenvolvimento baseados em princípios de sustentabilidade precisa do apoio de profissionais da imprensa, capazes de relatar boas práticas, e não apenas oferecer denúncias. O jornalismo necessário para esses novos tempos tem de carregar a inovação das boas notícias sem deixar de manter a vigilância cidadã sobre os desmandos e crimes cometidos em uma região onde o Estado é notado por sua ausência.


O exercício desse novo jornalismo é o desafio de uma geração de brasileiros que está vendo o planeta ficar pequeno, e o Brasil, crescer. Um jornalismo que olha de maneira diferente e projeta para um tempo de grandes transformações ambientais, éticas e políticas. É o jornalismo que vai mostrar como estão sendo construídos os caminhos para que a humanidade e o Brasil superem entraves de uma profunda mudança de paradigmas econômicos e sociais. E a Amazônia é um dos importantes campos desse jornalismo. O Brasil precisa conhecer a Amazônia, e a mídia tem um papel estrutural nessa tarefa.


*Dal Marcondes é diretor de redação Envolverde, recebeu o Prêmio Ethos de Jornalismo em 2006 e 2008 e é Jornalista Amigo da Criança pela Agência Andi de Notícias.


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