É no vazio dos jarros que se põe as flores

Por: Felipe Mello, Roberto Ravagnani
19 Dezembro 2012 - 23h19

Certa vez ouvi um provérbio oriental que me causou uma estranheza inicial, seguida de uma honesta sensação de coerência. Ele sugere que é no vazio do jarro que se põe as flores. Esvaziar para preencher. Morrer para nascer. Nutrir a metamorfose, ou ainda, em sua etimologia, permitir que a forma evolua.
Pois bem. Este texto nasce em um desses momentos em que a luz é dirigida à conclusão de ciclos e ao início de novas jornadas. Em meados de 2012, o Canto Cidadão, ONG que ajudei a fundar e ainda dirijo, celebra dez anos de existência. Ainda, a revista que abraça estas palavras assume novas características, mantendo o jarro e plantando novas sementes. Por fim, mas não menos importante, nasce o Instituto Filantropia, motivado pelo apreço por causas relacionadas ao desenvolvimento humano e social.
Lembrando que comemorar é lembrar em conjunto, sinto que são muitos os motivos de celebração do vivido, fator primordial da motivação e inspiração para o porvir. Marguerite Yourcenar, ensaísta belga, lembra que o nosso verdadeiro local de nascimento é quando, pela primeira vez, lançamos um olhar sincero sobre nós mesmos. Se o primeiro olhar sincero é o parto, os seguintes olhares sinceros são parte de nossa educação e desenvolvimento. A cada nova mirada repleta dos necessários lucidez e afeto, percebemos o quanto podemos melhorar. Talvez sejamos muito menos do que afirmamos no tempo presente, mas possamos muito mais do que imaginamos no tempo futuro. Para tanto, repito: há de se esvaziar para plantar.
Mais palavras vindas da sabedoria popular: um homem caminhava por uma estrada quando, ao longe, percebeu dois trabalhadores rurais executando uma tarefa. Intrigado pelo procedimento, parou para observar mais atentamente. Surpreendeu-se até se sentir incomodado com o que via. Decidiu se aproximar para ter certeza daquilo que seus olhos não queriam acreditar. Quando chegou perto, confirmou sua suspeita: um ia à frente abrindo um pequeno buraco no solo quente, enquanto o outro, um passo atrás, fechava o buraco. “Por que vocês estão fazendo isso?”, perguntou o curioso transeunte. Pronta e peremptoriamente, um dos matutos respondeu: “A gente tá fazendo o nosso serviço. Não temos culpa que o colega que põe as sementes faltou”. Calor de sobra e parca luz, como já escreveu Eduardo Giannetti em seu livro “Felicidade”.
Quando se completa um ciclo, ou ainda, quando se sente que um ciclo se completou e as novidades pedem espaço, parece saudável retornar às causas, especialmente para não ser presa fácil das consequências. A velocidade só parece se justificar se trouxer consigo uma justa relação com a direção que se supõe correta. Um comercial de peça automobilística dizia que a potência não é nada sem controle. Talvez a alta velocidade destituída da direção correta construa algo com a mesma natureza nociva. A tristeza dos resultados dessas fórmulas parece se dar por duas vias: autoengano, por teimar em não perceber que o caminho traçado foi abandonado (normalmente as justificativas aparentemente nobres não sou poucas); perda de coerência pela entrega à repetição, ou seja, o abandono da direção proposta gerando o mais do mesmo (tão nocivo quanto quando políticos que se opõem há décadas decidem se abraçar sarcasticamente para vencer uma eleição).
Desde menino eu e a montanha russa não nos entendemos bem. Poucos episódios de experimentação me causaram profundo arrependimento. Entretanto, a reconciliação veio em forma de analogia. Agradeço ao brinquedo radical pela possibilidade de perceber a imagem que descrevo agora. Suponho que o leitor já tenha passado dos 18 anos de vida. Assim, já estamos, uns há mais tempo que outros, imersos na vida adulta, repleta de desafios e oportunidades. Memórias, dilemas e decisões misturadas. A subida da montanha russa se parece com a infância e a adolescência. O tempo parece preguiçoso, instigando o nosso desejo de chegar à maioridade. Quando, enfim, entramos na ciranda das responsabilidades inerentes a quem é gente grande, parece que estamos na parte da descida do brinquedo, com velocidade crescente, curvas acentuadas, viradas de ponta cabeça, sustos, emoções, medo, gozo. Se a rotina do que chamamos de modernidade ou pós-modernidade é marcada pela aceleração contínua (ou liquidez, na expressão de Zygmunt Bauman), resta a possibilidade de torná-la significativa pela observação e, sempre que necessário, pela humildade inteligente e corajosa de se ajustar a direção, custe o que custar.
Jarros que se acomodam em estantes bonitas podem se tornar masmorras para a beleza virtuosa das flores, plastificando-as. Corre-se o risco, enfim, de se gravar no frasco, gradativamente, as incômodas palavras de meu poeta favorito, um certo Pessoa que viveu em terras lusitanas: “às vésperas de não partir nunca ao menos não há que arrumar malas”. Como não desejo tal sina medíocre a ninguém, proponho um brinde ao novo, de novo e sempre.

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