Energia limpa, consciência limpa

Por: Mauro Zeppelini, Marcio Zeppelini
01 Janeiro 2010 - 00h00

Recentemente, o Brasil viveu algumas horas na escuridão. O apagão que atingiu 18 Estados no último mês de novembro reanimou as já calorosas discussões sobre a infraestrutura do país para o esperado crescimento econômico dos próximos 10 ou 15 anos, alavancado também pelos eventos esportivos que sediará nesse período.

Com o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), o país pretende investir R$ 406 bilhões somente no quesito geração de energia. Daí vem a pergunta: qual é o melhor investimento em geração de energia que o Brasil deve aplicar? Entre tantas alternativas, o principal quesito para a tomada decisão, sem dúvida, é a de obtermos energia limpa, descartando qualquer hipótese em termoelétricas, que aumentam a emissão de gases, por exemplo.

Resta optar por energias renováveis – aquelas que a natureza nos dá sem cobrar nada, retiradas da energia de ventos, mares, rios ou sol.

O problema é que, na maioria dessas opções, a relação “custo investido/megawatts gerados” não é tão atraente, como no caso da energia solar, com alto preço das fotocélulas. “Não há como pensar em solucionar a demanda energética brasileira sem se debruçar em um mapa hidrográfico e não perceber, ou simplesmente desconsiderar, o potencial energético que temos com a hidroeletricidade”, afirma Ricardo Marcio Martins Alves, gerente de

Sustentabilidade da Santo Antônio Energia, empresa responsável pela construção da Usina Santo Antônio, no Rio Madeira, Estado de Rondônia.

A usina, há um ano em construção e prevista para iniciar a geração de energia já em dezembro de 2011, será a sexta maior hidrelétrica do país e gerará cerca de 3.150 megawatts. O problema é que defender a construção de uma usina hidroelétrica não é nada fácil, especialmente quando se fala no impacto ambiental da obra, estimulando as longas e antigas discussões sobre os efeitos desse tipo de intervenção na natureza.

Sob tal ótica, vê-se que a construção dessa nova usina no norte do país é uma obra diferenciada, pois tem como lema principal a sustentabilidade, não comprometendo recursos futuros e recompensando todos os danos ambientais, sociais e econômicos gerados.

Atualmente, novas tecnologias foram desenvolvidas a fim de minimizar, ou até zerar, os impactos na natureza. Um exemplo é o canal de migração para peixes, já aplicado em diversos equipamentos existentes no país. Ele permite a passagem e desova dos peixes rio-acima, interferindo menos no habitat e comportamento dos animais.

Tecnologias como essas ainda são recentes e, infelizmente, não estão presentes na maioria das 776 usinas hidroelétricas brasileiras, responsáveis por praticamente 70% da energia consumida internamente. Somente nos projetos mais atuais é que esse tipo de preocupação passou a fazer parte da rotina dos engenheiros e governantes.

Na Usina Hidrelétrica (UHE) Santo Antônio foram escolhidos processos que interferissem o mínimo possível na execução da obra. Um deles foi a decisão de construir a barreira com a técnica conhecida como “fio d’água”, com turbinas que trabalham na horizontal e diminuem a necessidade de se ter um grande desnível entre a região alagada e o leito original do rio. Para se ter uma ideia, a Usina de Itaipu tem 196 metros de desnível, enquanto a UHE Santo Antônio terá sua barragem com apenas 14 metros acima do nível normal do Rio Madeira.

Com isso, o impacto ambiental é infinitamente menor, pois a área a ser alagada é um pouco maior do que o normal em épocas de cheia. Um comparativo alarmante pode ser feito com a Usina Balbina, construída na década de 1970 no Estado do Amazonas, onde foram alagados 2.360 mil km². A nova obra alagará 110 km² e produzirá 12 vezes mais energia (veja quadro). “Aquilo é uma aberração. Não houve qualquer preocupação com a degradação do meio ambiente. Faz-se uma barreira e se alaga, sem se importar com o que ficará por baixo”, revolta-se Valdemar Camata Jr., relações institucionais da Odebrecht, principal integrante do consórcio responsável pela construção da barragem. Na técnica fio d’água, após todo o trauma da obra em si, que deve levar o mínimo de tempo possível – neste caso, sete anos –, o rio volta a ter sua vida próxima do que tinha antes. “O rio continua passando, não queremos que fique parado, represado”, completa Camata.

A responsabilidade social do consórcio construtor da UHE Santo Antônio vai além daquele permeado pelos órgãos que definem o que pode ou não ser feito. Uma série de estudos de impacto na comunidade em torno da barragem e da população ribeirinha do Rio Madeira afetada pelo consequente alagamento de margens foi realizado e será devidamente recompensado, inclusive em suas atividades de subsistência, como o deslocamento da produção agrícola.

