Brilho nos pés, brilho nos olhos

Por: Felipe Mello, Roberto Ravagnani
01 Julho 2012 - 00h00

Às vésperas do último Carnaval, no saguão do aeroporto Santos Dumont, na capital do Rio de Janeiro, escuto:
- Doutor, vamos engraxar?
O autor da pergunta é um homem jovem, magro, cabelos raspados por uma máquina, sotaque puxado. Ser chamado de doutor nessas situações me faz lembrar desses códigos sociais que misturam respeito com poder. Sou doutor apenas quando estou com meu personagem de palhaço visitando hospitais. Ali sou Dr. Raviolli Bem-te-Vi. Fora dali, ser chamado por esse título me constrange, pois denuncia a forma que o outro me vê, neste caso, marcada por um ranço histórico que divide pessoas pelo fator econômico. Mesmo com o cabeção pensando tudo isso em segundos, meu semblante deve ter demonstrado a oportunidade de continuar o papo, pois ele seguiu:
- Veio curtir o carnaval?
- Não, vim para uma reunião e volto hoje mesmo – respondi.
Foi a minha vez de perceber que ele esperava uma resposta sobre a possibilidade de engraxar meu sapato de bico fino, que raramente sai do armário para pisar o chão da rua. Topei a parada.
- O pisante fica bonitão em cinco minutos? – perguntei.
- Claro, doutor.
- Então tá bom, mas só aceito se você não me chamar assim. Doutor é só no hospital.
Ele riu, e enquanto preparava sua caixa de madeira gasta pelos pés que ali pisaram, olhou para mim e disse:
- Deve ser muito legal ser médico, né?
Como eu havia criado aquela ambiguidade, preferi silenciar e mudar o rumo da prosa.
- Qual é o seu nome?
- Ronaldo – ele respondeu.
- Como tá o serviço?
- Essa semana tá meio fraco. E agora vai chegar o carnaval e eu fico sem trabalhar.
- Por quê? – perguntei.
- O senhor já viu alguém usar sapato no carnaval? – respondeu, rindo.
Eu ri também, envergonhado pela minha pergunta tonta. Fazia todo sentido. Acabara de aprender que vida de engraxate é dureza também no carnaval.
- E o que você vai fazer no carnaval? – perguntei.
- Eu tô juntando dinheiro pra comprar umas coisas pra vender na praia. Tá chegando o aniversário da minha filha de três anos e eu queria comprar uma piscininha pra ela. O senhor tem filho?
- Tenho uma filha de doze anos, respondi.
- Vai passar o carnaval com ela?
- Assim espero.
Aquele rapaz fazia brilhar o sapato dos outros para fazer brilhar os olhos da filha. Na ausência de “doutores” portando pisantes de couro no aeroporto, o plano era juntar um capital inicial pra investir em balinhas a serem vendidas com uma margem de lucro capaz de quitar o investimento e fazer sobrar alguns tostões. Na praia, ele trabalharia na areia para garantir o banho da filha na piscina de plástico.
- Hoje eu fico aqui até fechar, pra juntar mais dinheiro. Assim consigo comprar mais coisas – contou ele, enquanto terminava seu serviço aos meus pés.
- Tomara que passe muita gente de sapato de couro – disse eu.
- Mas nem é isso que faz a diferença, senhor. A diferença é que eles me enxerguem e confiem que eu só quero trabalhar e deixar o sapato mais bonito. Sapato sujo não pega bem, né?
Outra vez, sua colocação tinha sentido. Em um dos aeroportos mais frequentados por executivos no país, não era a quantidade de sapatos que determinava o resultado do serviço do engraxate. O fator determinante, expresso por Ronaldo, era a confiança de que ele estava ali pra trabalhar, assim como os transeuntes.
- Pronto, senhor. São seis reais.
Quando ele falou o valor, imaginei quantos sapatos ele teria de engraxar ao longo do dia pra chegar a uma quantia razoável e investir nos itens que garantiriam serviço a ele durante praticamente uma semana inteira. Puxei uma nota de valor bem superior ao que ele havia me dito. Enquanto buscava o troco no bolso, eu disse:
- Pode ficar, Ronaldo. Boa sorte no carnaval. Tomara que você consiga comprar a piscina para sua pequena.
- É sério? O senhor não quer o troco?
- Não.
- Posso dar um abraço no senhor?
- Só se você parar de me chamar de senhor. Nem doutor nem senhor. Só Felipe.
Ele riu e nós nos abraçamos. Enquanto algumas pessoas passavam ao nosso lado com olhares surpresos, lembrei do título dado à cidade do Rio de Janeiro. Cidade Maravilhosa. Naquele momento, a cidade estava maravilhosa porque se tornou palco do maior espetáculo da terra: o bom encontro entre duas pessoas, ambas trabalhando, firmes e fortes, para conquistar seus sonhos e fazer o mundo brilhar mais.

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