Acordos despertos

Por: Felipe Mello, Roberto Ravagnani
01 Janeiro 2010 - 00h00

Poucos, pouquíssimos momentos têm cheiro e sabor de unidade global como as festas de final de ano. À parte diferenças de crenças e calendários que não compartilham as mesmas datas e personagens, as festas natalinas e a transição de ano aproximam as pessoas, ainda que sem grandes transformações no porvir imediato.

Acordo. Acordo. Duas palavras iguais, diferentes e novamente iguais. Como não têm acentos que as diferenciem, as duas palavras são escritas de forma idêntica. Para gastar o que acabei de pesquisar e aprender, são palavras homógrafas, pois têm a mesma grafia com sons diferentes. O que mais interessa por aqui, contudo, é que os seus significados, ainda que diversos, podem se relacionar de forma umbilical.

Que venha ao baile um mestre do acordeon, senhor Luiz Gonzaga: “e do caboclo que vive com a enxada na mão, trabalhando o dia inteiro com a maior diversão, sem invejar a ninguém, satisfeito a trabalhar, cada vez mais animado, esse teu suor pingado, grandeza e honra te dá”.

Acordar, despertar, para então estabelecer e reconhecer acordos, tratados, bulas individuais. As bulas dos remédios devem ser cada vez mais legíveis, rege a legislação. À bula individual – de redação intransferível, por sinal – deve se acrescentar ainda mais clareza, mãos apertadas do ser desperto com seus objetivos.
Aperto de mãos firmando acordos conscientes, ainda que impermanentes como a vida. Imagens fortes. Casais em uma igreja selando a cerimônia matrimonial: até a eternidade, enquanto ela durar (salve, Poetinha). Patrão e empregado que se escolhem: sejamos bem-vindos aos nossos desafios, pelo tempo que nos e os suportarmos. Amigos que se reencontram: toca aqui, mano velho, quantas saudades e confissões! Esportistas ao final de um jogo, apenas o epílogo de meses de treinamentos exaustivos: mãos coletivas extravasando as superações individuais. Na hora de comungar, palmas em concha recebendo o corpo de Cristo: renovação da fé nas vísceras de quem crê.

“Se você acha que pode ou que não pode, em ambos os casos está certo”. H. Ford
A potência do acordo é diretamente proporcional à consciência de quem o estabelece, especialmente quando a proposta é íntima. Uma armadilha observada amiúde é a confusão entre o unir das mãos em sinal de acordo e o acorrentar das mesmas em sinal de intransigência e posse. A consciência – olhe por ela – é fundamental para fortalecer os acordos, assim como gerar coragem para os ajustes necessários, ainda que dolorosos. O pior do humano acontece quando ele se aprisiona, em desacordo com o seu potencial criativo, tal qual no Mito da Caverna, de Platão. Vem a sensação de mãos se soltando, como nas cenas cinematográficas em que alguém está para cair em um abismo e alguém tenta ajudar. Quando não há acordos despertos conosco e com os outros, está anunciada a queda. Profundo vazio interior. Queda livre, presa.

Argumentos e comprovações biográficas não faltam para reiterar a tese de que conquista – e se conquista – cada vez mais quem caminha desperto, atento à missão. Não se trata de fanatismo intransigente, peso existencial, fardo às costas, pés rastejantes, ó céus, ó azar. É o caminho da coerência que se estabelece para quem está às claras com suas propostas, bússolas individuais. O filósofo e educador Mário Sérgio Cortella propõe de forma interessante que tenhamos “generosidade mental, ensinando o que sabemos; honestidade moral, fazendo o que ensinamos; e humildade inteligente, aprendendo o que ainda não sabemos.”

“Eu decidi há muito tempo não caminhar à sombra de ninguém. Se eu fracassar ou tiver sucesso, terei vivido do jeito que acredito. Não importa o que tirem de mim, não podem tirar a minha dignidade”. Whitney Houston

Tantos desejos possíveis com a chegada do novo ano. Troco todos pela clareza no que firmo comigo e com o mundo. Mais atitudes nutritivas e menos coices tóxicos. Mais neurotransmissores e menos radicais livres. Mais beijos e abraços e menos verbos errados. Mais propostas que justificativas. Mais caminhadas e menos televisão. Mais ética que covardia. Mais vida que sobrevida. São os meus votos a quem está acordado e a minha torcida para quem ainda dorme.

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