Feijuca de almoço, sonho de sobremesa

Por: Felipe Mello, Roberto Ravagnani
01 Março 2012 - 00h00
Há alguns dias saí para almoçar com os pensamentos voltados às tantas atividades que preciso empreender neste momento da minha pesquisa de mestrado. Meu objeto de estudo é o lugar da ética na formação do jornalista. Saí da faculdade e caminhei pela região da Bela Vista, buscando escapar do circuito gastronômico da Avenida Paulista. Após descer alguns quarteirões pela Alameda Joaquim Eugênio de Lima, um restaurante abotecado ou um boteco arrestaurantado me chamou a atenção. Mesas postas na calçada, taxistas conversando, garçom simpático ajustando as coisas. Num dia quente de primavera, depois de quatro horas de aulas matutinas, decidi me acomodar naquele lugar prosaico e acolhedor.
Uma boa birosca não pode ter como prato principal da quarta-feira algo diferente da feijoada. Nem precisei do cardápio para desejá-la, uma vez que a mesa ao meu lado estava habitada por quatro rapazes absolutamente entregues aos prazeres do feijão preto, couve cozida, arroz soltinho, farofa e o temido e difamado torresminho. Comiam sorrindo. Talvez este seja o melhor termômetro para medir a satisfação com a boia. Como eu adoro sorrir, pedi a fejuca.
Enquanto o garçom amigão trazia os apetrechos e o kit suíno, observei que, sentado na calçada à minha frente, estava um catador de latinhas. Vestia uma camisa vermelha desbotada com a sigla de algo que me lembrava alguma central sindical. Possivelmente a ganhara por doação ou por ter participado de alguma manifestação, daquelas que espalham palavras de ordem e que raramente promovem verdadeiras e duradouras mudanças na vida de pessoas como aquele personagem. Ele tinha uma espécie de azia no olhar. Não percebi rancor na forma como mirava o horizonte, apenas algo próximo à categoria da desesperança.
Eu estava com fones no ouvido naquele momento, que tocavam a versão em áudio da participação da Susan Boyle naquele programa de talentos gringo. Você deve se lembrar dela. A quase senhora gorduchinha que assombrou o mundo com o seu talento, calando olhos preconceituosos que, quando a viram pela primeira vez, riram sentados no colo do escárnio. Em um momento da música ela canta assim, e aqui traduzo livremente para o português: “eu sonhei um sonho em que minha vida seria bem diferente deste inferno que estou vivendo”. Embora não fosse uma criação dela, parecia autoral, ou pelo menos algo com que ela se identificava bastante, tamanha a verdade que voava pelo ar com a sua voz. Susan Boyle espantou o mundo com seu talento. O homem à minha frente parecia querer espantar a fome.
Quais sonhos ele sonhara durante a sua vida, especialmente em sua infância? Dificilmente fora o que ele estava vivendo. Posso estar absolutamente equivocado, motivado pela pretensiosa ideia de que podemos compreender totalmente o outro, sem atravessar a ponte e chegar perto de verdade. De qualquer forma, não conseguia parar de olhar para ele enquanto a música, que faz parte da obra “Os miseráveis”, chegava ao seu final. Minha feijoada chegou, farta e cheirosa. Antes de o garçom sair de perto de mim, pedi a ele um favor: que preparasse uma quentinha e entregasse ao homem que ainda estava sentado no meio-fio quente. Pedi ainda que não revelasse quem oferecera a gentileza; não queria que o homem se sentisse na obrigação de agradecer, uma vez que isso poderia expô-lo ainda mais.
Instantes depois, a quentinha foi entregue ao seu destinatário. Olhei de rabo de olho, buscando não ser denunciado por mim mesmo. O homem agradeceu sorrindo ao garçom, que também parecia feliz por participar daquela trama humana. Na volta, piscou para mim, numa espécie de código secreto de parceiros de uma empreitada bem-sucedida. A feijoada estava ótima. O rango que ofereci ao distinto desconhecido também parecia saboroso. Ele comia com gosto. Terminou antes de mim, pois eu comi devagar pensando naquela situação e também em outras coisas que teria de resolver durante a tarde. Provavelmente ele pensava nas muitas latinhas que ainda teria de recolher até o final do dia. Passando ao meu lado, qual não foi a minha surpresa quando o homem parou e disse baixinho:
- Obrigado, meu irmão, que todos os seus sonhos se realizem.
Ele seguiu rua acima. Instantes depois eu também segui, após um almoço acompanhado de alguém que me desejara exatamente o que eu desejava a ele.

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