Por Amanda Maciel.
*Por Ana Carolina Garini
No Brasil, falar sobre filantropia ainda provoca reações mistas. Para alguns, trata-se de um gesto altruísta nobre, capaz de transformar realidades. Para outros, uma prática que desperta desconfiança, seja pelo temor de mau uso dos recursos, seja pelo estigma de que o terceiro setor é ineficiente ou pouco transparente. Essa percepção, infelizmente, ainda é um obstáculo para ampliar o investimento social privado em áreas estratégicas, como a educação.
A realidade educacional brasileira impõe urgência ao tema. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), cerca de 9 milhões de jovens entre 14 e 29 anos não concluíram o ensino médio e aproximadamente 20% desse grupo estão fora da escola e do mercado de trabalho (fonte). O Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) 2023 revela que, apesar de avanços nos anos iniciais do ensino fundamental, o ensino médio permanece estagnado, com média nacional de 4,3 pontos, distante da meta de 5,2 estabelecida pelo Ministério da Educação.
Esses números não são apenas estatísticas: representam trajetórias interrompidas, talentos desperdiçados e impactos diretos na produtividade e competitividade do país. Diante desse cenário, a filantropia estratégica se apresenta como um caminho para acelerar soluções. Mas há um desafio geracional.
Hoje, o perfil predominante dos grandes filantropos brasileiros é formado por pessoas de idade avançada. São indivíduos que, ao longo de décadas de sucesso empresarial, decidiram devolver parte de sua riqueza à sociedade. Essa contribuição é inestimável. No entanto, se quisermos criar impacto em escala, precisamos ampliar essa base de apoiadores e incluir uma nova geração de líderes, especialmente empreendedores, fundadores, investidores e todo ecossistema que atua em inovação.
A experiência de organizações que captam recursos para investir em educação mostra que esse público existe, mas ainda está sub-representado.
O momento é oportuno. O cenário global de startups e capital venture está menos voltado a fusões e aquisições, o que abre espaço para novos tipos de investimento. Ao mesmo tempo, cresce o interesse por causas que combinem retorno social e relevância pública.
Mas não basta convidar: é preciso romper barreiras culturais. No Brasil e em outros países da América Latina, persiste a percepção de que doar é “perder” ou que recursos destinados a projetos sociais correm risco de mau uso. Segundo estudo do Charities Aid Foundation (CAF), o Brasil ocupa apenas a 86º posição no ranking global de cultura de doação. Esse cenário contrasta com nações desenvolvidas, onde incentivos fiscais e práticas consolidadas de filantropia fazem parte do DNA empresarial.
Outro fator é a visão distorcida sobre meritocracia, especialmente entre os ‘founders’, que normalmente começam algo já com grandes recursos, diferentemente dos empreendedores, que na maioria das vezes criaram o negócio por necessidade. Muitos ainda acreditam que todos partem das mesmas condições, ignorando que a desigualdade de oportunidades é um dos maiores entraves ao desenvolvimento.
É nesse ponto que entra o conceito de filantropia estratégica, modelo que vai além do assistencialismo e busca gerar impacto mensurável e sustentável. Envolve due diligence rigorosa, métricas de resultado e uma relação próxima com os beneficiários, tratando o investimento social como parte da estratégia de negócios e não apenas como ação de marketing ou filantropia pontual.
Outra mudança necessária é incentivar a transparência e a comunicação sobre as doações. Embora muitos grandes doadores preferem agir de forma discreta, o silêncio acaba limitando o efeito multiplicador que suas histórias poderiam gerar. Quando nomes de peso do mercado divulgam que estão apoiando causas relevantes, inspiram outros a fazer o mesmo e ajudam a quebrar o preconceito contra o terceiro setor.
Há, claro, desafios adicionais. O fenômeno do greenwashing e o ceticismo em torno de práticas ESG fazem com que alguns empresários recuem. Outros resistem à ideia de se associar a ONGs, preferindo o termo “instituição” para evitar estigmas. Ainda assim, a combinação de governança sólida, comunicação clara e resultados concretos pode mudar essa percepção.
O Brasil está diante de uma escolha: continuar com uma filantropia concentrada em poucos nomes de idade avançada ou construir uma nova geração de filantropos que una capital financeiro, conhecimento e rede de contatos para transformar a educação. Se optarmos pelo segundo caminho, não apenas aceleramos o avanço educacional, mas também fortalecemos a cidadania e a competitividade nacional.
A transformação exige urgência. Cada ano perdido é uma geração de estudantes que não terá acesso à educação de qualidade e um custo alto demais para o país. A nova geração de líderes de negócios precisa entender que investir em educação não é caridade: é uma estratégia inteligente para garantir o futuro do Brasil.
*Ana Carolina Garini Scarcello é CEO da ONG ZeroDois pela Educação, organização apoiada pela Fundação Lemann, e sócia-fundadora da CON. Atua como mentora na ABStartup e é engajada em causas sociais, com foco no apoio a pacientes oncológicos.
Esse conteúdo foi originalmente publicado por OngNews, em 12 de Setembro de 2025.
Imagine como seria maravilhoso acessar uma infinidade de informações e capacitações - SUPER ATUALIZADAS - com TUDO - eu disse TUDO! - o que você precisa saber para melhorar a gestão da sua ONG?
Imaginou? Então... esse cenário já é realidade na Rede Filantropia. Aqui você encontra materiais sobre:
(certificações, prestação de contas, atendimento às normas contábeis, dentre outros)
(remuneração de dirigentes, imunidade tributária, revisão estatutária, dentre outros)
(principais fontes, ferramentas possíveis, geração de renda própria, dentre outros)
(Gestão de voluntários, programas de voluntariado empresarial, dentre outros)
(Softwares de gestão, CRM, armazenamento em nuvem, captação de recursos via internet, redes sociais, dentre outros)
(Legislação trabalhista, formas de contratação em ONGs etc.)
Isso tudo fica disponível pra você nos seguintes formatos:
Saiba mais e faça parte da principal rede do Terceiro Setor do Brasil: