Diversificação de fontes de recursos: como sair da dependência de editais

Por: Instituto Filantropia
29 Outubro 2025 - 00h00

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No Terceiro Setor, a busca por sustentabilidade financeira é um desafio constante. Durante décadas, muitas OSCs concentraram suas estratégias de captação de recursos em editais públicos e privados ferramentas importantes, mas insuficientes para garantir estabilidade no longo prazo).

A dependência quase exclusiva desses mecanismos coloca as organizações em um ciclo de insegurança: quando o edital acaba, o projeto termina junto. Essa vulnerabilidade, além de comprometer a continuidade das ações, limita a autonomia institucional e a capacidade de planejamento estratégico. É urgente repensar esse modelo e diversificar as fontes de recursos.

Sair da dependência de editais não significa abandoná-los, mas sim reposicioná-los como uma das várias engrenagens que movem a sustentabilidade de uma OSC. A diversificação exige visão de longo prazo, cultura de inovação e investimento em relacionamento: três dimensões que transformam a captação de recursos em um processo contínuo e integrado à missão da organização. Nesse sentido, é preciso enxergar o financiamento não como um fim em si mesmo, mas como parte de uma estratégia de fortalecimento institucional.

Um caminho acessível e eficaz é o investimento em eventos beneficentes. Feiras solidárias, jantares, shows, bazares e leilões têm o poder de mobilizar comunidades, gerar visibilidade e captar recursos ao mesmo tempo. Quando bem planejados, eles vão além da arrecadação pontual: tornam-se espaços de engajamento e pertencimento, criando vínculos emocionais com o público. A chave do sucesso está na autenticidade; eventos coerentes com a causa e com a identidade da organização têm maior potencial de gerar apoio recorrente.

Outro pilar estratégico são as campanhas contínuas de doação. A cultura de doação no Brasil ainda é incipiente, mas está em crescimento, especialmente entre gerações mais jovens que valorizam causas sociais e ambientais. Campanhas digitais bem estruturadas, com narrativas transparentes e prestação de contas, podem transformar pequenos doadores em apoiadores fiéis.

Plataformas de financiamento recorrente — como Apoia.se, Benfeitoria, Catarse, Kickante ou mesmo sistemas próprios — permitem que a organização mantenha um fluxo previsível de entrada de recursos. A constância, mais do que o valor individual das doações, é o que constrói estabilidade financeira.

Uma variação dessas estratégias é a criação de clubes de doadores, um modelo que alia pertencimento e exclusividade. Ao oferecer benefícios simbólicos, como newsletters especiais, encontros anuais ou acesso a relatórios exclusivos, as OSCs fortalecem o vínculo emocional dos doadores com a causa.

O objetivo é transformar a contribuição em uma experiência de engajamento, não apenas em uma transação financeira. Um clube de doadores bem estruturado pode ser o embrião de uma comunidade ativa de defensores da organização e, em muitos casos, sua principal base de sustentação.

Há também um campo em plena expansão: os produtos sociais. Trata-se de desenvolver ou comercializar itens cuja venda financia diretamente as atividades da OSC. Camisetas, livros, alimentos artesanais, serviços educativos ou experiências culturais são exemplos possíveis.

O diferencial está na coerência com a missão institucional: quanto mais o produto dialogar com a causa, maior será seu impacto simbólico e comercial. Além disso, esse modelo contribui para a autonomia financeira e para o fortalecimento da marca social da organização.

Por fim, não se pode subestimar o poder das parcerias empresariais. O investimento social privado tem se sofisticado, e muitas empresas buscam projetos consistentes e transparentes para associar suas marcas a causas relevantes. Aqui, o papel do gestor é estratégico: deve-se pensar a relação com empresas não apenas como patrocínio, mas como aliança de valor compartilhado. Projetos de voluntariado corporativo, programas de co-branding ou fundos de investimento social conjunto são exemplos de parcerias que geram impacto mútuo e duradouro.

A transição para um modelo diversificado de captação não acontece da noite para o dia. Requer planejamento, capacitação e uma mudança de mentalidade. É fundamental que as OSCs mapeiem suas potencialidades, definam metas realistas e construam uma estratégia híbrida, combinando diferentes fontes de recursos de acordo com seu perfil e contexto. O foco deve estar na sustentabilidade institucional, e não apenas na execução de projetos pontuais.

Em última análise, diversificar é exercer autonomia. Quando uma organização depende de um único tipo de financiamento, ela corre o risco de moldar suas ações às exigências de quem financia, e não às necessidades da comunidade que serve. Ao ampliar suas fontes, a OSC fortalece sua identidade, aumenta sua resiliência e se torna protagonista do próprio destino.

O desafio está lançado aos gestores e captadores: transformar a captação de recursos em uma estratégia permanente de relacionamento, inovação e propósito. Afinal, uma organização sustentável é aquela que consegue caminhar com as próprias pernas — mas que sabe, com sabedoria e sensibilidade, quando e com quem é melhor caminhar junto.

Imagem: KStudio / Freepik

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