Penalidade Máxima

Por: Felipe Mello, Roberto Ravagnani
07 Maio 2015 - 15h52

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Eu entrei naquele estádio pelo túnel que usualmente leva os jogadores ao campo. Mas não havia jogadores. Não havia ninguém, apenas um estreito facho de luz que acertava meus olhos. Segui adiante. Subi as escadarias. Pisei no gramado. Já não via mais nenhum resquício de luz. Apenas escuridão. Senti a relva fofa sob os meus pés e segui caminhando. Uma mistura de sensações me visitou.

Pé ante pé, dentro das quatro linhas, senti que avançava em direção a uma das grandes áreas, cenário retangular das emoções mais agudas do principal esporte do meu país. Embora a referência fosse vaga pela falta de luz, senti que estava sobre uma marca de cal. Sob meus pés, o círculo que representava a penalidade máxima. Naquele instante – fiat lux – fez-se a luz!

Todo o estádio se iluminou. Dezenas de luzes revelaram a amplitude do cenário. Eu não estava sozinho. Aliás, quando é que estamos sozinhos de verdade? A solidão física é possível, mas mesmo esta é prova da existência de outros. Só somos frutos porque sementes anteriores brotaram. Não existe o eu sem o tu.

Quando tudo ficou às claras, meus olhos gritaram. Primeiro pelo impacto dos fortes raios de luz artificial. Fechei os olhos pela primeira vez, com toda a minha força. Aos poucos, fui me acostumando com a exposição à claridade. As pálpebras ganharam coragem e revelaram paulatinamente a completude do cenário. Girando em meu próprio eixo até completar 360 graus, percebi que estava acompanhado de outros 42 mil seres humanos. Todos em pé, distribuídos de maneira uniforme pelos degraus da vasta arquibancada. Todos olhando para mim.

O silêncio era total. Incômodo, brutal. Como nada se movia, continuei observando. Angustiado, confuso, parti para uma análise mais minuciosa da situação. Pousei meus olhos em rostos diversos. Ali, acolá, mais além. Havia uma uniformidade na multidão: toda ela era formada por jovens, predominantemente homens, ou ainda, meninos pouco passados dos dez anos de vida, mas nenhum já chegado aos vinte. Onde estariam os adultos? Por que estavam ali sem os seus pais, tios, padrinhos ou coisa que o valha? Onde estavam os organizadores, seguranças, jornalistas? Onde estava o restante do espetáculo? Outra característica comum alimentou minha inquietação e fez disparar meus batimentos cardíacos: a expressão daquelas crianças era vazia. Miravam-me assertiva e impiedosamente. Faltava-lhes alma. Faltava-lhes ânimo. Sobrava-me pânico.

Sobre a marca da penalidade máxima, fechei novamente os olhos. Quando os abri novamente, estava em meu quarto, sobre a minha cama. Sonhara tudo aquilo. Ou ainda, fora visitado por uma espécie de pesadelo simbólico. Respirei fundo e, seguindo a recomendação do Pequeno Príncipe de Saint-Exupéry, fiz a minha higiene pessoal e, então, saí para fazer a higiene do meu planeta. Seria mais um dia de trabalho na organização social da qual faço parte há ininterruptos 12 anos, 5 meses e 11 dias. Horas depois, a mensagem noturna ganharia contornos compreensíveis.

Relendo as notícias do dia anterior, entendi (e aqui reproduzo as palavras do texto de Hanrrikson de Andrade, do UOL – Rio): um estudo divulgado pelo Índice de Homicídios na Adolescência (IHA) divulgado em 28 de janeiro de 2015, e produzido com base em dados de 2012, estima que mais de 42 mil adolescentes de 12 a 18 anos correm risco de serem assassinados nos municípios brasileiros com mais de cem mil habitantes. A projeção diz respeito ao período entre 2013 e 2019. O levantamento foi feito por meio de uma parceria entre a Unicef, a SDH (Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República), a ONG Observatório de Favelas e o LAV-Uerj (Laboratório de Análise da Violência da Universidade do Estado do Rio de Janeiro).

Às vezes me pergunto por que continuo dedicando os meus dias aos programas sociais, mesmo em um contexto político capaz de revirar os estômagos mais viris. A resposta sempre vem temperada por um misto de esperança de valorização da vida e intolerância à cumplicidade covarde. Por isso penso que os protagonistas sociais têm o dever diário de regar de forma carinhosa e disciplinada as suas causas. Deixá- las visíveis, nítidas, ao alcance dos olhos e almas. Trabalhar na área social é uma forma de transformar em realidade os sonhos que sonho em se tratando de sociedade, de sementes e de frutos. Quanto mais gente sonhando junto os sonhos inadiáveis, maior a chance de noites bem dormidas, sem pesadelos que põem em cheque a condição humana.

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