“Setor Dois e Meio” o ideal para sua instituição

Por: René Steuer
01 Novembro 2008 - 00h00

A nomenclatura clássica que tradicionalmente é encontrada para distinguir os setores é:

  • Primeiro Setor: governo
  • Segundo Setor: empresas com fins de lucro
  • Terceiro Setor: organizações sem fins de lucro

As fronteiras entre os setores acima, em várias partes do mundo, tendem a ficar crescentemente nebulosas. O governo confia às ONGs tarefas na área de educação e saúde. Algumas empresas criam suas próprias fundações e abraçam diretamente diversas causas sociais. Organizações sem fins lucrativos enveredam por ações geradoras de renda, a fim de obterem recursos necessários para o cumprimento de seus projetos.

Existem instituições do Terceiro Setor que desenvolvem padarias, oficinas de artesanato, hospitais de bonecas e outros. Cada organização está buscando seus objetivos e usando de criatividade e inventividade. No caso do Terceiro Setor, é perfeitamente válido que as entidades se beneficiem de ações e atividades diversas para atingir o objetivo de sua missão. Isso deve ser sempre feito dentro da ética e legalmente, nunca denegrindo o nome das organizações e, sim preservando-o e valorizando-o. Afinal, os dirigentes de uma entidade sempre mudam, diferentemente da entidade, que permanece a mesma. Esta é que precisa ser bem fortalecida, buscando sua sustentabilidade.

É comum observar, principalmente em ONGs de diversos países da América Latina, a relativa facilidade em elaborar projetos, em termos de conceito e justificativa social. Muitas vezes, elas têm uma relação próxima ao mundo acadêmico. A maioria peca, porém, na construção lógica de um “plano de negócios”. Igualmente carecem de conceitos mais profissionais de gestão – essa é uma das maiores necessidades que podem ser facilmente observadas nas organizações, principalmente nas menores. Há muita boa vontade, mas para o êxito, é preciso muito mais que isso, é necessário eficiência.
Nesses itens, as organizações do Terceiro Setor têm muito mais a aprender com as práticas do Segundo Setor; por isso a expressão “Setor Dois e Meio” é o que se recomenda como ideal, para que seja considerado por muitas instituições.

Esta mescla entre o Segundo e o Terceiro Setores é como misturarmos as funções do cérebro, ou usarmos, em conjunto, seus dois lados. Cientistas descobriram que o lado esquerdo é o responsável pelo raciocínio lógico e analítico, ligado a considerações objetivas e desapaixonadas. Já o lado direito permite um raciocínio não-linear, espontâneo e intuitivo mais relacionado com o artístico, emocional e subjetivo. O que se coloca, então, é que devem-se usar, harmonicamente, os dois lados do cérebro. Possivelmente, a maioria das pessoas ligadas ao Terceiro Setor privilegia o emocional e o subjetivo. Por isso, é proposto que as organizações tragam para suas atividades outros componentes ligados ao lado esquerdo do cérebro, ou seja, ao raciocínio lógico, para se tornarem mais profissionais.

Mais especificamente, é importante continuar utilizando elementos normalmente ligados ao Terceiro Setor. Alguns exemplos:

  • Coração: item essencial para motivar os colaboradores diretos e doadores em potencial. Deve-se começar por isso. Como diz Ken Burnett, autor do livro “Relationship Fundraising”, “primeiro devemos tocar o coração, depois a carteira”.
  • Emoção: o entusiasmo é componente chave para o sucesso. O amor alimenta e energiza os colaboradores da instituição.
  • Missão: importante que seja clara e inspiradora. Explica porque a organização existe.
  • Lado humano: a maioria das causas das organizações (além do meio ambiente) está ligada a pessoas. Segundo Peter Drucker, autor da obra Administração das Organizações sem Fins Lucrativos, o produto da maioria das entidades do Terceiro Setor é um ser humano modificado com melhor educação, saúde e consciência de seus direitos cívicos.
  • Idealismo: a causa e sua concretização fazem com que as pessoas superem isso.

O que pode ser útil e necessário para as ONGs e normalmente se encontra com excelência no Segundo Setor?

  • Preparo: fazer as coisas com planejamento prévio, pensando na seqüência inteligente das atividades e deixando de lado o “acaso”. Considerar, como no exercício SWOT (FOFA, em português), o entorno externo e interno da entidade, definindo ameaças e oportunidades do mundo exterior e identificando forças e fraquezas dentro da instituição. Desta análise devem nascer as ações prioritárias da entidade, que se transformarão nas principais atividades do ano. As organizações devem cuidar para não iniciar muitas atividades, pois correrão o risco de não terminá-las. A utilização dos seus recursos humanos deve ser cuidadosamente planejada também.
  • Objetividade: comunicar com poucas palavras o que se deseja, levando em conta cada público-alvo.
  • Orçamento: projetar com cuidado entradas e desembolsos. Analisar o real contra o estimado e entender a razão das variações, com o intuito de efetuar as revisões necessárias.
  • Análise: estudar cada atividade e ação tomada para corrigir erros e melhorar resultados no futuro.

Profissionalismo: lembrar que continuamente deve-se buscar fazer melhor e observar o que outros fazem bem.

A paixão sem objetividade beira o irracional, e a técnica sem coração é fria, não motivando as pessoas. Por isso, deve-se buscar o equilíbrio entre a razão e a emoção. Os dirigentes das instituições precisam analisar sua posição em relação a isso e identificar os recursos de que necessitam para crescer em seu desenvolvimento.

Quando confrontadas, é comum que as entidades questionem como poderão obter os recursos acima mencionados, principalmente se não dispõem de músculo financeiro para contratações. Nada surpreendente, pois a grande maioria das ONGs no Brasil possui nenhum ou um funcionário remunerado. Novamente, é recomendada a consideração de possibilidades que fortalecem mais ainda a simbiose entre o Terceiro e o Segundo Setores. A sugestão é que a organização faça uma auto-análise de sua situação e determine o que lhe falta ou em que precisa melhorar.

Esta análise pode identificar carências em gestão, profissionalização, apoio legal, fiscal, marketing, voluntariado, administração de pessoal etc. A organização deve se aproximar de alguma empresa que já seja parceira, esteja geograficamente próxima ou que já tenha apoiado causas sociais e dialogue com a mesma buscando uma “troca”. A empresa proveria tempo de funcionários com conhecimentos no item desejado pela ONG e receberia da instituição uma parceria que enriqueceria suas ações de responsabilidade social empresarial.

Utilizar elementos do Segundo e Terceiro Setores, equilibradamente, funciona como o Setor Dois e Meio. Isso certamente aumentará a qualidade do que se faz, e será possível impactar com eficiência os mundos externo e interno. Assim, as oportunidades de captar pessoas e valores só aumentam.

Utilizar elementos do Segundo e Terceiro Setores, equilibradamente, funciona como o “Setor Dois e Meio”. Isso certamente aumentará a qualidade do que se faz, e será possível impactar com eficiência os mundos externo e interno

 

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