Melhor do mundo ou mundo melhor?

Por: Felipe Mello, Roberto Ravagnani
11 Setembro 2014 - 02h02

Acabou a Copa. Tanto foi dito e desdito. Fatos, opiniões, versões, invenções, suposições e, em especial, teorias relacionadas a conspirações de diversas naturezas. Enfim, acabou.
Prometi a mim mesmo que não escreveria sobre futebol. Pretendo me manter o mais fiel possível à promessa. Mas, pelo visto, não conseguirei ignorar os sinais que circularam com o vento nas últimas semanas. Tentarei ao menos estabelecer conexões entre esse tema e outros, que seguem na pauta de quem gosta de gente.
Eu já fui muito mais apaixonado por futebol. Aos 13 anos de idade, vivi a primeira grande emoção como torcedor: o coração corintiano vibrou sem pudor com a conquista do campeonato brasileiro. Corri feito maluco no quintal da minha casa, em Cuiabá. Senti-me campeão! Era o primeiro título nacional do meu time. Até então, eu não tinha visto a seleção ser campeã do mundo, algo que aconteceria somente quatro anos depois, nos Estados Unidos.
O Corinthians daquele campeonato tinha um craque. Parecia que ele resolvia tudo sozinho. Cobrava faltas, escanteios, pênaltis. Dava carrinho, brigava com os adversários, arrumava confusão com o juiz e com a torcida adversária. Parecia tomado por uma força incontrolável, para o bem ou para o mal. Mas ele não jogava sozinho. Fui descobrir isso bem mais tarde, iludido que estava pelo brilho daquela estrela.
Lá se vão 24 anos. Já não moro em terras cuiabanas há bem mais de uma década. Já vi diversos outros títulos do meu time e da minha seleção nacional. Mas nunca mais corri feito maluco pelo quintal, como fiz daquela vez. Tampouco idolatrei um único integrante de uma equipe. A minha maneira de torcer mudou porque eu mudei.
Uns podem dizer que perdi a euforia destrambelhada, o arrebatamento histérico, a alegria catártica de sentir-se campeão. Ou seja, pode-se encontrar alguma perda nessa mudança. Mas suspeito que os benefícios sejam mais valiosos, fazendo-me celebrar a nova forma de compreender quais são as melhores vitórias e os melhores ídolos.
Com toda certeza, as aventuras vividas na realização de programas sociais interferiram decisivamente no desenvolvimento desse novo olhar e sentir. Acompanhar de perto a potência que reside em um grupo heterogêneo inspirado por uma causa comum me ensinou muito. Perceber o valor individual das múltiplas estrelas de um projeto – umas mais brilhantes e outras um pouco menos, a depender do contexto –, ensinou-me muito. Descobrir que a sinergia realmente pode existir, ou seja, que a soma de um mais outro pode resultar em mais do que dois, ensinou-me muito. Apaixonar-me pelo jogo coletivo, seja em cena (como ator, palhaço ou palestrante) ou na gestão de projetos, ensinou-me muito. Convencer-me de que posso, e devo, alimentar de forma equilibrada a caixa de ferramentas e a caixa de conexões humanas, ensinou-me muito.
O aprendizado também aconteceu nas derrotas. Saber que algo que ainda não deu certo pode, sim, ser um degrau para uma conquista mais merecida. Minha resiliência foi alimentada quando aprendi a perder e não ser menor por isso, assim como por encontrar graça e algum tipo de beleza nos tropeços que, afinal, vieram, vêm e virão. Ou ainda, por ter a coragem de assumir a imperfeição e incapacidade de ser campeão o tempo todo.
Se a Copa me trouxe algo de bom, não foram os jogos da seleção e tampouco os feriados que anularam mais de um mês do calendário. O que eu colhi foi a confirmação do que já vinha percebendo. A vitória dos alemães aconteceu muito, mas muito mais, fora dos holofotes das partidas oficiais. Sem ídolos monopolizando manchetes. Com apreço pela preparação exaustiva. E, mais inspirador do que tudo, pela vontade de se misturar a comunidade de dentro com a de fora, ampliando o grupo com respeito às diferenças.
No futebol ou em qualquer outra experiência coletiva, em especial nas mais relevantes, passou o tempo do improviso e da genialidade das estrelas solitárias. Nem Messi, Cristiano Ronaldo ou Neymar triunfaram. Pode ser mais um recado para pararmos de buscar o melhor do mundo. E talvez começarmos a prestigiar de verdade quem está disposto a fazer o mundo melhor.

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