A doação faz parte da humanidade. Esteve presente, por exemplo, na origem das três maiores religiões monoteístas do mundo e permanece até hoje na doutrina de todas elas: no catolicismo (dízimo), no islamismo (zagat) e no judaísmo (tzedakah).
Fez-se notar também em inúmeros momentos da nossa história, como na Grécia antiga, conforme relatado pelos filósofos da época, ou no Renascimento, com a patronagem que os mais ricos faziam de artistas e intelectuais.
E assim permaneceu por muito tempo, geralmente ligada a questões religiosas ou às elites da época.
Com o tempo, porém, a sociedade se desenvolveu e se ampliaram também as oportunidades e os motivos de realizar doações.
Começando na Europa (com as corporações de ofício) e depois se expandindo para as demais regiões do mundo, as organizações da sociedade civil foram surgindo e se consolidando como um setor próprio em cada país, geralmente conhecido como setor filantrópico.
Nesse processo de consolidação, as doações passaram a ter papel fundamental para a autonomia e a independência das organizações, que aperfeiçoaram técnicas para conquistá-las, expressas hoje no que conhecemos como captação de recursos (conceito muito maior do que apenas conseguir doações, mas isso é papo para outra hora).
Aos poucos, as doações foram tendo cada vez mais peso no financiamento das causas e instituições sem fins lucrativos e alcançando grandes volumes. É o caso dos Estados Unidos, onde elas ultrapassam 2 bilhões de reais ao ano (Lily Family School of Philanthropy, 2021), e do Brasil, com mais de 10 bilhões de reais sendo doados por indivíduos em 2022 (IDIS, 2021).
No movimento de valorização da doação perante a sociedade civil, a que tem origem nos indivíduos é a mais importante de todas porque é também a mais expressiva, representando 70% de tudo o que é doado nos Estados Unidos (Lily Family School of Philanthropy, 2021). No Brasil não se conhece a proporção exata, mas nenhuma pesquisa que apresenta dados de doações de fundações ou empresas mostra um número que sequer chegue perto do total doado pelas pessoas anualmente.
E, se a doação dos indivíduos é realmente importante como fonte de receita para as organizações da sociedade civil, conforme mostram as pesquisas, é fundamental entender os motivos que levam as pessoas a doar para alavancarmos ainda mais a solidariedade delas.
Em trabalho no qual revisaram boa parte da literatura internacional sobre filantropia, as pesquisadoras René Bekkers e Pamala Wiepking (2011) identificaram oito mecanismos que levam as pessoas a doar para organizações sem fins lucrativos. São eles:
Os oito mecanismos descritos são importantes e não devem ser considerados isoladamente como influenciadores da doação de indivíduos. Cada um pode vir a ter determinada influência no processo de decisão da doação, é verdade, e eles também podem estar combinados — especialmente com o pedido.
Para quem capta recursos, o desafio é refletir sobre como cada um desses mecanismos funciona e, assim, construir estratégias de captação — e de comunicação — para ampliar ainda mais o número de pessoas e o valor recebido por meio de doações individuais.
É um bom desafio, e é um desafio possível.
ABCR. Monitor das Doações COVID-19. Disponível em https://covid.monitordasdoacoes.org.br/pt. Acesso em 15 de março de 2022.
BEKKERS, René e WIEPKING, Pamela. A Literature Review of Empirical Studies of Philanthropy: Eight Mechanisms that Drive Charitable Giving. Nonprofit and Voluntary Sector Quarterly, 40(5), 924-973, 2011. Disponível em https://research.vu.nl/ws/files/3081354/Bekkers%20Wiepking%2011%20NVSQ%20postprint.pdf. Acesso em 15 de março de 2022.
INSTITUTO PARA O DESENVOLVIMENTO DO INVESTIMENTO SOCIAL (IDIS): Pesquisa Doação Brasil 2020. Disponível em https://pesquisadoacaobrasil.org.br/. Acesso em 15 de março de 2022.
Lilly Family School of Philanthropy. Giving USA 2021: In a year of unprecedented events and challenges, charitable giving reached a record $471.44 billion in 2020. Disponível em https://philanthropy.iupui.edu/news-events/news-item/giving-usa-2021:-in-a-year-of-unprecedented-events-and-challenges,-charitable-giving-reached-a-record-$471.44-billion-in-2020.html?id=361. Acesso em 15 de março de 2022.
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