Cadê a Amazônia? O fogo comeu...

Por: Dal Marcondes
01 Setembro 2010 - 00h00

Ao que parece, 53% do território brasileiro desapareceu. Quase não se ouve falar dele e os políticos que querem ser governantes pouco falam sobre isso. Aparentemente, os marqueteiros de plantão aconselham não tocar no assunto, afinal, o debate sobre o Código Florestal já mostrou que esse é um tema espinhoso. Amazônia tem poucos votos. São apenas 25 milhões de habitantes e talvez apenas a metade em idade de votar. Então, é melhor concentrar a atenção nas grandes cidades do Sul e Sudeste. Algumas delas com a mesma quantidade de votos de toda a Amazônia.

Durante o mês de agosto, mais de 20 mil focos de incêndio surgiram em regiões do bioma Amazônia. Os jornais e TVs apontaram o fato como uma tragédia inevitável, pouco antes de darem ao público informações sobre o recorde da loteria ou a vida de um famoso. O fogo avança sobre áreas que deveriam ser preservadas ou trabalhadas para ter um manejo mais eficaz. Queima as raízes de um desenvolvimento sustentável para a região. Em 3 hectares de floresta existe mais vida e possibilidades de desenvolvimento da Amazônia do que em mil cabeças de gado, que precisam, cada uma, de 3 hectares para viver. Mil hectares alimentam apenas 300 cabeças de gado, que não forma sequer uma grande criação.

Empresas supermercadistas já pressionaram os frigoríficos para acabar com essa insanidade de criar gado de forma tão primitiva e sem valor agregado. No entanto, não se questiona a quem interessa manter esse modelo de negócios neolítico.

Os frigoríficos prometem rastrear o gado para garantir que a carne que chega às mesas dos brasileiros não vem de áreas criminosamente desmatadas. Mas não aceitam auditorias externas para provar que estão fazendo isso. O fato é que os grandes frigoríficos brasileiros estão se tornando os maiores do mundo, com ramificações em todos os países produtores de carne. E de onde vem o capital para isso? Bom, uma parte do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Outra parte vem dos pastos que surgem após as queimadas. O boi barato da Amazônia é o mesmo que pressiona para baixo o preço da arroba de carne nos mercado do Sul-Sudeste. Ou seja, os pecuaristas que investem em tecnologia, melhoramento genético e saúde animal perdem dinheiro porque um grupo de oportunistas, que não compraram suas terras e atuam de forma clandestina, esquentam seus bois em artimanhas com notas fiscais forjadas e colocam sua carne em condições de igualdade para disputar mercados nos grandes centros.

O fogo está comendo a Amazônia pelas bordas e todos os anos isso é dado como “acidental”. Não! Não é um acidente, é apenas o descaso de políticos e autoridades em relação a mais da metade do território brasileiro, que ainda não foi compreendido como o verdadeiro diferencial do Brasil no mundo global do século 21. O que seria do Brasil sem a Amazônia? Provavelmente um país mediano, como muitos outros ao redor do mundo, sem um protagonismo importante e a reboque de políticas regionais. Mas, com a Amazônia, o Brasil é um país relevante no cenário global, pelos serviços ambientais que a região presta ao próprio país e ao planeta. O Trópico de Capricórnio, que passa pelos Estados de São Paulo, Paraná e Mato Grosso do Sul, uma das regiões mais férteis do mundo, é o mesmo que em outros continentes atravessa desertos. Ou seja, a região mais rica do Brasil apenas não é um deserto porque a Amazônia a irriga com a umidade necessária para formar os imensos campos cultivados com cana, soja, laranja e outros cultivos. Basta olhar para o outro lado dos Andes e temos o deserto do Atacama, uma das regiões mais secas do planeta.

Candidatos e políticos hoje no poder estão calados em relação ao desastre ambiental causado pelo fogo e à crônica da tragédia anunciada que virá quando a Amazônia chegar a um tamanho que não mais permita que se continue prestando serviços ambientais ao resto do país. E ela não precisará acabar para isso acontecer. O equilíbrio entre a capacidade de a floresta se regenerar e continuar interagindo com os fluxos de umidade entre o oceano e as planícies do Centro-oeste e Sudeste pode ser rompido a qualquer momento. As secas já estão sendo maiores e mais prolongadas. São Paulo já registrou em agosto umidade relativa do ar de 10%. Já é clima de deserto.

O que mais será necessário para se criar uma força de emergência para apagar o fogo e prender culpados?

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