  • Dentre algumas das ações tomadas para a redução de todo impacto gerado pela obra, destacam-se:
  • População ribeirinha: 1.130 famílias serão removidas e realocadas em novos bairros construídos de forma inteligente e com infraestrutura de saúde, educação, lazer e saneamento, benefícios que não existiam nas comunidades legítimas. Seis meses de negociações com os líderes comunitários prezaram principalmente o bem-estar das famílias;
  • Desmatamento: para dar lugar ao reservatório da usina, o desmatamento de 111 mil km2 foi mapeado pelo Ibama. Além disso, foram colhidas sementes e as mudas foram preparadas para replantio em outras áreas. A madeira é toda aproveitada e, após o desmonte dos canteiros de obras, a vegetação será recomposta com a mesma flora existente;
  • Fauna aquática: o comportamento de mais de 700 espécies de peixes da região foi estudado por um período superior a um ano. Serão monitorados por pelo menos dez anos após a obra para que se garanta o estoque pesqueiro com a mesma quantidade, qualidade e diversidade;
  • Fauna terrestre: todos os animais capturados são examinados e soltos em um curto espaço de tempo, respeitando a demarcação de território das espécies. O enchimento dos reservatórios, ao final da obra, será realizado em 15 dias (cerca de um metro por dia) para que a migração dos animais seja natural. Equipes de biólogos estudam desde já o comportamento desses animais e fazem o resgate do canteiro de obras, a fim de devolvê-los à natureza o mais rápido possível;
  • Fluxo de sedimentos e qualidade da água: são monitorados antes, durante e depois da implantação da usina a fim de manter a mesma característica do rio após o início das atividades da hidrelétrica. A obra é dotada de uma estação para o tratamento do esgoto gerado. Esta medida atende todo o complexo e evita a descarga de dejetos no Rio Madeira;
  • Legado socioeconômico: ao contrário de outras obras de grande porte como esta, a mão de obra é 80% local, o que fortalece a economia durante e após a conclusão da obra, com a geração de negócios e empregos indiretos;
  • Reciclagem: todo o lixo gerado é tratado e/ou reciclado, dando a destinação correta aos resíduos.

Sabemos que o impacto socioambiental existe. Porém, se todas as obras conseguirem reduzi-lo ao máximo e estabelecerem programas de compensação a fim de neutralizá-lo, o crescimento do Brasil será bem menos traumático.

População local é capacitada

Em grandes obras civis, na maioria das vezes, é necessário o deslocamento de milhares de trabalhadores de base para o local da obra. O impacto social que isso causa é tremendo, devido ao próprio inconveniente da migração.

Nesta obra, a Odebrecht e a Andrade Gutierrez, empresas responsáveis, resolveram usar outra estratégia: a de capacitar previamente moradores locais a fim de contratar mão de obra local. “Muitos deles eram analfabetos funcionais e saíram do programa, após mais de 200 horas de treinamento, como cidadãos com profissão e sorriso no rosto”, comemora Antônio

Cardili, responsável pelo programa. Cardili criou e implantou o projeto há três anos, antes mesmo de sair a licença ambiental para a execução da obra.

O programa, batizado de Acreditar!, já formou 5 mil pessoas e tem, hoje, os cargos de operadores de máquinas, eletricistas, armadores, carpinteiros, entre outras funções necessárias à execução da obra. Dentre eles, 12% do efetivo é preenchido pela força feminina, mulheres que ocupam posições antes exercidas apenas por homens, como pedreiros, motorista de máquinas pesadas e caminhões.

“Não é um projeto social, não é assistencialismo. É negócio. Mas um negócio voltado para a sustentabilidade, que deixa um legado de mão de obra qualificada na região após a obra”, explica Cardili.

Tudo o que você precisa saber sobre Terceiro setor a UM CLIQUE de distância!

Imagine como seria maravilhoso acessar uma infinidade de informações e capacitações - SUPER ATUALIZADAS - com TUDO - eu disse TUDO! - o que você precisa saber para melhorar a gestão da sua ONG?

Imaginou? Então... esse cenário já é realidade na Rede Filantropia. Aqui você encontra materiais sobre:

Contabilidade

(certificações, prestação de contas, atendimento às normas contábeis, dentre outros)

Legislação

(remuneração de dirigentes, imunidade tributária, revisão estatutária, dentre outros)

Captação de Recursos

(principais fontes, ferramentas possíveis, geração de renda própria, dentre outros)

Voluntariado

(Gestão de voluntários, programas de voluntariado empresarial, dentre outros)

Tecnologia

(Softwares de gestão, CRM, armazenamento em nuvem, captação de recursos via internet, redes sociais, dentre outros)

RH

(Legislação trabalhista, formas de contratação em ONGs etc.)

E muito mais! Pois é... a Rede Filantropia tem tudo isso pra você, no plano de adesão PRATA!

E COMO FUNCIONA?

Isso tudo fica disponível pra você nos seguintes formatos:

  • Mais de 100 horas de videoaulas exclusivas gratuitas (faça seu login e acesse quando quiser)
  • Todo o conteúdo da Revista Filantropia enviado no formato digital, e com acesso completo no site da Rede Filantropia
  • Conteúdo on-line sem limites de acesso no www.filantropia.ong
  • Acesso a ambiente exclusivo para download de e-books e outros materiais
  • Participação mensal e gratuita nos eventos Filantropia Responde, sessões virtuais de perguntas e respostas sobre temas de gestão
  • Listagem de editais atualizada diariamente
  • Descontos especiais no FIFE (Fórum Interamericano de Filantropia Estratégica) e em eventos parceiros (Festival ABCR e Congresso Brasileiro do Terceiro Setor)

Saiba mais e faça parte da principal rede do Terceiro Setor do Brasil:

Acesse: filantropia.ong/beneficios

PARCEIROS

Incentivadores
AudisaDoação SolutionsDoritos PepsicoFundação Itaú SocialFundação TelefônicaInstituto Algar de Responsabilidade Social INSTITUTO BANCORBRÁSLima & Reis Sociedade de AdvogadosQuality AssociadosR&R
Apoio Institucional
ABCRAbraleAPAECriandoGIFEHYBInstituto DoarInstituto EthosSocial Profit
Parceiros Estratégicos
Ballet BolshoiBee The ChangeBHBIT SISTEMASCarol ZanotiCURTA A CAUSAEconômicaEditora ZeppeliniEverest Fundraising ÊxitosHumentumJungers ConsultoriaLatamMBiasioli AdvogadosPM4NGOsQuantusS&C ASSESSORIA CONTÁBILSeteco Servs Tecnicos Contabeis S/STechsoup